sexta-feira, 30 de julho de 2010

DIREITOS HUMANOS - DIREITO À EDUCAÇÃO



DIREITO À EDUCAÇÃO
A educação é um processo de aprendizagem e aperfeiçoamento, por meio do qual as pessoas se preparam para a vida. Através da educação obtém-se o desenvolvimento individual da pessoa, que aprende a utilizar do modo mais conveniente sua inteligência e sua memória. Desse modo, cada ser humano pode receber conhecimentos obtidos por outros seres humanos e trabalhar para a obtenção de novos conhecimentos. Além disso, a educação torna possível a associação da razão com os sentimentos, propiciando o aperfeiçoamento espiritual das pessoas.
Por tudo isso, fica evidente a importância da educação na vida de todos os seres humanos. A educação torna as pessoas mais preparadas para a vida mas também para a convivência. Com efeito, a pessoa mais educada tem maior facilidade para compreender as demais, para aceitar as diferenças que existem de indivíduo para indivíduo e para dar apoio ao desenvolvimento interior e social das outras pessoas. Por isso, a educação de cada um interessa a todos.
A educação de uma pessoa começa nos seus primeiros instantes de vida. Desde o momento em que nasce, o ser humano começa a receber orientação e treinamento, aprende a reagir perante situações criadas pela natureza, pela sociedade e vai adquirindo hábitos, que farão parte de seu modo de ser. E quando começa a observar o meio em que está vivendo e a ter possibilidade de tomar decisões, inicia seu processo de integração na vida social. E daí por diante cada fato e cada situação exercerão influência sobre a definição de sua personalidade. A pessoa adulta será o resultado da educação recebida desde os primeiros instantes de vida.
Como se verifica, a educação de uma pessoa começa na família ou no meio social em que a criança nasceu e passa a viver. Essa é a chamada educação informal, que é dada fora da escola, tanto à criança quanto ao adolescente e ao adulto. Ao lado dessa, existe, ou pelo menos deve existir, a educação formal, que é dada na escola. Não se pode dizer que uma seja mais importante do que a outra, pois na realidade ambas podem ter influência decisiva na vida de qualquer pessoa.
Até há poucos anos, se considerava que a educação informal tinha a principal responsabilidade pelo bom desenvolvimento psicológico das pessoas e por seu preparo básico para a vida social. Isso porque durante os primeiros. anos de vida, quando a pessoa recebe os ensinamentos iniciais sobre como se comportar no relacionamento com outras pessoas, não existe ainda o contato com a escola. Depois disso, considerava-se normal que as pessoas passassem mais tempo com a família do que no ambiente escolar. Por esses motivos, considerava-se que a escola era um complemento da família.
Mas no mundo atual, a situação já não é a mesma. Os sistemas de vida de quase todos os povos deixam pouco 'tempo e reduzidas possibilidades para a vida familiar. Aumentou muito o número de grandes cidades, nas quais a maioria das pessoas adultas passa a maior parte do dia fora de casa, além de perder muito tempo com a locomoção. E mesmo nas cidades menores, já se tornou comum que quase não exista convivência no lar. Todos esses fatores reduziram muito a possibilidade de educação informal.
Além disso, aumenta cada vez mais a influência dos conhecimentos técnicos e científicos, e de outros adquiridos na escola, sobre o progresso individual e social dos seres humanos. E os meios de comunicação de massa, transmitindo informações e conhecimentos, bem como sugestões sobre comportamentos, podem ter influência decisiva na vida das pessoas que não estiverem bem preparadas para avaliar racionalmente essas transmissões.
Por todas essas razões, tornou-se praticamente indispensável a boa educação escolar, a fim de, que a pessoa possa desenvolver sua personalidade e esteja bem preparada. para a vida social. É por isso que se inclui o direito à educação, tanto na família quanto na escola, como um direito fundamental da pessoa humana.
A possibilidade de receber educação na família e na sociedade, fora da escola, depende das condições gerais da vida social. Os valores predominantes na sociedade, as condições econômicas, os costumes, tudo isso é importante, mas são formas indiretas de promover a educação e não estão imediatamente ligadas ao que se costuma chamar de sistema educacional. Este compreende o conjunto de escolas, de todos os níveis, em funcionamento no país, num Estado ou numa cidade.
Para que o sistema escolar possa desempenhar bem suas funções, que são da máxima responsabilidade, é preciso que as escolas tenham como objetivo principal dar boa formação e bom preparo aos alunos. Todos os demais objetivos devem vir depois desse.
Assim, por exemplo, quando um grupo de pessoas resolve abrir uma escola e fazer disso o seu meio de vida (ganhar dinheiro), é evidente que precisam cobrar dos alunos, para terem um bom prédio, com equipamento adequado, para terem bons professores e para que não falte o material escolar necessário. Além disso, precisam também do dinheiro para sua própria subsistência. O que não se pode admitir é que organizem e dirijam a escola tendo como principal objetivo ganhar dinheiro, deixando em posição secundária a preocupação com a qualidade do ensino.
Outra exigência fundamental é que todos, sem qualquer exceção, tenham igual oportunidade de educação. Não basta dizer que todos têm o mesmo direito de ir à escola, é preciso que tenham também a mesma possibilidade. Na realidade, não está assegurado para todos o direito à educação onde não existe escola ou quando não há escolas suficientes. Não está assegurado esse direito quando os pais não podem pagar as taxas da escola e comprar os livros e o material escolar, ou quando a pobreza obriga as crianças a procurar trabalho muito cedo, não lhes deixando tempo e disposição para a escola.
Além da manutenção de escolas em ,quantidade suficiente, em todos os núcleos habitacionais e dentro das possibilidades econômicas de todos os que precisam da educação, é necessário que as escolas tenham igual nível de qualidade. Não é justo que as escolas da zona rural não tenham o mesmo equipamento que se encontra na zona urbana, assim como não é justo que as escolas dos bairros pobres sejam inferiores, em qualquer sentido, às dos bairros ricos. Todos devem ter o direito à educação da mesma qualidade.
A educação básica, para as crianças, deve receber o máximo apoio, mas os adolescentes e adultos também têm direito à educação. O sistema escolar deve estar no seu alcance, de tal modo que seja possível conciliar outras atividades, como o trabalho e as responsabilidades da família, com a procura de aperfeiçoamento através de cursos e outros meios de aprendizagem. Quanto mais educação a população receber, maior será a possibilidade de criação intelectual e, em consequência, de independência do país.
A educação deve ser prioridade de todos os governos, pois através dela as pessoas se aperfeiçoam e obtêm elementos para serem mais úteis à coletividade. Dando-se bastante apoio à educação, muitos problemas desaparecerão, porque as pessoas estarão mais preparadas para a convivência, e haverá maior participação no estudo e na decisão dos assuntos de interesse comum. É necessário e justo que os recursos 'da sociedade sejam utilizados para estender a todos, de modo igual, o 'direito à educação.

