Evolução histórica do conceito de savana e a sua relação com o Cerrado brasileiro | |
Por Fabiana de Gois Aquino José Roberto Rodrigues Pinto José Felipe Ribeiro 10/02/2009 |
|
Agrupar
a vegetação de uma região, de um país ou do planeta em categorias de
fácil reconhecimento parece, inicialmente, uma tarefa simples.
Entretanto, os critérios, as observações subjetivas, as escalas e outras
variáveis consideradas no método de classificação adotado dificultam
que um mesmo padrão possa emergir nos diferentes sistemas propostos por
distintos autores. Embora certa uniformidade na conceituação e na
terminologia seja desejada, é muito difícil que um modelo universal
defina ou represente fielmente uma tipologia vegetacional, uma vez que
as paisagens apresentam variações e particularidades locais e regionais.
Além disso, influenciam sobremaneira no produto final da classificação,
o tamanho da área, a escala e a ordem hierárquica dos critérios e
conceitos utilizados na separação das categorias.
Para
a savana não é diferente. Talvez, de todos os tipos de vegetação, a
savana seja a mais difícil de definir, pois sua distribuição e origem
são controversas, já dizia em 1960 a geobotânica Mônica Mary Cole. A
definição de savana e a evolução histórica deste termo são polêmicas e
têm sido frequentemente colocadas em pauta nos vários fóruns de
discussões acadêmicas ao longo das últimas décadas. Apesar de bastante
debatido, o assunto ainda desperta controvérsias em função do alto
número de interpretações. Na literatura científica, são encontradas mais
de duas centenas de termos técnicos relacionados à palavra savana. Esse
elevado número está associado à grande quantidade de tipologias
vegetacionais classificadas como savana.
Escrever
em poucas páginas sobre um assunto tão extenso não é fácil. A intenção
apresentada aqui é oferecer uma visão geral das principais linhas de
pensamento e pontos de divergências, bem como apresentar a contribuição
de alguns atores envolvidos na árdua empreitada de ordenar conceitos,
visões e impressões sobre as savanas do nosso planeta. Como a literatura
aponta, embora essa discussão conceitual possa parecer inócua, ela tem
implicações práticas diretas, pois dependendo do conceito adotado, a
distribuição geográfica, a extensão da savana no mundo e a quantificação
da biodiversidade muda drasticamente, refletindo nas políticas e
estratégias para sua conservação.
Historicamente,
a evolução do conceito está associada aos critérios usados na definição
e/ou na classificação das savanas no mundo. Grande parte das definições
de savana disponíveis na literatura inclui aspectos fisionômicos,
climáticos (estacionais), latitudinais, geográficos, florísticos e
ecológicos (por exemplo: competição e fogo), além de sugerir o
importante papel do tempo geológico. Entretanto, existem variações no
peso dos critérios usados em cada um dos diferentes sistemas de
classificação, culminando, conseqüentemente, nas diferenças
terminológicas.
De
acordo com Cole, o termo savana é ameríndio (nativo do continente
americano) e foi citado pela primeira vez, em 1535, pelo historiador e
escritor espanhol Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdés em um trabalho
nas Índias, para descrever “terra que está sem árvores, mas com muita
erva alta e baixa” (Cole, 1986).
Segundo
os levantamentos realizados pelo pesquisador Bruno Machado Teles
Walter, da Embrapa, até meados do século XIX, o termo savana foi
aplicado para descrever os tipos vegetacionais desprovidos de árvores,
localizados no Caribe e na América do Sul. Esse pesquisador chamou
atenção para o fato de que “embora, atualmente (no Brasil), o público
leigo associe savana a um domínio vegetacional do continente africano (e
não sul-americano), local de morada dos grandes mamíferos do planeta,
foi somente muito tempo depois de sua origem histórica, que o termo foi
aplicado naquele continente e em outras partes do globo” (Walter, 2006).
Em
seus estudos, Walter ressaltou que o botânico e fitogeógrafo alemão
August Heinrich Rudolph Grisebach, em 1872, parece ter sido o primeiro a
usar o termo savana com significado mais difundido até o presente, ou
seja, utilizando o termo para designar paisagens com poucas árvores
espalhadas em um ambiente graminóide em outros lugares do mundo e não
apenas em paisagens da América do Sul. Posteriormente, o ecólogo alemão
Oscar Drude e o fitogeógrafo francês Andreas Franz Wilhelm Schimper
estenderam o conceito de savana para a vegetação com ocorrência esparsa
de arbustos e árvores (Drude, 1890; Schimper, 1898); seguidos por várias
outras tentativas de definir com exatidão o termo. Porém, como o termo
passou a ser aplicado em diferentes partes do planeta, distintas
definições foram incorporadas ao longo do tempo com significados até
mesmo conflitantes em função de particularidades de cada região.
Uma
grande contribuição para o entendimento sobre as savanas mundiais pode
ser creditada ao médico-ecólogo francês François Bourliére, que, em
conjunto com autoridades no tema, publicaram em 1983 o livro intitulado:
Ecosystems of the world 13: tropical savannas, mostrando as
características das savanas em todos os continentes. Para eles, existem
alguns fatores que, em conjunto, determinam a formação da savana, entre
eles as condições climáticas, edáficas, hidrológicas e geomorfológicas,
além do fogo e pastejo.
Atualmente,
o termo savana tem sido utilizado de forma ampla para designar
diferentes formações vegetacionais no mundo, muitas vezes se referindo a
conceitos conflitantes. Para as duas escolas tradicionais em estudos
ecológicos, a escola européia e a americana, a principal diferença em
termos conceituais está na área de distribuição geográfica das savanas
na Terra. Para as escolas seguidoras da corrente européia, as savanas
ocorrem na zona tropical, localizada entre os Trópicos de Câncer e de
Capricórnio (22,5º norte e sul da linha do Equador). Por outro lado,
para a corrente americana, as savanas ocorrem além da zona tropical,
estendendo-se para a zona subtropical (entre 23º e 35º ao sul do Trópico
de Capricórnio e 23º e 35º ao norte do Trópico de Câncer), incluindo no
conceito parte da vegetação estépica do continente norte americano.
Além
da diferença quanto à área de ocorrência da savana, outro ponto de
divergência está na inclusão ou não das fitofisionomias arbóreas e das
essencialmente herbáceas na sua definição. Geralmente, o conceito de
savana está relacionado aos aspectos fisionômicos da vegetação. Exemplo
disso são os inúmeros termos encontrados na literatura, os quais fazem,
via de regra, inferências sobre a presença ou não de árvores, arbustos
ou apenas campo (savana arborizada = savanna woodland, savana arbustiva = savanna scrub, savana parque = savanna parkland, savana herbácea = savanna grassland). Menos usual está o emprego do termo relacionado com as condições ambientais locais, por exemplo, savana estacional = savanna seasonal, savana hipersasonal = savanna hyperseasonal. Há ainda quem separe as áreas de savanas no mundo em função das condições macroclimáticas, por exemplo, savana úmida = savanna wed e savana seca = savanna dry.
Para
outros autores, como o professor George Eiten, as savanas no mundo
podem ser agrupadas numa macroescala de acordo com as condições
climáticas regionais, onde a sazonalidade no regime pluviométrica seria o
fator determinante para ocorrência da vegetação savânica, por exemplo,
no continente africano (Eiten, 1982). Por outro lado, as savanas também
poderiam ser determinadas pelas condições edáficas, onde as propriedades
físico-químicas do solo é que determinariam a ocorrência desse tipo de
vegetação, como é o caso das savanas amazônicas, na América do Sul. Na
região Norte do Brasil, o clima é favorável para a formação da Floresta
Tropical Úmida, no entanto, na região amazônica há manchas de vegetação
savânica que, certamente, são reflexos das condições edáficas locais.
Voltando
à discussão conceitual, de acordo com a visão antiga do termo, a savana
pode ser entendida como um tipo de vegetação desprovida de árvores e
com abundante estrato herbáceo. Por outro lado, na visão moderna e mais
ampla, o termo savana, em geral, pode ser definido como a vegetação
caracterizada por um estrato graminoso contínuo ou descontínuo com
presença de árvores e arbustos dispersos na paisagem (ver Collinson,
1988). Dentro desse conceito, as savanas podem ser encontradas na
América do Sul, África, Oceania e Ásia. A savana é considerada o quarto
maior bioma mundial em área, com cerca de 15 milhões de km 2, que
correspondem a cerca de 33% da superfície continental da Terra, 40% da
faixa tropical e abriga 20% da população mundial ( Whittaker, 1975;
Mistry, 2000)
Distribuição das savanas no planeta.
Na
América do Sul, a savana é o segundo maior tipo de vegetação em
extensão, atrás apenas da Floresta Tropical Úmida (florestas Amazônica e
Atlântica). No entanto, não é consensual quais os tipos de vegetação
compõe a savana no continente sul americano. O mais aceito é considerar
como savana o Cerrado brasileiro, os Llanos venezuelanos e colombianos
do rio Orinoco, e os Llanos de Mojos da Bolívia. Por outro lado, a Gran
Sabana, nas Guianas, o Chaco boliviano, as savanas amazônicas, o
Pantanal e a Caatinga, no Brasil, são alguns dos exemplos de divergência
quanto à sua inclusão ou não no conceito.
O
professor Eiten, em um trabalho pioneiro sobre as savanas brasileiras,
no início da década de 80, agrupou a vegetação savânica brasileira em
cinco categorias climático-geográficas: Brasil sul (southern Brazil), região de campos limpos; Floresta Atlântica (Atlantic Forest region), onde ocorrem campos de altitude e/ou rupestres; Brasil central (central Brazil), no domínio do Cerrado e Pantanal; Brasil nordeste (north-eastern Brazil), no domínio da Caatinga; e Amazônia (the Amazon region),
onde ocorrem as “savanas amazônicas”, ou seja, para Eiten, as savanas
são encontradas em todas as regiões brasileiras (Eiten, 1982). Já para o
pesquisador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Carlos Toledo
Rizzini, em seu livro intitulado Tratado de Fitogeografia do Brasil,
no Brasil, a palavra savana “só devia-se empregar, restritamente, para
indicar o Cerrado” (Rizzini 1997), enfatizando mais uma vez as
diferenças de interpretação.
De
acordo com os pesquisadores da Embrapa, José Felipe Ribeiro e Bruno
Machado Teles Walter, o Cerrado é um “complexo vegetacional que possui
relações ecológicas e fisionômicas com outras savanas da América
tropical e de continentes como a África e Austrália”. Para eles, o
Cerrado é uma palavra que possui três acepções técnico-científicas. A
primeira e mais abrangente, aplica-se ao bioma situado predominantemente
no Brasil Central; a segunda, Cerrado sentido amplo (cerrado lato sensu), refere-se ao conjunto das formações savânicas e campestres do bioma; e a terceira, Cerrado sentido restrito (cerrado stricto sensu),
indica um dos tipos fitofisionômicos que ocorre com maior freqüência na
formação savânica, definido por sua composição florística e fisionomia.
Distribuição dos biomas brasileiros. Bioma Cerrado na parte central do território brasileiro (cor rosa). Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Para
alguns autores, como o professor Leopoldo Coutinho, da Universidade de
São Paulo, o bioma Cerrado vai da fitofisionomia do Campo Limpo ao
Cerradão, num gradiente crescente do componente lenhoso (ver Coutinho,
1978). Para outros autores, como os pesquisadores Ribeiro e Walter, o
Cerrado é composto por um mosaico fitofisionômico que contempla as
formações campestres (por exemplo, Campo Limpo), formações savânicas
(por exemplo, Cerrado sentido restrito) e formações florestais (por
exemplo, Matas de Galeria) (ver Ribeiro e Walter, 2008). Dentro desse
contexto, a vegetação classificada como savana apresenta características
estruturais intermediárias entre as formações campestres e as formações
florestais do Cerrado, por exemplo, Campo Limpo e Cerradão,
respectivamente. Portanto, o bioma como um todo não é savana, uma vez
que nele ocorrem florestas e campos puros, mas é caracterizado,
primordialmente, por uma típica vegetação de savana que ocupa a maior
parte da área de domínio do bioma.
Cerrado sentido restrito. Foto: José Felipe Ribeiro.
A
grande divergência entre esses sistemas de classificação, bem como do
conceito de Cerrado, está na inclusão ou não das fitofisionomias mais
abertas e as mais fechadas como bioma Cerrado e como savana. Tanto
Coutinho (conceito mais restritivo) quanto Ribeiro e Walter (conceito
mais amplo) consideram o Cerrado como savana (Coutinho 2006; Ribeiro e
Walter 2008). A diferença está na definição de quais fisionomias compõe
esse bioma, ou seja, se devemos incluir as formações campestres e as
florestais na definição de Cerrado. Enfim, considerando apenas o aspecto
fisionômico, o Cerrado pode ser então considerado como savana, pois,
cerca de 80% a 90% do Brasil Central é caracterizado como vegetação
savânica (Cerrado sentido restrito e Campo Sujo), enquanto que o
restante é ocupado pelas formações florestais e campestres (Eiten, 1972;
1978).
Segundo
Walter, “não há como excluir o Cerrado sentido restrito do conceito de
savana, qualquer que seja a definição adotada”. No entanto, ele salienta
que “já o Cerrado sentido amplo e o bioma são realmente de análise mais
complexa”, concluindo que “realmente o Cerrado não é meramente um
sinônimo brasileiro de savana, mas sim um componente deste conceito”,
como já havia afirmado o professor Eiten na década de 70 (Eiten, 1972;
1978).
Por
fim, para que o termo savana possa ser usado satisfatoriamente, é
preciso levar em conta as diferentes interpretações existentes. Por
isso, é importante a observação do professor Coutinho: “os termos
empregados para definir uma tipologia vegetacional deveriam ser seguidos
pelos conceitos que os autores fazem deles para evitar confusões, pois
nem sempre seus conceitos coincidem entre si” (Coutinho, 2006). Como os
conceitos não são coincidentes, é fundamental que o autor entenda e
esclareça qual a definição está utilizando e seja coerente durante todo o
texto.
Fabiana de Gois Aquino é pesquisadora
da Embrapa Cerrados; José Roberto Rodrigues Pinto é professor do
Departamento de Engenharia Florestal, da Universidade de Brasília, e
José Felipe Ribeiro é pesquisador da Embrapa Sede.
Bibliografias consultadas
Ab'Sáber, A. N. Os domínios da natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. 2ª Edição. São Paulo: Ateliê Editorial. 2003. p. 115-135.
Bourliére, F. Ecosystems of the world 13: tropical savannas. Amsterdan: Oxford, New York: Elsevier Scientific Publishing Company, 1983. 730p. Cole, M. M. The savannas: biogeography and geobotany. London: Academic Press, 1986. 438p. Collinson, A.S. Introduction to world vegetation. Unwin Hyman Ltda. 1988. Coutinho, L. M. “Ecological effects of fire in brazilian Cerrado”. In: Huntley, B. J. e Walker, B. H. (Eds.). Ecology of Tropical Savannas. Berlin: Springer-Verlag, 1982, p. 273-292. Coutinho, L. M. “O conceito de Cerrado”. Revta. Brasil. Bot. n.1, p. 17-23. 1978. Coutinho, L. M. “O conceito de bioma”. Acta bot. bras. n.20, v.1, p. 13-23. 2006. Drude, O. Handbuch der pflanzengeographie. Stuttgart: Engelhorn, 1890. 582p. Eiten, G. “Vegetation forms ”. Boletim, 4. São Paulo: Instituto de Botânica, v.4, 1968. 88p. Eiten, G. “The cerrado vegetation of Brazil ”. The Botanical Review. n.38, v.2, p. 201-340. 1972. Eiten, G. “Delimitação do conceito de cerrado”. Arquivos do Jardim Botânico, Rio de Janeiro. v.21, p.125-134, 1977. Mistry, J. World savannas. Ecology and human use. Longman (Pearson Education). Harlow. 2000. Oliveira, P. S.; Marquis, R. J. (Eds.). The Cerrado of Brazil: ecology and natural history of a Neotropical Savanna. New York: Columbia University Press. 2002. Ribeiro, J. F.; Walter, B. M. T. “Fitofisionomias do Bioma Cerrado”. In: Sano, S. M.; Almeida, S. P. e Ribeiro, J. F. (Eds.). Cerrado: ecologia e flora. Rizzini, C. T. Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos ecológicos, sociológicos e florísticos. 2 a Edição. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural Edições Ltda. 1997. 747 p. Walter, B. M. T. Fitofisionomias do bioma Cerrado: síntese terminológica e relações florísticas. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília. 2006. 389p. Walter, B. M. T.; Carvalho, A. M. e Ribeiro, J. F. “O conceito de savana e de seu componente Cerrado”. In: Sano, S. M.; Almeida, S. P. e Ribeiro, J. F. (Eds.). Cerrado: ecologia e flora. Planaltina: Embrapa Cerrados. 2008, p. 19-45. Whittaker, R. H. Communities and ecosystems. New York: Macmillan Publishing Co, 1975. 385p. Planaltina: Embrapa Cerrados. 2008, p. 151-212. |
sábado, 17 de agosto de 2013
Evolução histórica do conceito de savana e a sua relação com o Cerrado brasileiro
Evolução histórica do conceito de savana e a sua relação com o Cerrado brasileiro
Evolução histórica do conceito de savana e a sua relação com o Cerrado brasileiro | |
Por Fabiana de Gois Aquino José Roberto Rodrigues Pinto José Felipe Ribeiro 10/02/2009 |
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Agrupar
a vegetação de uma região, de um país ou do planeta em categorias de
fácil reconhecimento parece, inicialmente, uma tarefa simples.
Entretanto, os critérios, as observações subjetivas, as escalas e outras
variáveis consideradas no método de classificação adotado dificultam
que um mesmo padrão possa emergir nos diferentes sistemas propostos por
distintos autores. Embora certa uniformidade na conceituação e na
terminologia seja desejada, é muito difícil que um modelo universal
defina ou represente fielmente uma tipologia vegetacional, uma vez que
as paisagens apresentam variações e particularidades locais e regionais.
Além disso, influenciam sobremaneira no produto final da classificação,
o tamanho da área, a escala e a ordem hierárquica dos critérios e
conceitos utilizados na separação das categorias.
Para
a savana não é diferente. Talvez, de todos os tipos de vegetação, a
savana seja a mais difícil de definir, pois sua distribuição e origem
são controversas, já dizia em 1960 a geobotânica Mônica Mary Cole. A
definição de savana e a evolução histórica deste termo são polêmicas e
têm sido frequentemente colocadas em pauta nos vários fóruns de
discussões acadêmicas ao longo das últimas décadas. Apesar de bastante
debatido, o assunto ainda desperta controvérsias em função do alto
número de interpretações. Na literatura científica, são encontradas mais
de duas centenas de termos técnicos relacionados à palavra savana. Esse
elevado número está associado à grande quantidade de tipologias
vegetacionais classificadas como savana.
Escrever
em poucas páginas sobre um assunto tão extenso não é fácil. A intenção
apresentada aqui é oferecer uma visão geral das principais linhas de
pensamento e pontos de divergências, bem como apresentar a contribuição
de alguns atores envolvidos na árdua empreitada de ordenar conceitos,
visões e impressões sobre as savanas do nosso planeta. Como a literatura
aponta, embora essa discussão conceitual possa parecer inócua, ela tem
implicações práticas diretas, pois dependendo do conceito adotado, a
distribuição geográfica, a extensão da savana no mundo e a quantificação
da biodiversidade muda drasticamente, refletindo nas políticas e
estratégias para sua conservação.
Historicamente,
a evolução do conceito está associada aos critérios usados na definição
e/ou na classificação das savanas no mundo. Grande parte das definições
de savana disponíveis na literatura inclui aspectos fisionômicos,
climáticos (estacionais), latitudinais, geográficos, florísticos e
ecológicos (por exemplo: competição e fogo), além de sugerir o
importante papel do tempo geológico. Entretanto, existem variações no
peso dos critérios usados em cada um dos diferentes sistemas de
classificação, culminando, conseqüentemente, nas diferenças
terminológicas.
De
acordo com Cole, o termo savana é ameríndio (nativo do continente
americano) e foi citado pela primeira vez, em 1535, pelo historiador e
escritor espanhol Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdés em um trabalho
nas Índias, para descrever “terra que está sem árvores, mas com muita
erva alta e baixa” (Cole, 1986).
Segundo
os levantamentos realizados pelo pesquisador Bruno Machado Teles
Walter, da Embrapa, até meados do século XIX, o termo savana foi
aplicado para descrever os tipos vegetacionais desprovidos de árvores,
localizados no Caribe e na América do Sul. Esse pesquisador chamou
atenção para o fato de que “embora, atualmente (no Brasil), o público
leigo associe savana a um domínio vegetacional do continente africano (e
não sul-americano), local de morada dos grandes mamíferos do planeta,
foi somente muito tempo depois de sua origem histórica, que o termo foi
aplicado naquele continente e em outras partes do globo” (Walter, 2006).