Fonte: Viver em Sociedade - Dalmo de Abreu Dallari

1 – Qual a importância da educação na vida de todos os seres humanos?
2- Quando começamos a aprender?
3 - Qual a diferença entre educação informal e formal?
4 – O autor do texto afirma que no mundo atual a educação escolar indispensável. Quais fatores podemos relacionar a importância da educação escolar hoje?
5 - Escolha uma frase que foi fornecida pelo professor e explique seu significado.
6 - Fazer um desenho apontando os principais problemas presentes na nossa escola.

7 – Imagine a escola de seus sonhos e faça um mural (cartolina) representando essa escola. Você pode utilizar recorte de jornas, de revistas, desenhos, impressão de imagens da internet.

DIREITOS HUMANOS - DIREITO DE PARTICIPAR DAS RIQUEZAS


O homem não cria a 'natureza. O que os seres humanos fazem, com o seu trabalho, é transformar a natureza, aproveitando as riquezas da terra e do mar, os minerais do subsolo, a vegetação, os animais, dandoIhes utilidade ou procurando satisfazer as necessidades e os desejos de uma parcela da humanidade. O máximo que o homem consegue fazer é colaborar com a natureza, criando condições mais favoráveis para que as riquezas naturais se reproduzam.

Se a natureza é apenas transformada pelo trabalho dos seres humanos, como se justifica que alguns se comportem como donos da riqueza produzida, especialmente quando foram outros que trabalharam para produzi-Ia? E como justificar que alguns utilizem essa riqueza de modo egoísta, acumulando com exagero e muito acima de suas necessidades aquilo de que outros têm extrema necessidade para sobreviver ou para viver com um mínimo de dignidade?

Não existem documentos ou dados de qualquer espécie que possam esclarecer como foi que uns homens começaram a agir como donos da riqueza produzida por outros. Mas é fácil verificar que a distribuição das riquezas, como é feita no mundo de hoje, contém muitas injustiças. Pessoas que não trabalham e nunca trabalharam têm patrimônio e renda muito elevados, enquanto outras que sempre trabalharam muito não têm e não conseguem sequer o essencial para morar, vestir e se alimentar de acordo com as exigências da dignidade e da natureza humanas.

Ê comum, também, que alguns vivam ostentando riqueza, gastando muito dinheiro com coisas supérfluas, desperdiçando bens valiosos para a humanidade, como os alimentos, com absoluto desprezo pelas necessidades alheias, visando apenas à satisfação de sua vaidade ou de seus caprichos. Enquanto isso, outros lutam desesperadamente para conseguir o mínimo indispensável para não morrer de fome, de frio ou de doenças conseqüentes da falta de um mínimo de bem-estar material.