Em
seus estudos, Walter ressaltou que o botânico e fitogeógrafo alemão
August Heinrich Rudolph Grisebach, em 1872, parece ter sido o primeiro a
usar o termo savana com significado mais difundido até o presente, ou
seja, utilizando o termo para designar paisagens com poucas árvores
espalhadas em um ambiente graminóide em outros lugares do mundo e não
apenas em paisagens da América do Sul. Posteriormente, o ecólogo alemão
Oscar Drude e o fitogeógrafo francês Andreas Franz Wilhelm Schimper
estenderam o conceito de savana para a vegetação com ocorrência esparsa
de arbustos e árvores (Drude, 1890; Schimper, 1898); seguidos por várias
outras tentativas de definir com exatidão o termo. Porém, como o termo
passou a ser aplicado em diferentes partes do planeta, distintas
definições foram incorporadas ao longo do tempo com significados até
mesmo conflitantes em função de particularidades de cada região.
Uma
grande contribuição para o entendimento sobre as savanas mundiais pode
ser creditada ao médico-ecólogo francês François Bourliére, que, em
conjunto com autoridades no tema, publicaram em 1983 o livro intitulado:
Ecosystems of the world 13: tropical savannas, mostrando as
características das savanas em todos os continentes. Para eles, existem
alguns fatores que, em conjunto, determinam a formação da savana, entre
eles as condições climáticas, edáficas, hidrológicas e geomorfológicas,
além do fogo e pastejo.
Atualmente,
o termo savana tem sido utilizado de forma ampla para designar
diferentes formações vegetacionais no mundo, muitas vezes se referindo a
conceitos conflitantes. Para as duas escolas tradicionais em estudos
ecológicos, a escola européia e a americana, a principal diferença em
termos conceituais está na área de distribuição geográfica das savanas
na Terra. Para as escolas seguidoras da corrente européia, as savanas
ocorrem na zona tropical, localizada entre os Trópicos de Câncer e de
Capricórnio (22,5º norte e sul da linha do Equador). Por outro lado,
para a corrente americana, as savanas ocorrem além da zona tropical,
estendendo-se para a zona subtropical (entre 23º e 35º ao sul do Trópico
de Capricórnio e 23º e 35º ao norte do Trópico de Câncer), incluindo no
conceito parte da vegetação estépica do continente norte americano.
Além
da diferença quanto à área de ocorrência da savana, outro ponto de
divergência está na inclusão ou não das fitofisionomias arbóreas e das
essencialmente herbáceas na sua definição. Geralmente, o conceito de
savana está relacionado aos aspectos fisionômicos da vegetação. Exemplo
disso são os inúmeros termos encontrados na literatura, os quais fazem,
via de regra, inferências sobre a presença ou não de árvores, arbustos
ou apenas campo (savana arborizada = savanna woodland, savana arbustiva = savanna scrub, savana parque = savanna parkland, savana herbácea = savanna grassland). Menos usual está o emprego do termo relacionado com as condições ambientais locais, por exemplo, savana estacional = savanna seasonal, savana hipersasonal = savanna hyperseasonal. Há ainda quem separe as áreas de savanas no mundo em função das condições macroclimáticas, por exemplo, savana úmida = savanna wed e savana seca = savanna dry.
Para
outros autores, como o professor George Eiten, as savanas no mundo
podem ser agrupadas numa macroescala de acordo com as condições
climáticas regionais, onde a sazonalidade no regime pluviométrica seria o
fator determinante para ocorrência da vegetação savânica, por exemplo,
no continente africano (Eiten, 1982). Por outro lado, as savanas também
poderiam ser determinadas pelas condições edáficas, onde as propriedades
físico-químicas do solo é que determinariam a ocorrência desse tipo de
vegetação, como é o caso das savanas amazônicas, na América do Sul. Na
região Norte do Brasil, o clima é favorável para a formação da Floresta
Tropical Úmida, no entanto, na região amazônica há manchas de vegetação
savânica que, certamente, são reflexos das condições edáficas locais.
Voltando
à discussão conceitual, de acordo com a visão antiga do termo, a savana
pode ser entendida como um tipo de vegetação desprovida de árvores e
com abundante estrato herbáceo. Por outro lado, na visão moderna e mais
ampla, o termo savana, em geral, pode ser definido como a vegetação
caracterizada por um estrato graminoso contínuo ou descontínuo com
presença de árvores e arbustos dispersos na paisagem (ver Collinson,
1988). Dentro desse conceito, as savanas podem ser encontradas na
América do Sul, África, Oceania e Ásia. A savana é considerada o quarto
maior bioma mundial em área, com cerca de 15 milhões de km 2, que
correspondem a cerca de 33% da superfície continental da Terra, 40% da
faixa tropical e abriga 20% da população mundial ( Whittaker, 1975;
Mistry, 2000)
Distribuição das savanas no planeta.
Na
América do Sul, a savana é o segundo maior tipo de vegetação em
extensão, atrás apenas da Floresta Tropical Úmida (florestas Amazônica e
Atlântica). No entanto, não é consensual quais os tipos de vegetação
compõe a savana no continente sul americano. O mais aceito é considerar
como savana o Cerrado brasileiro, os Llanos venezuelanos e colombianos
do rio Orinoco, e os Llanos de Mojos da Bolívia. Por outro lado, a Gran
Sabana, nas Guianas, o Chaco boliviano, as savanas amazônicas, o
Pantanal e a Caatinga, no Brasil, são alguns dos exemplos de divergência
quanto à sua inclusão ou não no conceito.
O
professor Eiten, em um trabalho pioneiro sobre as savanas brasileiras,
no início da década de 80, agrupou a vegetação savânica brasileira em
cinco categorias climático-geográficas: Brasil sul (southern Brazil), região de campos limpos; Floresta Atlântica (Atlantic Forest region), onde ocorrem campos de altitude e/ou rupestres; Brasil central (central Brazil), no domínio do Cerrado e Pantanal; Brasil nordeste (north-eastern Brazil), no domínio da Caatinga; e Amazônia (the Amazon region),
onde ocorrem as “savanas amazônicas”, ou seja, para Eiten, as savanas
são encontradas em todas as regiões brasileiras (Eiten, 1982). Já para o
pesquisador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Carlos Toledo
Rizzini, em seu livro intitulado Tratado de Fitogeografia do Brasil,
no Brasil, a palavra savana “só devia-se empregar, restritamente, para
indicar o Cerrado” (Rizzini 1997), enfatizando mais uma vez as
diferenças de interpretação.
De
acordo com os pesquisadores da Embrapa, José Felipe Ribeiro e Bruno
Machado Teles Walter, o Cerrado é um “complexo vegetacional que possui
relações ecológicas e fisionômicas com outras savanas da América
tropical e de continentes como a África e Austrália”. Para eles, o
Cerrado é uma palavra que possui três acepções técnico-científicas. A
primeira e mais abrangente, aplica-se ao bioma situado predominantemente
no Brasil Central; a segunda, Cerrado sentido amplo (cerrado lato sensu), refere-se ao conjunto das formações savânicas e campestres do bioma; e a terceira, Cerrado sentido restrito (cerrado stricto sensu),
indica um dos tipos fitofisionômicos que ocorre com maior freqüência na
formação savânica, definido por sua composição florística e fisionomia.
Distribuição dos biomas brasileiros. Bioma Cerrado na parte central do território brasileiro (cor rosa). Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Para
alguns autores, como o professor Leopoldo Coutinho, da Universidade de
São Paulo, o bioma Cerrado vai da fitofisionomia do Campo Limpo ao
Cerradão, num gradiente crescente do componente lenhoso (ver Coutinho,
1978). Para outros autores, como os pesquisadores Ribeiro e Walter, o
Cerrado é composto por um mosaico fitofisionômico que contempla as
formações campestres (por exemplo, Campo Limpo), formações savânicas
(por exemplo, Cerrado sentido restrito) e formações florestais (por
exemplo, Matas de Galeria) (ver Ribeiro e Walter, 2008). Dentro desse
contexto, a vegetação classificada como savana apresenta características
estruturais intermediárias entre as formações campestres e as formações
florestais do Cerrado, por exemplo, Campo Limpo e Cerradão,
respectivamente. Portanto, o bioma como um todo não é savana, uma vez
que nele ocorrem florestas e campos puros, mas é caracterizado,
primordialmente, por uma típica vegetação de savana que ocupa a maior
parte da área de domínio do bioma.
Cerrado sentido restrito. Foto: José Felipe Ribeiro.
A
grande divergência entre esses sistemas de classificação, bem como do
conceito de Cerrado, está na inclusão ou não das fitofisionomias mais
abertas e as mais fechadas como bioma Cerrado e como savana. Tanto
Coutinho (conceito mais restritivo) quanto Ribeiro e Walter (conceito
mais amplo) consideram o Cerrado como savana (Coutinho 2006; Ribeiro e
Walter 2008). A diferença está na definição de quais fisionomias compõe
esse bioma, ou seja, se devemos incluir as formações campestres e as
florestais na definição de Cerrado. Enfim, considerando apenas o aspecto
fisionômico, o Cerrado pode ser então considerado como savana, pois,
cerca de 80% a 90% do Brasil Central é caracterizado como vegetação
savânica (Cerrado sentido restrito e Campo Sujo), enquanto que o
restante é ocupado pelas formações florestais e campestres (Eiten, 1972;
1978).
Segundo
Walter, “não há como excluir o Cerrado sentido restrito do conceito de
savana, qualquer que seja a definição adotada”. No entanto, ele salienta
que “já o Cerrado sentido amplo e o bioma são realmente de análise mais
complexa”, concluindo que “realmente o Cerrado não é meramente um
sinônimo brasileiro de savana, mas sim um componente deste conceito”,
como já havia afirmado o professor Eiten na década de 70 (Eiten, 1972;
1978).
Por
fim, para que o termo savana possa ser usado satisfatoriamente, é
preciso levar em conta as diferentes interpretações existentes. Por
isso, é importante a observação do professor Coutinho: “os termos
empregados para definir uma tipologia vegetacional deveriam ser seguidos
pelos conceitos que os autores fazem deles para evitar confusões, pois
nem sempre seus conceitos coincidem entre si” (Coutinho, 2006). Como os
conceitos não são coincidentes, é fundamental que o autor entenda e
esclareça qual a definição está utilizando e seja coerente durante todo o
texto.
Fabiana de Gois Aquino é pesquisadora
da Embrapa Cerrados; José Roberto Rodrigues Pinto é professor do
Departamento de Engenharia Florestal, da Universidade de Brasília, e
José Felipe Ribeiro é pesquisador da Embrapa Sede.
Bibliografias consultadas
Ab'Sáber, A. N. Os domínios da natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. 2ª Edição. São Paulo: Ateliê Editorial. 2003. p. 115-135.
Bourliére, F. Ecosystems of the world 13: tropical savannas. Amsterdan: Oxford, New York: Elsevier Scientific Publishing Company, 1983. 730p. Cole, M. M. The savannas: biogeography and geobotany. London: Academic Press, 1986. 438p. Collinson, A.S. Introduction to world vegetation. Unwin Hyman Ltda. 1988. Coutinho, L. M. “Ecological effects of fire in brazilian Cerrado”. In: Huntley, B. J. e Walker, B. H. (Eds.). Ecology of Tropical Savannas. Berlin: Springer-Verlag, 1982, p. 273-292. Coutinho, L. M. “O conceito de Cerrado”. Revta. Brasil. Bot. n.1, p. 17-23. 1978. Coutinho, L. M. “O conceito de bioma”. Acta bot. bras. n.20, v.1, p. 13-23. 2006. Drude, O. Handbuch der pflanzengeographie. Stuttgart: Engelhorn, 1890. 582p. Eiten, G. “Vegetation forms ”. Boletim, 4. São Paulo: Instituto de Botânica, v.4, 1968. 88p. Eiten, G. “The cerrado vegetation of Brazil ”. The Botanical Review. n.38, v.2, p. 201-340. 1972. Eiten, G. “Delimitação do conceito de cerrado”. Arquivos do Jardim Botânico, Rio de Janeiro. v.21, p.125-134, 1977. Mistry, J. World savannas. Ecology and human use. Longman (Pearson Education). Harlow. 2000. Oliveira, P. S.; Marquis, R. J. (Eds.). The Cerrado of Brazil: ecology and natural history of a Neotropical Savanna. New York: Columbia University Press. 2002. Ribeiro, J. F.; Walter, B. M. T. “Fitofisionomias do Bioma Cerrado”. In: Sano, S. M.; Almeida, S. P. e Ribeiro, J. F. (Eds.). Cerrado: ecologia e flora. Rizzini, C. T. Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos ecológicos, sociológicos e florísticos. 2 a Edição. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural Edições Ltda. 1997. 747 p. Walter, B. M. T. Fitofisionomias do bioma Cerrado: síntese terminológica e relações florísticas. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília. 2006. 389p. Walter, B. M. T.; Carvalho, A. M. e Ribeiro, J. F. “O conceito de savana e de seu componente Cerrado”. In: Sano, S. M.; Almeida, S. P. e Ribeiro, J. F. (Eds.). Cerrado: ecologia e flora. Planaltina: Embrapa Cerrados. 2008, p. 19-45. Whittaker, R. H. Communities and ecosystems. New York: Macmillan Publishing Co, 1975. 385p. Planaltina: Embrapa Cerrados. 2008, p. 151-212. |
A diversidade de climas e de formações vegetais
A diversidade de climas e de formações
vegetais
Deves ser capaz
de:
- Reconhecer as funções desempenhadas pela atmosfera
-Salientar a importância da troposfera para a meteorologia
- Distinguir estado de tempo e clima
- Referir os elementos do clima;
- Evidenciar o papel dos factores do clima;
- Caracterizar os diferentes climas da terra
-Relacionar as formações vegetais com os respectivos climas;
Referir a distribuição dos climas existentes à superfície da Terra;
Caracterizar o clima de Portugal.
O clima de um lugar ou região é a sucessão habitual dos
estados de tempo, ao longo do ano, sobre esse mesmo lugar ou região,
ou seja, uma síntese anual do tempo.
Clima é um conceito usado para dividir o mundo em regiões que
dividem parâmetros climáticos parecidos.
O termo mudança do clima, alterações climáticas ou mudanças
climáticas refere-se à variação do clima global ou dos climas
regionais da terra ao longo do tempo.
A mudança climática pode ser tanto um efeito de processos
naturais ou decorrentes da acção humana.
O estado de tempo corresponde às condições atmosféricas
(temperatura, precipitação, nebulosidade) num certo momento e
lugar.
Os climas distinguem-se uns dos outros, sobretudo, pelas
características e variação da temperatura e da precipitação. Essas
variações são determinantes pelos factores climáticos, dos quais se
destacam:
Latitude
- Os climas dividem-se em quentes, temperados e frios, de
acordo com a quantidade de radiação solar recebida.
- Nas latitudes ocupadas pelas faixas de altas pressões, os
climas são secos, ao contrário das latitudes onde dominam as baixas
pressões.
As regiões climáticas podem ser classificadas com base na
temperatura e precipitações.
- A temperatura e a precipitação são os dois elementos
principais para caracterizar um clima.
- O regime térmico permite distinguir os climas quentes ,
temperados e frios, o regime pluviométrico permite diferenciar os
climas húmidos e secos.
Relevo
- com o aumento da altitude, os climas tornam-se mais
frios.
A altitudes muito elevadas o ar é seco e quase não há
precipitação.
Oceanicidade/proximidade do oceano
- Nas margens dos continentes, onde os ventos marítimos são
dominantes, os climas tendem a ser mais amenos e chuvosos
Continentalidade
No interior dos continentes, longe dos ventos marítimos, os
climas tendem a ser secos e com elevados contrastes de
temperaturas.
Cada clima corresponde a um tipo determinado de fauna e flora
- São os biomas. Estes adoptaram o nome da vegetação dominante (
savana, floresta mediterrânea, pradaria,…).
A maior parte da vegetação dispõem-se em faixas mais ou
menos paralelas, do equador para os polos, tanto no hemisfério
Norte como no hemisfério Sul.
Uma das melhores maneiras de conhecer as
características climáticas duma determinada região, é através dos
gráficos termopluviométricos ou climogramas. Nestes gráficos
podem-se analisar as precipitações e as temperaturas dum determinado
local, ao longo dum ano. Dum modo geral, apresentam os valores da
precipitação em forma de barras (e são lidos no lado esquerdo),
enquanto que a temperatura, que normalmente é lida no lado direito,
é representada por meio duma linha. na parte de baixo do gráfico,
estão representados os doze meses do ano, assinalados pelas
respectivas iniciais dos meses. Há no entanto outras formas de
apresentar os climogramas, mas a que foi referida, parece ser a mais
correcta. Também é normal, que a escala onde estão os valores da
precipitação, apresentem valores que correspondam ao dobro da escala
das temperaturas.
A vegetação é um grande e precioso indicador do
clima de uma determinada área. Sendo a temperatura e a precipitação
os elementos mais determinantes da cobertura vegetal, é lógico que
quando imaginamos um determinado tipo de clima, associamos
mentalmente uma determinada paisagem vegetal, e como é também óbvio,
a um determinado clima e cobertura vegetal, estão associados
determinados seres vivos.
A biosfera, é formada pelo nosso planeta, a
Terra e por todos os seres vivos que nele existem. Na biosfera
existem diversos biomas, que são
um conjunto
biológico associado a uma zona climática. São essas zonas
climáticas, ou melhor, são esses climas e os biomas a eles
associados, que em seguida iremos ver.
Os tipos de
climas e a vegetação
A distribuição e
diferenciação dos vários tipos de climas dependem do modo como se
distribuem os elementos climáticos e os factores que mais os
influenciam. Apesar de várias diferenças regionais, pode-se definir
genericamente os seguintes conjuntos climáticos e respectivos
climas:
Zona Quente: Clima
Equatorial; Clima Tropical (de monção, húmido e seco) e Clima Desértico.
Zona Temperada: Clima
subtropical húmido, Clima
Mediterrânico; Clima Marítimo ou Oceânico e Clima Continental.
Zona Fria: Clima Continental
ou Subpolar e Clima Polar. Os climas de altitude não acompanham a
distribuição latitudinal dos climas.
Os climas mundiais
Clima equatorial:
Floresta equatorial
Clima Tropical húmido:
Floresta
tropical
Clima Tropical Seco: savana, estepe e floresta galeria
Deserto: Vegetação xerófila
Clima Continental. Pradaria ou Estepe TemperadaClima Continental ou Subpolar: Taiga ou floresta de coníferas
Clima Polar : Tundra
Clima Tropical Seco: savana, estepe e floresta galeria
Deserto: Vegetação xerófila
Clima subtropical húmido:
Floreta
mista
Clima Mediterrânico:
Floresta
mediterrânea, maquis e garrigue
Clima Marítimo ou Oceânico:
Floresta
caducifólia pradosClima Continental. Pradaria ou Estepe TemperadaClima Continental ou Subpolar: Taiga ou floresta de coníferas
Clima Polar : Tundra
Os climas quentes
Os climas quentes, num
modo muito simples, podem-se subdividir em três: clima equatorial, clima
tropical, e clima desértico (quente).
As regiões de
Clima Equatorial
O Clima equatorial,
como o próprio nome indica, localiza-se numa faixa que envolve o
Equador, limitada, sensivelmente, pelos paralelos 5º S e 5 º N,
podendo chegar, em algumas regiões, aos 10º S e 10º N. Abrange, por
isso, áreas como, por exemplo, o Zaire, a bacia do Amazonas, a bacia
do Congo, Madagáscar e a maior parte das ilhas situadas entre os
oceanos Índico e Pacífico, na zona equatorial.
Da análise do gráfico
termopluviométrico que está a servir de exemplo, verifica-se com
efeito que se trata dum local perto do Equador (neste exemplo,
40 Lat. S, embora, como é lógico, também pudesse ser de
latitude Norte).
Principais características:
- temperaturas médias
mensais elevadas e praticamente constantes ao longo do ano,
geralmente superiores a 20º C) – As temperaturas elevadas
praticamente constantes ao longo do ano devem-se à reduzida
inclinação dos raios solares e ao facto de a duração do dia natural
e da noite ser praticamente sempre a mesma;
- As amplitudes
térmicas anuais são muito reduzidas, ou seja, a diferença entre
a temperatura média máxima anual e a temperatura média mínima anual,
é muito reduzida, normalmente inferiores a 3º C;
- precipitação
abundante e mais ou menos regular ao longo do ano, com registos
superiores a 1500 mm – Os elevados valores de precipitação
justificam-se pela presença constante das baixas pressões
equatoriais, que provocam chuvas convectivas e de convecção (chuvas
provocadas pela ascendência brusca de ar fortemente aquecido e
húmido à superfície);
- Não existem
estações (nem Verão, nem Inverno...), pois todos os meses são
pluviosos e quentes, isto é, não existem estações diferenciadas
(apenas estação húmida), já que todos os meses do ano são muito
quentes, húmidos e pluviosos.
Ambiente biogeográfico - Floresta equatorial.