Há quem procure justificar sua satisfação privilegiada, de dono de muitas riquezas, afirmando que tudo o que possuem é fruto de trabalho honesto. Na realidade, porém, existem muitos casos em que a riqueza acumulada não é produto de uma atividade honesta. Muitos enriqueceram enganando outras pessoas, apoderando-se do que não era seu, usando de modo indevido um cargo publico ou uma posição política, valendo-se de amizades ou corrompendo outras pessoas para obterem proveito ilícito. '

Na realidade, no mundo moderno existe um número muito grande de situações em que não há qualquer relação entre a riqueza e o trabalho, situações em que os que trabalham são pobres e os que nunca trabalharam são ricos.

O exemplo mais acentuado desse desligamento é o direito de herança. Um recém-nascido que, evidentemente, nunca trabalhou e não se sabe se virá a trabalhar nem como irá utilizar sua riqueza, já nasce dono de um grande patrimônio e já tem assegurada uma renda elevada pelo simples fato de ser filho de um homem rico. Outro já nasce pobre, sofrendo privações antes mesmo de nascer e tendo a perspectiva de uma vida cheia de novas privações e de sofrimentos, mesmo que trabalhe muito, pelo simples fato de ser filho de um homem pobre. Nem o rico nem o pobre podem mostrar virtudes ou falhas morais no momento em que nascem. No entanto, sem nenhum mérito ou nenhuma culpa, um é premiado pelo acaso de ser filho de um rico, outro é castigado pela circunstância de ser filho de um pobre.

Mesmo que se suponha que uma criança esteja nascente na pobreza porque seu pai não é dado ao trabalho, é evidentemente injusto castigar o recém-nascido e condená-lo a uma vida de miséria por uma falta que ele não cometeu. Por outro lado, mesmo admitindo como justo que um pai procure assegurar a seus filhos um padrão de vida digno, com possibilidade de acesso a todos os bens e serviços que a sociedade proporciona, isso não deve significar a garantia de uma posição social privilegiada, com superioridade econômica ilimitada e sem qualquer responsabilidade social.

A solução justa para o problema do direito de participação nas riquezas existentes e que foram produzidas só pode ser obtida pela conjugação de várias medidas. Antes de tudo, é indispensável assegurar a todos os seres humanos, no momento em que nascem, igual oportunidade de acesso às riquezas, desde que desenvolvam atividade socialmente útil. É preciso, também, que não se admita a excessiva acumulação de riquezas. A possibilidade de enriquecimento sem limites' tem estimulado a ambição por riquezas materiais" contribuindo para acentuar o egoísmo de muitas pessoas, que, mesmo sendo muito ricas, ignoram as necessidades dos pobres e chegam até a explorá-los deliberadamente, buscando sempre acumular mais riqueza.

A par disso, é preciso que as pessoas aprendam desde a infância a não valorizar demais as riquezas materiais. Nas sociedades modernas, sobretudo onde prevalecem os valores do capitalismo, os seres humanos são avaliados pela riqueza que possuem. Não importa a origem da riqueza nem o modo como ela é usada: basta uma pessoa ser rica para ter grande prestígio social. Isso é injusto, porque muitas vezes o que tem menor riqueza é infinitamente mais útil à humanidade e porque o fato de ser rico não é prova de virtude, como o fato de ser pobre não é prova de culpa.

Fonte: Viver em Siciedade - Dalmo de Abreu Dallari

DIREITOS HUMANOS - DIREITO AO TRABALHO EM CONDIÇÕES JUSTAS


O trabalho permite à pessoa humana desenvolver sua capacidade física e intelectual, conviver de modo positivo com outras pessoas e realizar-se integralmente como pessoa. Por isso, o trabalho deve ser visto como um direito de todo ser humano.

Mas o trabalho é, ao mesmo tempo, o modo pelo qual cada pessoa expressa a solidariedade devida às demais pessoas, é o meio através do qual cada um dá sua retribuição por tudo o que recebe dos demais. Visto deste ângulo, o trabalho é um dever de toda pessoa humana.

Todas as atividades que contribuam para melhorar a qualidade de vida das pessoas, aumentando o bem-estar material, proporcionando satisfação estética, favorecendo o equilíbrio psicológico propiciando a paz espiritual, são dignas e úteis.

Assim, todos os trabalhadores são igualmente merecedores de respeito, seja qual for o trabalho que executem, pois todos contribuem para que as outras pessoas tenham atendidas suas necessidades básicas e possam viver melhor.