A floresta equatorial é constituída por um elevado número de espécies, muito próximas umas das outras, com troncos altos e esguios e folhas largas e persistentes. Devido à competição pela luz, verifica-se, normalmente, a existência de vários estratos arbóreos: o mais elevado, constituído por árvores de grande porte, com uma altura de 10 a 30 metros, e, por fim, o estrato inferior, que comporta árvores com cerca de 10 metros. Depois dos estratos arbóreos, é possível observar um estrato arbustivo, mais ou menos alto e denso, com folhas muito delgadas, quase transparentes, em consequência da grande humidade e da fraca radiação solar existente a este nível.
Por fim, junto ao solo, é possível encontrar um manto herbáceo pouco desenvolvido, devido à quase ausência de luminosidade provocada pelas copas das árvores, que compõem os diferentes estratos superiores. Na floresta equatorial é possível observar ainda a existência de lianas e de epífitas, cuja forma de vida assume características muito particulares. As lianas são plantas trepadeiras que se enrolam nas árvores, pelas quais sobem, à procura de luz. As epífitas são plantas que não têm as raízes presas ao solo e vivem sobre outras plantas, que lhes servem de suporte.
Estratificação da floresta densa (equatorial)
Neste esquema, podem-se
observar com facilidade os estratos da floresta equatorial. O
estrato junto ao solo, é o estrato herbáceo, pouco desenvolvido e
onde quase não existe luz, pois as plantas dos estratos superiores
dificultam a passagem da luz. O estrato superior, é constituído por
árvores bastante altas, cujas copas apresentam uma forma arredondada
(tipo guarda-chuva), e os seus troncos, de casca fina, são
lisos, apenas ramificados na parte superior.
É muito vulgar nestas
florestas, alguns tipos de plantas trepadoras e parasitas, que se
servem das árvores para irem subindo e alcançar a luz; muitas vezes
estas trepadeiras desenvolvem-se tanto que acabam por estrangular as
árvores onde se enrolam. Estas trepadeiras, normalmente lianas,
atingem um desenvolvimento tão grande, que quem as vê, diria que se
tratava de uma autentica árvore. Há lianas com cerca de 200 metros
de comprimento.
Com estas condições
ambientais, a vida animal também é muito abundante e diversa, mas é
raro haver nestas florestas animais muito grandes, pois a vegetação
é tão densa, que os animais grandes não se conseguiriam movimentar
ali dentro. Pela imagem, pode-se fazer uma ideia dos animais que
existem na floresta equatorial: nas árvores, alguns mamíferos
(macacos, lémures, jaguares, esquilos, preguiças...), imensos
répteis (cobras, lagartos, serpentes, jibóias), um grande número de
aves (quase sempre muito coloridas e de grande beleza - tucanos,
araras, catatuas, papagaios, quetzal...), e uma imensidão de
insectos; ao nível do solo (ou perto dele), também mamíferos
(leopardos, gorilas, mandarins, antílopes, ratos....) répteis,
batráquios (sapos e rãs - muitas delas venenosas), vermes, etc.. Nos
rios, quase sempre de águas muito lamacentas e turvas, abundam
crocodilos, jacarés, búfalos, rinocerontes, pequenos anfíbios,
roedores, e como é lógico, muitos peixes, entre os quais, as famosas
piranhas, enguias-eléctricas, etc...
A floresta equatorial,
bem como o clima equatorial, está mais ou menos distribuída nas
seguintes áreas a verde. Na imagem, vê-se perfeitamente três grandes
áreas mundiais de florestas equatoriais: na América do Sul, a
Amazónia, a maior floresta equatorial e a mais conhecida; no Centro
de África, a chamada floresta equatorial da bacia do Congo; e na
Ásia, quase toda a região da Indonésia, bem como a Malásia,
Filipinas e países vizinhos.
As regiões de
Clima Tropical
Os climas tropicais
localizam-se entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio, a seguir à
faixa do Clima Equatorial, sensivelmente entre os 5º e os 12º de
latitude Norte e Sul (clima tropical húmido) e entre os 10º e os 12º
e os 15º e os 18º de latitude Norte e Sul (clima tropical seco).
Principais características:
- temperaturas médias
mensais muito elevadas ao longo do ano (superiores a 20º C);
-amplitudes térmicas
reduzidas, embora ligeiramente superiores às do clima equatorial;
- as chuvas são
abundantes , mas concentram-se numa só época do ano (estação das
chuvas);
- apresentam duas
estações distintas: uma estação húmida e uma estação seca.
Na zona intertropical,
a precipitação diminui com o aumento da latitude e a estação seca
torna-se mais longa à medida que nos afastamos do Equador.
Verifica-se com
facilidade a existência de apenas duas estações: a estação seca e a
estação húmida.
Se a estação pluviosa é
mais longa do que a estação seca, o clima é Tropical Húmido. Se,
pelo contrário, a estação seca for mais longa do que a estação
húmida, o clima é Tropical
Seco. Observando os climogramas da figura (que
servem de exemplo), verifica-se que no clima tropical húmido, há
cerca de cinco meses secos (mais ou menos de Junho a Outubro),
enquanto no clima tropical seco, os meses secos são em maior
quantidade, mais ou menos dez meses (de Setembro a
Junho).
O Clima
Tropical de Monção
Existe um caso
"especial" de climas tropicais, trata-se de uma variante do clima
tropical húmido, que se caracteriza por elevados valores de
precipitação na estação húmida, sendo estes valores, muito
superiores aos do clima equatorial. Nas regiões afectadas pelas
Monções, o clima é muito pluvioso na estação húmida, designando-se o
mesmo por Clima Tropical de
Monção.
O clima tropical, pode ser subdividido em dois sub-climas: o tropical húmido e o tropical seco.
Principais características:
- As temperaturas médias mensais são elevadas ao longo do ano, superiores a 240C. Embora possa ocorrer um ou dois períodos relativamente frescos, a maior parte dos meses apresenta temperaturas médias superiores aos do clima equatorial.
- As amplitudes térmicas anuais, embora maiores do que as do clima equatorial, são pouco acentuadas, tendo um valor aproximado entre 100C e 120C.
- A precipitação distribui-se muito irregularmente ao longo do ano, concentrando-se, na sua quase totalidade, numa só estação.
Ambientes biogeográficos: savana; floresta tropical e estepe tropical.
Nas regiões de clima tropical, existem estes três géneros de formações vegetais, porque este tipo de clima é uma transição entre outros tipos de climas, ao contrário do clima equatorial, que não faz transição com mais nenhum outro tipo de clima. O clima tropical, consoante a latitude (e a continentalidade), apresenta valores diferentes de precipitações e de temperaturas, pelo que pode fazer transição entre o equatorial e o o desértico. Por estas razões (e não só), as formações vegetais variam de acordo com a maior ou menor abundância de precipitações.
Vegetação característica do clima tropical húmido:
Floresta
Tropical (floresta
bastante densa com árvores mais baixas que as da floresta
equatorial, mais espaçadas entre si e de copa mais
larga);
Savana
(formação vegetal dominante e que é constituída por
ervas altas e espaçadas intercaladas por uma vegetação
rasteira).
Pode-se dizer que a
savana é uma formação vegetal herbácea (ervas) alta, atingindo
nalgumas regiões os 2 metros de altura, e "salpicada" de algumas
árvores e arbustos. Os arbustos são quase sempre espinhosos e as
árvores, são, na sua grande maioria, de folha caduca, com troncos
muito duros e revestidos de casca espessa. As raízes das plantas da
savana são muito profundas e ramificadas, para poderem captar o
máximo de água (que lhe permite sobreviver na estação seca). As
árvores mais típicas da savana são a acácia e o embondeiro (árvore
de grande porte, também conhecido por baoba).
Figura -
Savana
|
Figura -
baoba
|
Os locais do bioma de savana, encontram-se distribuídos nas seguintes áreas do mundo:
mais informações sobre savanas e os seus animais, clique aqui (em inglês)
Vegetação característica do clima tropical
seco
Floresta Tropical
Seca, muitas vezes espinhosa, e na sua quase
totalidade desprovida de folhas na estação seca; Savana (ervas e tufos de
arbustos espinhosos); nas zonas mais áridas pode-se encontrar a
Estepe Tropical
(formação vegetal típica e que é constituída por
plantas herbáceas baixas; pequenas e raras árvores e tufos de
arbustos dispersos). Nas regiões em que a estação seca é mais
prolongada, a vegetação apresenta já características xerófilas
(plantas adaptadas à secura, isto é, muito pouco exigentes em
água).
Figura-
Estepe
As regiões
de Clima Desértico
Encontra-se a seguir à
faixa dos climas tropicais e, localiza-se entre as latitudes 15º e
30º Norte e Sul. Abrange, por isso, áreas como, por exemplo, os
desertos do Sara, da Namíbia (Calaári), do Arizona (Mojave), do
Atacama e do Grande Deserto Australiano. Contudo podemos encontrar
desertos em latitudes mais elevadas do globo em virtude de factores
locais como: a continentalidade, as barreiras orográficas e as
correntes marítimas.
Da observação do gráfico termopluviométrico, nota-se perfeitamente as fracas precipitações. No caso que serviu de exemplo, verifica-se que os meses mais pluviosos (Março, Agosto e Setembro), registaram, cada um deles, pouco mais que 10 mm de precipitação. Mas há locais onde a precipitação é praticamente igual a 0 mm. Podem-se passar anos sem cair uma única gota de água, mas, repentinamente, podem-se também desencadear chuvadas torrenciais, de curta duração (de alguns minutos a algumas horas), que originam enxurradas que arrastam tudo à sua frente. Há relatos históricos, da II Guerra Mundial, em que durante algumas destas chuvadas, tanques de combate foram arrastados pelas enxurradas como se fossem rolhas de cortiça. Os povos nómadas do deserto do Sara (os tuaregues) costumam dizer que "há duas maneiras de morrer no deserto: de calor e sede, ou afogados!"
Principais
características:
- As temperaturas
médias mensais são elevadas. Embora não seja facilmente observável
no gráfico, que dão a impressão de no clima desértico quente as
temperaturas médias mensais, não serem muito diferentes das dos
climas tropicais, a verdade é que são muito mais elevadas. O que se
passa, é que neste tipo de clima, além de apresentar uma amplitude
térmica anual relativamente acentuada (perto dos 200C),
possui amplitudes térmicas diurnas (durante o dia, ou as 24 horas),
elevadíssimas, Que são uma característica importante deste clima;
durante o dia, as temperaturas chegam a atingir os 500C,
mas durante a noite a temperatura tem valores próximos dos
00C e até mesmo temperaturas negativas, originando assim,
amplitudes térmicas diurnas de mais de 500C.