Em muitas sociedades, são mais valorizados os que realizam trabalhos intelectuais, gozando de menor prestígio social os que se dedicam a trabalhos físicos. De modo geral, entretanto, essa diferenciação já não é tão evidente como foi até há pouco, sendo outros os critérios para a conquista de prestígio e de melhor retribuição.

Assim, por exemplo, na sociedade brasileira gozam de situação mais vantajosa os banqueiros e dirigentes de instituições financeiras, os empresários industriais e comerciais e os que atuam com evidência nos esportes profissionais e nas atividades recreativas trabalhos tipicamente intelectuais, como o do professor e do escritor, são muito mal remunerados e não asseguram especial consideração perante a sociedade, que nos últimos anos foi condicionada a valorizar mais as pessoas que demonstram ter conseguido maior sucesso econômico. O preparo intelectual e a contribuição para o bem da humanidade são quase irrelevantes, valendo mais a capacidade para ganhar dinheiro e acumular riqueza, o que é absurdo, pois geralmente quem mais acumula riqueza é menos útil aos outros seres humanos. "

Numa organização social justa, não se pode admitir que haja grande diferença de nível entre os trabalhadores de qualquer espécie. Todo trabalho socialmente útil é digno e merecedor de respeito, não sendo admissível que uma pessoa valha mais ou valha menos do que outra por causa da natureza do trabalho que cada uma executa. Assim, pois, o que importa não é a natureza do trabalho, mas a utilidade social que dele resulta, jamais se justificando grande diferença de remuneração entre um trabalho e outro.

Sendo necessário para a preservação e a promoção da dignidade humana, tanto daquele que o realiza como dos que recebem seus benefícios, o trabalho deve ser livre. Toda pessoa humana deve ter liberdade para escolher seu trabalho. Quando alguém é obrigado, pela força, a executar determinada tarefa, não se pode dizer que esteja sendo realizado um trabalho. O que está ocorrendo é a imposição de um castigo ou de uma coação que humilha e degrada o ser humano. Por esses motivos, a :Declaração Universal dos Direitos Humanos condena a escravidão, e esta é considerada crime em grande número de países'.

Outro aspecto importante relacionado com o direito ao trabalho é o que se refere às condições em que este se realiza. Muitos trabalhos são reconhecidos como perigosos porque põem em risco a integridade física ou mesmo a vida do trabalhador. Nesse caso, é indispensável que se procure reduzir quanto possível o risco existente e, assim mesmo, só se realizando o trabalho se ele for mesmo necessário para a sociedade. Muitas vezes, um trabalho é executado com grande risco porque o empregador ou contratante do trabalho quer obter maior lucro e determina a execução pelo modo mais perigoso ou sem dar ao trabalhador a proteção que poderia ser dada. Isso é injusto. Existem outros trabalhos que são realizados em condições insalubres, sujeitando os trabalhadores a doenças ou a conseqüências maléficas para o seu organismo . Também nesse caso não é justo ,deixar de reduzir a insalubridade ou de oferecer a maior proteção ao trabalhador só para obter uma produção mais barata e ganhar mais dinheiro. Assim também, não é justo determinar que se realize um trabalho insalubre se ele não for necessário ou, pelo menos, muito útil para a sociedade.

Nesses dois casos, o do trabalho perigoso e o do insalubre, é freqüente que os contratantes do trabalho procurem afastar suas responsabilidades, afirmando que ninguém é obrigado a realizar esses trabalhos, só os aceitando quem quiser. O fato é que muitos trabalhadores concordam em correr os riscos ou aceitar as conseqüências do trabalho perigoso ou insalubre porque são pobres, necessitam da remuneração e não conseguem trabalho melhor.

Outras vezes, empregadores ou contratantes do trabalho afirmam que não há injustiça porque pagam um salário um pouco mais elevado quando existe risco excepcional ou as tarefas devem ser executadas em condições prejudiciais à saúde do trabalhador. Na realidade, é absurdo admitir que alguém possa adquirir, mediante pagamento, o direito de prejudicar a integridade física ou pôr em risco a vida de um trabalhador.

No Brasil, essas questões são especialmente importantes, pois de acordo com informações da Organização Internacional do Trabalho, nosso país é um dos campeões de acidentes de trabalho no mundo. Isso acontece porque as leis brasileiras dão às empresas a possibilidade de manterem condições de trabalho perigosas ou insalubres, mediante o pagamento de um pequeno acréscimo no salário do trabalhador. E os empresários, mais preocupados com o lucro do que com as injustiças, preferem pagar esse acréscimo e não melhorar as condições de trabalho.

Relativamente às condições justas do trabalho, é preciso considerar o problema da remuneração dos trabalhadores. A remuneração deve ser justa, o que significa que ela deve proporcionar aos trabalhadores e suas famílias a possibilidade de viverem com dignidade, satisfazendo suas necessidades fundamentais.

A Constituição estabelece que deve ser pago aos trabalhadores brasileiros um salário mínimo, suficiente para satisfazer as necessidades básicas do trabalhador e de sua família. Entretanto, a própria lei fixou um critério de cálculo segundo o qual só se consideram as necessidades do próprio trabalhador e não os de sua família. Além disso, o critério fixado não levou em conta o aumento dos preços das mercadorias e dos serviços de que os trabalhadores necessitam. Por isso, está havendo um empobrecimento dos trabalhadores, que, muitas vezes, ganham menos do que o necessário para suas necessidades básicas.

O trabalho em condições dignas e seguras, com remuneração justa, é um direito e um dever de todos os seres humanos. Existe negação a esse direito quando não são asseguradas todas essas condições.

Fonte: Viver em Sociedade - Dalmo de Abreu Dallari

DIREITOS HUMANOS - DIREITO À MORADIA E À TERRA


A moradia é uma necessidade essencial dos seres humanos. Desde os tempos mais antigos de que se tem notícia, até os dias de hoje, sempre o homem procurou um lugar para morar, tanto podendo ser uma simples caverna, uma choça ou uma cabana, como uma casa luxuosa, de acordo com a época, o lugar e as possibilidades econômicas de cada um. Essa procura é conseqüência de uma necessidade, não de um capricho, e por isso se deve assegurar a todos os seres humanos o direito à moradia.

:B na moradia que a pessoa humana encontra o seu abrigo, tanto para se defender do frio, do calor, da chuva, dos animais ferozes ou nocivos e de todos os rigores da natureza, quanto para se defender dos perigos e pressões da vida social. É na moradia que os seres humanos guardam e preparam os alimentos indispensáveis à sobrevivência e é ,.na moradia que depositam ou recebem a água, outro bem essencial da vida. Só isso já bastaria para que se reconhecesse o direito de moradia como fundamental para a pessoa humana.

, A moradia é também um lugar de repouso físico e espiritual para os seres humanos. O homem, como todos os animais, tem necessidade de repousar para continuar vivendo. Mesmo as pessoas mais dinâmicas e que mais apreciam a convivência com grupos humanos necessitam de repouso e por isso têm. necessidade da moradia. Assim acontece também com as pessoas que se dedicam à vida pública. Além da exigência física de sono e de descanso, elas necessitam de horas de tranqüilidade'

e de recolhimento espiritual. Nenhum ser humano conseguirá manter-se em atividade permanentemente nem poderá refazer sua energia física e preservar sua capacidade mental sem algumas horas diárias de repouso do corpo e do espírito. Por esses motivos, a todos os seres humanos deve ser garantido o direito à moradia.

Para cumprir suas finalidades, a moradia deve ser digna, condizente com as exigências da natureza humana, devendo ser bem melhor do que o abrigo precário e rudimentar de um animal irracional. A moradia 'deve te!' a marca do ser humano que a utiliza, refletindo suas necessidades, seus gostos, suas crenças e seus valores.

Assim, pois, a moradia deve proporcionar o conforto e a proteção reclamados pelo corpo humano. Mas deve também oferecer condições para satisfação das necessidades espirituais dos seres humanos. Ela deve ser um lugar onde o morador possa encontrar repouso espiritual, possa cultivar suas crenças, ter condições para a reflexão e para a expansão de suas necessidades estéticas e afetivas.

A moradia deve ser, ainda, um lugar de recolhimento, no qual a intimidade do ser humano e da família seja resguardada, sem interferência das autoridades ou de particulares, e sem exposição à curiosidade pública.

A par disso tudo é preciso que a moradia seja assegurada à pessoa em caráter permanente. Não está garantido o direito à moradia quando, por decisão arbitrária de alguém, o morador pode ser posto fora a qualquer tempo. Também não existe respeito ao direito à moradia quando uma pessoa ou uma família podem ser atirados à rua e ao desabrigo porque não puderam, apesar de seus esforços, e por motivos alheios à sua vontade, continuar pagando pela moradia.

Assim, pois, é necessário que as pessoas possam morar dignamente e com razoável conforto, de tal modo que as condições da moradia sejam boas e que haja nas proximidades tudo o que é indispensável para atendimento das necessidades básicas de .uma pessoa e de sua família. É preciso, também, que o morador tenha fácil acesso ao local de trabalho, a fim de que possa permanecer bastante tempo convivendo com a família e repousando e para que não seja forçado a gastar com transporte uma grande parte de sua remuneração.