- amplitudes térmicas
anuais relativamente acentuadas, geralmente, superiores a 15º C;
- amplitudes térmicas
diurnas elevadíssimas, podendo ultrapassar os 30º C – Estas
amplitudes térmicas diurnas explicam-se devido à escassez de vapor
de água na atmosfera;
- precipitação rara e
irregular (menos de 250 mm por ano);
- não existe estação
húmida (podem passar-se anos sem cair uma gota de água, mas quando
chove é torrencialmente, formando-se enxurradas que tudo arrastam na
sua frente).
Nos desertos existe uma
grande escassez de água e humidade, influenciada por: altas pressões
permanentes (altas pressões subtropicais), rápida evaporação, forte
insolação, continentalidade, ventos fortes e secos e barreiras
orográficas. Neste
desenvolvem-se a vegetação xerófila que se adapta à
secura extrema e ás elevadas amplitudes térmicas. Com espécies
carnudas como por exemplo: os cactos, , figueira-da-índia,
agávea, tasneira, etc, que armazenam água nos caules,
adaptando-se à secura.
Com tanta secura ambiental, é óbvio que
a vegetação é rara e muito rudimentar, escassa ou mesmo nula. Nos
locais onde ainda consegue cair algumas chuvas, predomina a
vegetação herbácea baixa e pequenos arbustos, bem como alguns
cactos. Nas regiões onde as chuvas são extremamente raras, a
vegetação está completamente ausente: é o deserto absoluto, arenoso
ou pedregoso. Apenas nos Oásis (espaço com vegetação no meio do
deserto) onde as águas subterrâneas (toalha freática) estão próximas
da superfície ou nas margens dos raros cursos de água, surgem
áreas verdejantes, que são chamadas de oásis, podendo
até, nalguns deles, praticar-se a agricultura. por exemplo, as
margens do rio Nilo, não são mais do que um extenso oásis no meio do
grande deserto do Sara.Deserto absoluto | Vegetação rala sobrevive no deserto | Oásis |
|
|
A fauna dos desertos é
representada por animais pouco exigentes em água e alimentos:
algumas aves (como por exemplo a avestruz e o falcão), répteis
(cascavel e monstro-gila), roedores e insectos (como o escorpião).
Em relação aos mamíferos, os mais típicos dos desertos, são o camelo
e o dromedário, mas também existem outros, como a raposa. nas zonas
de transição, ou mais nas estepes, surgem uma variedade maior de
animais. Devido às elevadas temperaturas registadas durante o dia, a
grande parte dos animais dos desertos, são mais activos durante a
noite.
observação: os restantes desertos
assinalados na figura, mas sem legenda, apesar de serem desertos,
não são considerados desertos quentes.
Climas Temperados Embora se considere como zonas temperadas, as superfícies limitadas pelos trópicos e pelos círculos polares, a verdade é que nem todas as regiões situadas entre aqueles paralelos apresentam clima temperado. Ao estudar os climas, e principalmente os climas temperados, convém não esquecer dos diferentes factores climáticos: a influência da latitude, a continentalidade, as correntes marítimas (que afectam bastante o litoral Atlântico da Europa), e o relevo. Convém também ter presente, que na zona temperada, há regiões que são afectadas por uma "luta" entre massas de ar polar e massas de ar tropical, ou seja, o ar frio (polar) está numa área de contacto com o ar quente (tropical), originando aquilo a que se chama de superfície frontal. Muitos climas temperados, são afectados por esta constante "guerra" entre o ar quente e o ar frio.
A nível de estudo de Geografia em Portugal, em relação aos diferentes géneros de climas, são os climas temperados aqueles que mais importa reter as suas características, uma vez que é nestes tipos de clima que está incluído o nosso território, bem como a maior parte dos países da U.E. e do resto da Europa. Por isso, alerta-se os alunos para uma maior dedicação a estes climas e biomas.
Os climas temperados podem-se subdividir em quatro sub-grupos: Clima subtropical húmido ou clima temperado das fachadas orientais dos continentes ou tipo chinês, Clima clima Temperado Mediteterrâneo (ou sub-tropical seco); clima Temperado Marítimo (ou Oceânico); e clima Temperado Continental.
Figura- Clima
subtropical húmido
Estes climas localizam-se em regiões de latitudes médias, de
25 a 40º norte e sul, nas fachadas orientais dos
continentes.
Características do clima
Invernos suaves e Verões quentes
Amplitudes térmicas moderadas, superiores a
20ºC
A
precipitação é elevada durante todo o ano embora mais abundante no
Verão, podendo ser de neve no Inverno.
Atendendo às características das estações do ano, este clima
é um misto de continental, pelas grandes amplitudes térmicas, e
oceânico, pela elevada precipitação.
Esta combinação resulta do
facto de na zona temperada as massas atmosféricas se deslocarem de
oeste para este, o que leva a que as fachadas orientais sejam
atingidas por massas se ar mais frio no Inverno e mais quente no
Verão, resultantes do percurso feito nos continentes, ao contrário
das fachadas ocidentais, que são atingidas por massas de ar de
temperaturas mais amenas, resultantes do percurso feito nos
oceanos.
Esta região acusa a
instabilidade de massas de ar de natureza e trajectos diferentes. No
verão, as massas de ar tropicais marítimas, húmidas e instáveis
alcançam as costas orientais dos continentes e dirigem-se para o
interior, arrastando ar quente e húmido, o que origina grandes
precipitações. No Inverno, é mais comum a invasão de ar polar de
trajecto continental (que origina secura, que é amenizada pela
presença próxima do oceano.
O bioma que predomina é a floresta mista
ou de folhosas
As florestas mistas são assim designadas por
apresentarem espécies características de regiões tropicais
juntamente com outras espécies mais típicas de regiões
temperadas.
A floresta
mista, não é propriamente um bioma,
mas sim uma mistura, pois faz a transição entre o bioma de floresta
caducifólia e a taiga (que veremos adiante). Chama-se floresta mista
porque é composta por vegetação de folha caduca, bem como de árvores
de folha persistente, principalmente coníferas.
Encontram-se árvores de
grande porte mas com folhas mais pequenas do que nas florestas
tropicais. O grau de cobertura vegetal é mais ou menos denso e
existem aqui castanheiros, camélias, magnólias e loureiros. Num
estrato inferior encontram-se algumas palmeiras, bambus, arbustos e
plantas herbáceas. Há lianas enroladas nos troncos de árvores e
epífitas. Por outro lado, há musgos a cobrir muitos dos troncos das
árvores.
A fauna é também diversificada e rica. Muitos roedores
e animais pequenos coexistem com ursos, tigres e predadores de maior
porte
As regiões de Clima
Mediterrânico
O Clima Mediterrânico
(ou subtropical seco) distribui-se pela bacia do mar Mediterrâneo
(Sul da Europa e Norte de África), Califórnia, região central do
Chile, região do Cabo na África do Sul e Sudoeste da
Austrália.
Principais
características:
- Verões quentes, longos e secos
(temperatura média do mês mais quente compreendida entre os 21º e os
27º C e temperaturas máximas que podem atingir os 40º C) - (o número
de meses secos é por vezes superior a 5);
- Invernos são curtos,
húmidos e suaves (temperatura média do mês mais frio entre 6 e 10º
C);
- amplitudes térmicas
anuais moderadas (entre 6 e 17º C);
- A média do mês mais
quente é superior a 20ºC, por sua vez, a média do mês mais frio
nunca é inferior a 0ºC.
- A TMA (Temperatura
Média Anual), também é próxima dos 15ºC (sendo inferior a 20ºC);
- Fraca
nebulosidade.Mesmo no Inverno, registam-se longos períodos de céu
limpo e brilhante (normalmente associados à presença de
anticiclones);
-Precipitação escassa e
irregular, concentrando-se essencialmente nos meses de Outono e
Inverno, devido à maior influência das baixas pressões subpolares
nesta altura do ano (o total anual pode variar de 400 a 900 mm).
A secura do Clima
Mediterrânico, em particular no Verão, explica-se pelo facto de as
regiões entre os paralelos de 30º e 40º de latitude serem invadidas,
durante grande parte do ano, pelos anticiclones subtropicais que
dificultam a formação de nuvens e, portanto, de chuvas. No Outono e
no Inverno, os mesmos anticiclones retiram-se para latitudes
inferiores, deixando o caminho livre às perturbações frontais vindas
de Oeste, originando então chuvas mais ou menos abundantes e muitas
vezes acompanhadas de trovoadas.
- o número de meses
secos pode variar entre 4 e 7;
- Quatro estações bem
marcadas e distintas (Primavera, Verão, Outono e Inverno);
Para o distinguir com alguma facilidade
dos restantes climas temperados, é o único dos climas temperados que
apresenta período seco. Tem período seco no Verão. A secura do clima mediterrâneo, particularmente no Verão, explica-se pelo facto de as regiões onde ocorre este tipo de clima (entre os paralelos de 300 e de 400, de ambos os hemisférios) serem invadidas, durante grande parte do ano, pelos anticiclones subtropicais, que, como já se referiu, dificultam a formação de nuvens e, consequentemente, de precipitações.
No Outono e no Inverno, os mesmos anticiclones deslocam-se para latitudes inferiores (acompanhando o movimento anual aparente do Sol), deixando então, o caminho livre às perturbações frontais vindas de oeste, as quais originam chuvas mais ou menos abundantes e, muitas vezes, acompanhadas de trovoadas. Sendo a precipitação de origem frontal (associada à passagem das frentes);
Floresta Mediterrânea
-formação vegetal constituída por
árvores, geralmente de pequeno porte, cheias de nódulos e de folha
persistente e, por isso, sempre verde. É constituída por árvores
mais ou menos espaçadas entre si, que permite entre esses espaços, o
desenvolvimento de um estrato arbustivo mais ou menos denso e também
de folha persistente. Quanto ao estrato herbáceo, é pouco
desenvolvido, devido a grandes períodos de seca (no período seco).
Toda esta vegetação apresenta características de adaptação à secura
- folhas pequenas, raízes profundas e ramificadas e troncos
revestidos por casca espessa, como é o caso do sobreiro, a
azinheira, a oliveira-brava, alfarrobeiras, medronheiros,
zambujeiros, pinheiros (pinheiro-manso e pinheiro-de-alepo), o cedro
e o cipreste. A actuação humana sobre a floresta (principalmente
fogos, pastoreio, agricultura, procura de madeiras...), foi
destruindo a floresta mediterrânea original dando progressivamente
origem a formações vegetais secundárias: maquis e garrigue.
A floresta mediterrânea original, praticamente não existe. Essa floresta "primitiva" da Era Terciária, está actualmente presente em áreas muito restritas e relativamente afastadas da intervenção humana. Contudo ainda se podem observar em alguns locais, tais como na ilha da Madeira, Açores, Canárias, Cabo Verde. Mas outrora, cobriam vastas áreas da Europa Mediterrânea. Também se chama a essa floresta primitiva Laurissilva (as espécies dominantes são algumas variedades de loureiro - pelo menos quatro).