Na sociedade brasileira atual o direito à moradia não está assegurado, especialmente nas cidades médias e grandes. O alto custo dos imóveis impede que muitas pessoas se tornem proprietárias. Existem muitos terrenos vagos, e o número de casas é insuficiente para a quantidade de pessoas e de famílias, e por isso os aluguéis são muito altos e aumentam mais que os salários. Por esses motivos, existem tantas favelas e tantos cortiços, onde vivem pessoas amontoadas, sem nenhum conforto e sem a possibilidade de cuidados de higiene. É preciso dar condições a essas pessoas para viverem com dignidade. É preciso dar a elas o direito de morar.

Para os que. trabalham no campo e não são proprietários da terra, o problema da moradia é também muito importante. Hoje existem muitos trabalhadores rurais morando em favelas nas cidades e sendo transportados diariamente em caminhões, sem conforto e segurança, para o local de trabalho. E ali permanecem o dia todo, alimentando-se mal, sem a possibilidade de uma vida familiar, só retornando para a favela à noite, para sair de novo na madrugada seguinte.

O modo melhor e mais justo de assegurar o direito de moradia aos trabalhadores do campo será dar condições para que cada um seja dono da terra em que trabalha. Quando cada trabalhador ou cada grupo de famílias de trabalhadores tiver sua própria terra, eles viverão melhor e cuidarão de sua moradia.

Enquanto não se chega a esse ponto, é indispensável procurar outros meios de garantir a essas pessoas o direito de morar. Uma solução será reservar sempre um pedaço da terra para moradia dos que nela trabalharem. Mas a moradia deverá ser digna e confortável com as mesmas condições que devem ser oferecidas aos trabalhadores das cidades, inclusive com escolas, cuidados de saúde e oportunidades de lazer e recreação. E quando o proprietário da terra não quiser reservar uma parcela para moradia de seus trabalhadores, deverá contribuir para que estes morem dignamente na cidade.

Deve ser assegurado a todas as pessoas, não apenas em palavras mas concretamente, o direito à moradia, sem o qual nenhum ser humano poderá satisfazer todas as suas necessidades materiais e espirituais.

Fonte: Viver em Sociedade - Dalmo de Abreu Dallari

DIREITOS HUMANOS - DIREITO À IGUALDADE DE OPORTUNIDADES

Há quase dois mil anos o Cristianismo vem pregando que os seres humanos são todos iguais. A Declaração Universal dos Direitos Humanos também afirma isso, dizendo no seu preâmbulo que todos os seres humanos nascem iguais em dignidade e direitos. Em quase todas as Constituições do mundo está escrito que todos são iguais perante a lei.

Pois apesar de todas essas afirmações, repetidas e reforçadas por muitos filósofos e' pensadores políticos, o que se vê na realidade é que as pessoas são tratadas como desiguais. As próprias leis garantem a desigualdade, e nos costumes de quase todos os povos encontram-se muitas práticas baseadas na desigualdade, podendo-se ver claramente que em grande número de situações as pessoas não são tratadas como iguais.

Essas leis e esses costumes já se acham tão arraigados que quase todas as pessoas consideram normal o tratamento desigual. E existem mesmo pessoas que falam e escrevem que todos são iguais e não percebem que, na prática, agem como se os seres humanos nascessem e continuassem desiguais.

Para perceber e corrigir essas contradições é preciso, em primeiro lugar, compreender o que significa afirmar que todos nascem iguais. É evidente que as pessoas nascem fisicamente desiguais, sendo diferentes nas feições, no tamanho, na cor da pele e em inúmeras outras características físicas. Não é, portanto, essa igualdade que se está afirmando.

Quando se diz que todos os seres humanos nascem iguais, o que se está afirmando é que nenhum nasce valendo mais do que outro. Como seres humanos, todos são iguais, não importando onde nasçam, quem sejam seus pais, a raça a que pertençam ou a cor de sua pele. Se todos nascem iguais, valendo a mesma coisa, como se explica que uns já nasçam muito ricos, tendo toda assistência, proteção e conforto, enquanto outros nascem miseráveis, mal podendo sobreviver, sem cuidados médicos e sem a certeza de que terão os próprios alimentos indispensáveis à vida? Como justificar essa diferença de situações e de possibilidades, se no momento em que nascem as crianças são iguais e não existe como saber o que cada uma fará de bem ou de mal, de útil ou de inútil, durante sua vida?.

Aí está, justamente, a principal diferenciação estabelecida pela sociedade contra a natureza, acarretando conseqüências para a vida inteira das pessoas. Os seres humanos nascem iguais, mas a sociedade os trata, desde o começo, como se fossem diferentes, dando muito mais oportunidades a uns do que a outros. E isso é apoiado pelas leis e pelos costumes, que agravam ainda mais o tratamento desigual e criam grande número de barreiras para que aquele que foi tratado como inferior desde o nascimento consiga uma situação melhor dentro da sociedade.

Assim, por exemplo, um menino que nasce numa favela é igual ao que nasce numa família rica e vale o mesmo que este, mas dificilmente o favelado conseguirá boa alimentação e boas escolas e desde cedo será tratado como um marginal. Essa discriminação irá acompanhá-lo pela vida inteira. Fica bem evidente, portanto, que um menino nascido numa favela não tem o direito à igualdade de oportunidades, embora a própria lei diga que todos são iguais.

Mas não é só por nascer na pobreza que muitas pessoas são tratadas como inferiores às outras. É negado o direito à igualdade em todos os casos de discriminação social e de preconceito de raça, de cor e de sexo. Quando alguém é impedido, direta ou disfarçadamente, de se hospedar num hotel, de permanecer num restaurante ou de freqüentar um clube por causa de sua cor ou de sua raça, está sendo negado o direito à igualdade. O mesmo se dá quando, antes mesmo de conhecer uma pessoa, de verificar seus costumes e comprovar sua capacidade, outras pessoas julgam que ela será mal-educada, ignorante ou incompetente, baseando-se apenas na raça, na cor ou no sexo da pessoa discriminada.

Assim, pois, todas as vezes em que uma pessoa é vítima de preconceitos, ocorre a negação do direito à igualdade. É por isso que a Organização das Nações Unidas condena os preconceitos, e em muitos países existem leis proibindo que as pessoas sejam tratadas como inferiores por motivo de raça, de cor ou de sexo. Essas leis procuram garantir para todas as pessoas o direito à igualdade, partindo da idéia de que todos nascem iguais e são naturalmente iguais.

Mas a experiência tem demonstrado que adianta muito pouco a lei dizer que todos são iguais e proibir que umas pessoas sejam tratadas como inferiores às outras se não for garantida a igualdade de oportunidades para todos desde o nascimento. Com efeito, quando uns nascem ricos e outros pobres, as oportunidades são muito diferentes e por isso as pessoas se tornam socialmente diferentes, desprezando-se a igualdade natural.

Não basta afirmar que todas as pessoas são iguais por natureza. Para que essa afirmação tenha resultados práticos é preciso que a sociedade seja organizada de tal modo que ninguém seja tratado como superior ou inferior desde o instante do nascimento. É preciso assegurar a todos, de maneira igual, a oportunidade de viver com sua família, de ir à escola, de ter boa alimentação, de receber cuidados de saúde, de escolher um trabalho digno, de ter acesso aos bens e serviços, de participar da vida pública e de gozar do respeito dos semelhantes.

Todas as pessoas nascem iguais em dignidade, e nada justifica que não sejam dados os mesmos direitos a todos. Todos têm igual direito ao respeito das outras pessoas, e nada justifica que não tenham, desde o começo, as mesmas oportunidades.

Fonte: Viver em Sociedade - Dalmo de Abreu Dallari

DIREITOS HUMANOS - DIREITO À LIBERDADE REAL


A Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que todas as pessoas nascem livres. A mesma coisa foi dita por muitos filósofos e estudiosos da natureza e do comportamento dos seres humanos. Essa é uma afirmação muito importante, pois quer dizer que a liberdade faz parte da natureza humana. Por esse motivo o direito à liberdade não pode ser tirado dos seres humanos, porque sem liberdade a pessoa humana não está completa.
Para que se diga que uma pessoa tem o direito de ser livre, é indispensável que essa pessoa possa tomar suas próprias decisões sobre o que pensar e fazer e que seus sentimentos sejam respeitados pelas outras.
O direito de ser livre deve existir, portanto, no plano da consciência. Ninguém é livre se não pode fazer sua própria escolha em matéria de religião, de política ou sobre aquilo em que vai 'ou não acreditar, ou se é forçada a esconder seus sentimentos ou a gostar do que os outros gostam, contra sua vontade. Assim sendo, a liberdade de pensamento, de opinião e de sentimento faz parte do direito à liberdade, que deve ser assegurado a todos os seres humanos.
Mas o direito de' ser livre não deve ser limitado apenas ao pensamento e ao sentimento das pessoas. É preciso que também em assuntos de ordem prática, naquilo que as pessoas fazem em sua vida diária, esse direito seja respeitado. Para que uma pessoa tenha o direito de ser livre é necessário que possa escolher o seu modo de vida e planejar o seu futuro. É indispensável, também, que possa escolher uma profissão de acordo com seu gosto e sua capacidade, que possa constituir uma família e viver com ela, 'que possa, enfim, tomar suas próprias decisões sobre todos os assuntos de seu interesse.