Maquis - Esta formação vegetal, também designada por chaparral ou matagal, é constituída principalmente por arbustos, muito densa e fechada, formando um matagal de difícil penetração (árvores-anãs). O maquis desenvolve-se, geralmente, em solos graníticos (silíciosos), onde outrora dominou o sobreiro. Entre as várias espécies de plantas que compõem o maquis, destacam-se o medronheiro, o loureiro, a urze, a giesta espinhosa, a piteira e alguns cactos.
Garrigue- É uma formação vegetal mais
aberta do que o maquis, constituída por vegetação arbustiva, mais ou
menos dispersos, e herbácea (formação vegetal que surge em
áreas onde o solo é mais pobre – de origem calcária – onde outrora
predominou a azinheira). Forma áreas muito aromáticas e onde
predominam a oliveira brava, o buxo, o carrasco, o alecrim, a
lavanda, o rosmaninho, a alfazema e o timo, entre outras
plantas aromáticas de muito pequeno porte. A vegetação dispersa-se
pela paisagem.
Com a destruição da floresta mediterrânea, foram também destruídas, ou levaram a
A distribuição do clima mediterrâneo e do seu bioma, como foi referido, não se confina exclusivamente à área mediterrânea, sendo as principais áreas abrangidas, não só toda a bacia do Mediterrâneo, como também a Califórnia, o centro do Chile, o Sul da África do Sul e o sul da Austrália.
O bosque mediterrâneo é o habitat de muitos animais: coelho,
raposa, javali, falcão, lobo, veado, bisonte, castor, gato-bravo,
pica-pau, gavião, mocho, …
Este género de clima
está essencialmente localizado nas fachadas ocidentais dos
continentes, entre os paralelos 400 e 600 de cada hemisfério (norte
e sul). Predomina na parte litoral da Europa ocidental, desde o
extremo norte de Portugal até à costa setentrional e ocidental da
Escandinávia, (embora, devido à influência da deriva da corrente
quente do golfo, possa atingir, na costa norueguesa, o círculo polar
árctico). Existe também em pequenas áreas do Noroeste dos EUA, no
Sudoeste do Canadá, no litoral sul do Chile, no sudeste da Austrália
e na Nova Zelândia.
Principais
características:
O clima temperado
marítimo (ou oceânico) caracteriza-se, no essencial, por:
- temperaturas médias mensais
amenas, sendo o Verão fresco (temperatura média compreendida entre
os 15 e os 20º C) e o Inverno pouco frio (temperatura média superior
a 5º C);
- amplitude térmica
anual pouco acentuada;
A amenidade das
temperaturas deve-se à proximidade do mar.
- Precipitações mais ou
menos abundantes, e mais ou menos regulares distribuídas ao longo do
ano, embora com máximos no Outono e Inverno e mínimos no
Verão.
- não tem meses secos;
- Grande nebulosidade,
podendo o céu manter-se encoberto durante vários dias ou
semanas.
- apresenta também as
quatro estações bem distintas entre si. É, dos climas temperados, o
único em que chove durante todo o ano e não tem temperaturas
negativas.
A abundância de
precipitação deve-se aos ventos húmidos que sopram do oceano e à
influência das baixas pressões subpolares, durante o Outono e
Inverno, e à passagem de superfícies frontais (a convergência
frontal é característica das latitudes médias e ocorre na fronteira
de massas de ar diferentes (temperatura e humidade), uma vez que
estas regiões são áreas de encontro de massas de ar de
características diferentes, sobretudo durante a época de
Inverno, altura em que, no hemisfério Norte, esses centros
barométricos se localizam mais para Sul. Na primavera e no
Verão, a proximidade do oceano como factor de clima determina a
humidade e a precipitação. é também devido à presença do mar
que as temperaturas se mantêm amenas todo o ano.
Floresta de Folha Caduca (daí o nome caducifólia) ou Floresta Caducifólia constituída maioritariamente por árvores altas e de grandes folhas. A floresta caducifólia, constitui um bioma, mas este, não está apenas restrito ao clima temperado marítimo, sendo mais extenso, e ocupando áreas maiores do que as regiões de clima temperado marítimo. As espécies mais comuns deste bioma, são: o freixo, o plátano, o carvalho-roble, a faia, o castanheiro, a tília, o choupo, o olmo, a bétula, a giesta, a urze e as silvas. Contudo, também podem coexistir algumas espécies de folha persistente, como o pinheiro-bravo, principalmente nas encostas montanhosas. A variedade das espécies arbóreas, faz com que a variedade de cores seja uma das características deste bioma. No Outono as folhas das árvores exibem cores características desse tipo de vegetação, como vermelho, alaranjado, dourado e cobre.
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Interior de uma Floresta Caducifólia. |
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Já foi referido que o bioma da floresta caducifólia, não corresponde totalmente às regiões de clima temperado marítimo. Assim, o mapa que se segue, diz respeito apenas às regiões do bioma de floresta caducifólia, embora nessas regiões estejam também áreas de clima temperado marítimo.
As regiões de Clima Temperado Continental
Localizado
sensivelmente à mesma latitude do clima temperado marítimo, mas no
interior dos continentes, como no Canadá, no centro dos EUA, no
interior da Europa, no interior Norte da Ásia, longe das influências
marítimas. Trata-se portanto dum clima rigoroso e agreste, que
quanto maior for a continentalidade, maior será o rigor dos
Invernos. Em termos práticos, só tem duas estações: O Verão e o
Inverno, pois as estações intermédias (Primavera e Outono) são
de curta duração e passam despercebidas.
Principais
características:
- Invernos longos,
secos e muito frios (as temperaturas podem atingir com frequência
valores inferiores a -15º C), enquanto os Verões são quentes, curtos
e e relativamente pluviosos;
- amplitude térmica
anual muito elevada, superior a 20º C, chegando a atingir, em
algumas estações, os 40º C;
- precipitações
relativamente escassas com máximos no Verão e mínimos no Inverno,
frequentemente sob a forma de neve;
- As
precipitações são mais ou menos escassas (veja-se os valores na
figura que serve de exemplo), com mínimos no Inverno (frequentemente
sob a forma de neve) e máximos no Verão. Neste tipo de clima, vemos
que as precipitações são muitas vezes de origem convectiva
;
Esta distribuição da
precipitação relaciona-se com a temperatura do ar. No Inverno, o ar,
em contacto com o solo muito frio, torna-se mais pesado e desce,
formando centros de altas pressões. No Verão, pelo contrário, em
contacto com o solo muito quente, torna-se mais leve e sobe,
formando centros de baixas pressões, responsáveis pela precipitação
mais abundante nesta altura do ano. - vegetação característica:
Pradaria ou Estepe Temperada (formação vegetal herbácea contínua,
muito densa e mais ou menos homogénea. Nas regiões onde este tipo de
clima é menos excessivo e mais pluvioso, surge a Floresta Mista,
assim chamada por ser constituída por árvores de folha caduca e por
árvores de folha persistente. As mais comuns são os pinheiros e os
abetos.
Dentro dos climas
temperados, o continental é muito facilmente identificado através de
gráficos termopluviométricos, pois é o único com temperaturas
negativas e em que a precipitação é mais abundante no
Verão.Ambientes biogeográficos - pradaria
A pradaria, por vezes também é designada por estepe temperada, é constituída por vegetação herbácea, muito densa, formando grandes extensões, relativamente alta, contínua, constituída por gramíneas vivazes (sempre vivas), com raízes muito profundas, que as ajudam a suportar o frio intenso e o gelo próprio do Inverno. Na Primavera, após o degelo, o solo torna-se verdejante, enchendo-se de flores no Verão, o que lhe dá um aspecto multicolor. Este imenso manto herbáceo chega ocasionalmente a ultrapassar os 2 metros de altura. Como o clima é rigoroso, praticamente não existem árvores, embora estas surjam com frequência nas encostas montanhosas e ao longo dos cursos de água.
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Figuras - Pradaria nos Estados Unidos
Quanto à fauna destas formações vegetais, ela é constituída por grandes herbívoros (pois o imenso manto herbáceo fornece abundância de alimentos), tais como bisontes, cavalos selvagens, veados, gazelas, etc... Como em locais onde há muitos herbívoros, também costuma haver bastantes carnívoros (predadores), destacam-se os lobos, raposas, cães-da-pradaria, coiotes, chacais, linces, etc... Também existem em grande quantidade, pequenos mamíferos (ratos, doninhas, marmotas), aves, répteis, muitos gafanhotos e mosquitos. Podem-se visualizar alguns dos animais típicos das pradarias (de vários continentes), clicando aqui. Em termos de distribuição geográfica do bioma de pradaria, está localizado nas áreas assinaladas na figura.
Climas Frios
Nestes géneros de climas, há que
ter em atenção duas situações distintas, ambas relacionadas com
factores climáticos, mas a cada uma delas, corresponde um factor
climático diferente e mais determinante. Num dos casos de climas
frios, para além da continentalidade, temos de ter igualmente em
atenção o efeito da latitude (caso dos climas frios temperados e dos
climas polares - ou desérticos frios), em que a obliquidade dos
raios solares é, naquelas latitudes (a partir dos paralelos de
600), sempre muito grande, pelo que, a quantidade de
energia solar recebida é muito pequena.O facro de estes lugares
estarem cobertos de gelo origina uma maior reflexão dos raios
solares e a perda de calor. Os invernos tornam-se muito frios devido
à longa duração da noite (nos pólos é de cerca de 6 meses) Como
consequência, o aquecimento é pequeníssimo e as temperaturas são,
obviamente, baixas. No segundo caso, temos os climas de altitude,
que podem ocorrer em qualquer zona climática, ou seja, em qualquer
valor de latitude, e independentemente de estarem a maior ou menor
continentalidade, pois neste caso, o factor determinante é a
altitude do relevo, que, de acordo com o gradiente térmico da
atmosfera (inferior), diminui em média (e em determinadas
circunstâncias atmosféricas), cerca de 60C por cada 1000
metros de altitude. Deste modo, podem-se dividir os climas frios em:
clima subpolar (ou continental frio);
clima polar (ou desértico frio); e climas de altitude (ou de montanha). São tanto
mais frios quanto mais se avança até às regiões polares.
As regiões de Clima Frio Continental ou Clima
Subpolar ou Subártico
Localiza-se no interior
dos continentes nas áreas de prolongamento do clima temperado
continental, sensivelmente entre as latitudes 55º e 65º N. É próprio
do Norte da Europa, da Sibéria, do Alasca e do Norte do
Canadá).
Nas zonas frias dos 60º Norte e sul estendem-se as zonas
frias, onde a zonalidade dos climas se restabelece e onde o factor
latitude volta a ser determinante. Alguns países como o Canadá e a
Sibéria têm um clima subpolar. Diferenciam-se nestas zonas
climáticas vários tipos de clima que correspondem às versões frias
dos climas temperados, ou seja, regimes térmicos e pluviométricos
idênticos, onde o efeito da latitude se acentua cada vez mais à
medida que nos aproximamos do pólo. Daí que se possa falar em
clima frio continental (siberiano) e clima frio
oceânico).
Clima Continental frio, principais áreas abrangidas -
principalmente a Europa Oriental ( sobretudo a Polónia e a Rússia),
o interior da Sibéria (na faixa dos 55º), a Manchúria (norte), norte
do Japão, norte dos EUA e o sul do Canadá.
Clima Subpolar, principais áreas abrangidas - países
nórdicos, Suécia, Finlândia, norte da Rússia (Sibéria), Alasca,
grande parte do Canadá.
Clima Sub-ártico,
é comum nas regiões de alta
latitude que por alguma razão tem seu
climograma amenizado no Inverno, sendo raro temperaturas abaixo
dos -10 C°, apesar da latitude. O clima sub-ártico pode ser seco,
como o encontrado no sul do
Chile
e da
Argentina, ou húmido, como o encontrado nas regiões costeiras da
Islândia e do norte da
Noruega.
Principais
características:
- Invernos muito frios
e longos , com temperaturas médias mensais negativas, podendo
atingir, nos meses mais frios, valores inferiores a
-200C(durante cerca de seis a oito meses a temperatura
desce abaixo dos 0º C), a temperatura média anual é de
aproximadamente -50C);
- Verões pouco quentes
e curtos , com temperaturas médias mensais que raramente atingem os
18ºC;
- Amplitudes térmicas
anuais muito elevadas (que pode ultrapassa os
300C);
- precipitações
bastante reduzidas (diminuindo progressivamente com a proximidade do
pólo), ocorrendo os seus máximos na época estival (Verão). No
Inverno, ocorre sob a forma de neve;
- vegetação
característica:
Ambientes biogeográficos - taiga ou floresta de coníferas
O bioma que mais caracteriza o clima subpolar será, possivelmente, a Floresta de Coníferas ou boreal. Na Sibéria esta floresta toma a designação de taiga. Situa-se nas altas latitudes, embora existam também áreas muito perto de zonas polares. É uma floresta monótona, constituída por árvores de folhas persistentes, resinosas e com forma de agulhas, muito densa, constituída por pinheiros ou abetos, de folha persistente, cujas árvores têm a copa e pinhas em forma de cone. A taiga é a mais extensa floresta do mundo, estendendo-se nas regiões setentrionais da América, da Ásia e da Europa.
O reduzido número de espécies e a predominância de árvores de folha persistente (as coníferas, de que o pinheiro é um exemplo, nunca perdem as folhas), fazem da taiga uma floresta monótona e sempre verde, quer no curto Verão, quer no Inverno. Porém, devido ao Inverno ser muito longo e frio, durante a maior parte do ano, a taiga está quase sempre coberta de neve. As coníferas aguentam muito bem o frio (até certos limites) porque, entre outras razões, as folhas pequenas e em forma de agulhas, possuem uma superfície pequena e portanto, a área exposta ao frio também é pequena, e perdem pouca água por transpiração; a sua resina protege os tecidos do frio e também ajuda a diminuir a transpiração; os ramos são muito flexíveis o que lhes permite resistir aos ventos e "bobram-se2 quando estão cobertos com muita neve, fazendo-a deslizar até ao chão.
Entre as espécies de fauna mais importantes da taiga, contam-se a rena, a lebre, o lobo, a raposa, a marta, o arminho, a lontra, o alce, o lince e o urso. Há também muitas aves, principalmente espécies migratórias, que para ali se deslocam no curto Verão. Porém, pode-se observar em mais pormenor as espécies de taiga, clincando aqui.
Mais uma vez se lembra que este bioma não corresponde apenas ao clima subpolar. A taiga, engloba partes do clima subpolar, do temperado continental e algumas espécies do clima polar. A localização das regiões de taiga pode ser observada na figura ao lado.
As regiões de Clima
Polar
Este clima surge nas
altas latitudes (70º a 80º) a norte dos continentes americano
(Alasca e Canadá) e
asiático (norte da Sibéria) e junto às regiões polares da Europa (Norte da
Escandinávia) e na maior parte da Islândia. Faz-se sentir também em grande parte da Gronelândia e
na Antártida.
Clima
polar
O clima desértico frio ou gelado
Principais
características:
- Invernos muito frios
e prolongados, com temperaturas negativas e que chegam a
atingir os -600C, ou mesmo, em alguns casos raros, a
ultrapassar os -800C (o recorde da temperatura mais baixa
registada - na Antártida - é de quase
-900C);
- Verões quase
inexistentes, embora durante um curto período de tempo (cerca de 2
meses) a temperatura possa atingir valores positivos, as
temperaturas do mês mais quente não ultrapassam, em média, os 10º C,
é quase as temperaturas do "nosso" Inverno);
- temperaturas médias
mensais negativas na maior parte dos meses do ano;
- amplitudes térmicas
anuais muito acentuadas;
-só existe, na
prática, uma estação: a fria;
- Precipitações
muito reduzidas e concentradas, em grande parte, no período menos
frio. Nos restantes meses ocorre sob a forma de neve;
Ambientes
biogeográficos - tundra
Nas regiões de clima polar, a taiga dá lugar à tundra, que é uma formação vegetal muito rasteira e monótona, apenas com alguns centímetros de altura, constituída por ervas, musgos e líquenes. Contudo, podem surgir na tundra, alguns raros e dispersos tufos de arbustos e árvores anãs. A vegetação raramente atinge 1 metro de altura, até o salgueiro-do-árctico (lenhosa) permanece junto ao solo onde está menos frio e o vento é menos violento.
No curto "Verão", se assim se pode chamar, a tundra não forma um tapete herbáceo contínuo, mas antes alterna com superfícies pantanosas e/ou grandes extensões de rocha nua. Trata-se da formação vegetal mais degradada e pobre da superfície da Terra.
Nestas áreas, a neve e o gelo formam como que um deserto branco, na maior do ano o solo está permanentemente gelado (permafrost). Permafrost é o solo (incluindo rocha, matéria orgânica e a água no solo - solo escuro) que permanece a temperaturas inferiores a 0ºC por períodos superiores a 2 anos em regiões árcticas (grandes latitudes) e em regiões montanhosas (grandes altitudes permanentemente geladas). O que dificulta o crescimento de raízes e a absorção de nutrientes minerais. Por isso (aliado aos ventos intensos e temperaturas baixas), quase não existe vegetação arbustiva e arbórea. E, latitudes muito altas, para lá dos 800, a tundra vai-se tornando mais escassa, acabando por desaparecer, já que o solo também desaparece sob um espesso manto de gelo.
Os climas de altitude (de montanha)
O clima de altitude
está presente nas regiões de altas montanhas e de planaltos elevados
e, normalmente, vão duma situação de frescura até ao muito frio.
Nestas regiões, as condições atmosféricas podem mudar com grande
rapidez e, devido à altitude que afecta bastante as precipitações,
este tipo de clima pode ser encarado como um reservatório de água,
uma vez que se encontra praticamente distribuído por todo o planeta.
Estes climas correspondem às áreas que independentemente da
sua localização em latitude, vêem alteradas as características dos
elementos climáticos, devido à existência de montanhas. Nas regiões
de montanhas a influência da altitude manifesta-se de forma
diferente na região intertropical e temperadas. Como a
temperatura diminui com o aumento da altitude (a diminuição da
temperatura à medida que se sobe em altitude; estima-se que essa
diminuição seja, aproximadamente de 0,65ºC por cada 100m – é o
gradiente térmico), nas regiões temperadas vamos encontrar neves
perpétuas a uma altitude mais baixa. Pelo contrário, nas regiões
quentes o factor altitude tem um papel amenizador das
temperaturas o que as torna áreas mais atractivas. Todavia, todas
elas registam diminuição da temperatura com o aumento da altitude e
a amplitude térmica diurna é significativa.
Da base da montanha até
ao topo existem como que diferentes climas, numa sucessão semelhante
à distribuição latitudinal dos climas. A precipitação é mais
abundante nas vertentes expostas aos ventos dominantes e à medida
que aumenta a altitude a precipitação sob a forma de neve torna-se
mais abundante.A vegetação vai acompanhar a variação do clima com a
altitude e distribui-se por patamares.
“ As montanhas são um factor azonal do clima(…) A disposição
do relevo, a altitude, a exposição e o volume (…) originam
verdadeiros tipos particulares de clima.
….( com efeito, a rarefacção do ar faz com que a massa
atmosférica absorva menos energia solar e o ar das montanhas retenha
pouco calor e atinja por isso temperaturas
baixas.”
Principais características:
Dum modo geral, poder-se-á dizer que
este clima, caracteriza-se por:- Precipitação abundante, ocorrendo em todos os meses do ano, normalmente, sob a forma de neve;
- Invernos muito frios. A temperatura, durante o Inverno, regista valores negativos;
- Verão: curto e fresco, praticamente inexistentes. A temperatura raramente vai além dos 12ºC;
- Amplitude térmica anual pode ir de fraca a moderada.
- amplitude térmica diurna bastante significativa (chegando a atingir os 25º C e os 30º C, devido; ao rápido aquecimento do ar durante o dia e ao arrefecimento muito brusco durante a noite);
Ambientes biogeográficos
Em termos de biomas/habitats, o clima de altitude é muito peculiar. Dum modo geral, quer plantas, quer animais, necessitam de se adaptarem a este tipo de clima. Ao contrário dos outros climas frios, em que as temperaturas baixas favorecem o aparecimento (e o desaparecimento) de determinadas espécies, no clima de altitude, para além das baixas temperaturas existem outros factores que não existiam em nenhum dos outros tipos de climas. Já foi referido que a pressão atmosférica varia com a altitude, e a composição do ar atmosférico também. Então, no clima de altitude, vamos encontrar espécies adaptadas a temperaturas baixa, espécies adaptadas a pouca pressão atmosférica, espécies adaptadas a pouca quantidade de oxigénio e de CO2 (que é indispensável à fotossíntese) e espécies adaptadas a pouca protecção de raios UV.
Dum modo geral, a vegetação dos climas de altitude, independentemente da região do M
Em termos animais, consoante a região do planeta, podem-se encontrar em locais de clima de altitude, o lama, a alpaca, a vicunha, a chinchila (pequeno roedor), o iaque (bovino), o condor, cabras de montanha, leopardo das neves, etc..
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