Muitas vezes tem acontecido que um indivíduo ou um governo procure tirar a liberdade de muitas pessoas, ou controlar a vida" e o comportamento dessas pessoas, alegando que elas não estão preparadas para agir livremente ou que o excesso de liberdade de uns prejudica os interesses de outros. É isso que fazem os regimes políticos chamados totalitários, como as ditaduras, ou os regimes autoritários. Eles deixam as pessoas agirem livremente quando se trata de assunto de pouca importância, mas não deixam as pessoas escolherem livremente o governo ou outras coisas muito importantes.Na realidade, o que é prejudicial é tirar das pessoas o direito de serem livres, pois a liberdade, sendo uma exigência da própria natureza humana, não acarreta prejuízos ou maldades. O que muitas vezes tem trazido prejuízo é a falsa liberdade, é o abuso que certas pessoas cometem com a desculpa de que podem fazer tudo porque são livres.

Quando alguém vai exercer o direito de liberdade não pode esquecer que todas as pessoas humanas têm o mesmo direito. Os seres humanos'" não vivem isolados, não vivem sozinhos, porque a própria natureza humana exige que vivam junto com os semelhantes. Por esse motivo é errado dizer que cada um deve procurar para si o máximo de liberdade, sem se preocupar com a liberdade dos outros. Mas é igualmente errado dizer que a liberdade de cada um termina onde começa a do outro, pois todos exercem juntos os seus direitos de liberdade, e a liberdade de cada um está entrelaçada com a dos demais seres humanos.

Assim, também, não se pode aceitar o argumento de que exitem pessoas que não sabem usar sua liberdade. Sendo uma necessidade natural da pessoa humana a liberdade é como a respiração: não pode ser suprimida nem controlada por outros. O que pode acontecer é que uma pessoa não esteja suficientemente informada ou esclarecida no momento de fazer alguma escolha importante. Nesse caso, o que os outros devem fazer é dar a informação ou o esclarecimento para possibilitar a escolha livre e não suprimir a liberdade

É preciso, finalmente, que o direito à liberdade não seja um faz-de-conta, que ao afirmar que as pessoas têm o direito de agir com liberdade sejam assegurados os meios para que essas pessoas possam ser livres.

Quando uma pessoa escolhe alguma coisa contra a sua vontade, porque tem medo dos poderosos ou porque sua pobreza a obriga a fazer o que os outros querem, não existe liberdade. Nesse caso, a existência das leis afirmando que todos têm o direito à liberdade é uma hipocrisia, desmentida pela realidade. E ninguém deve conformar-se com uma situação em que se negue à pessoa humana o direito de ser livre.

Fonte: Viver em Sociedade - Dalmo de Abreu Dallari.

DIREITOS hUMANOS - DIREITO DE SER PESSOA


DIREITO DE SER PESSOA

Para que um ser humano tenha direitos e para que possa exercer esses direitos, é indispensável que seja reconhecido e tratado como pessoa. Isso deve acontecer com todos os seres humanos.
Reconhecer e tratar alguém como pessoa é respeitar sua vida, mas exige que também seja respeitada a dignidade, própria de todos os seres humanos. Nenhuma pessoa deve ser escrava de outra, nenhum homem deve ser humilhado ou agredido por outro, ninguém deve ser obrigado a viver em situação de que se envergonhe perante os demais, ou que os outros considerem indigna ou imoral.
Antes de tudo, como exigência para viver com dignidade, a toda pessoa humana deve ser garantido o direito de ter um nome e de ser conhecida e. respeitada por esse nome. O nome identifica a pessoa e faz parte de sua personalidade. Por esses motivos o direito ao nome está contido no direito de ser pessoa.
Todo ser humano tem o direito de não ser agredido ou ferido por. outro. Esse é o direito à integridade física. Em qualquer situação, mesmo que esteja preso por ter cometido um crime, o ser humano deve ter respeitada a integridade de seu corpo. Assim como não deve ser tolerado que uma pessoa agrida outra, por qualquer motivo, quando as duas estão livres e podem defender-se, com mais razão não se pode admitir que um policial pratique violência física contra um preso, que não tem como se defender.
Quando se fala em respeito à integridade física de uma pessoa, a primeira idéia que se tem é de que não deve ser tolerada a violência direta e intencional. Mas é preciso ter em conta que há muitas situações em que uma pessoa pode causar prejuízo físico a outra, sem que a agressão cause a revolta de outras pessoas e mesmo sem que muitos percebam que está havendo uma violência.
Aqui também é preciso lembrar as condições .de vida e de trabalho. Muitas vezes uma pessoa é obrigada a viver ou trabalhar em condições que acarretam grande prejuízo físico, ou porque a falta de alimentos ou de cuidados de higiene e saúde causam doenças e o enfraquecimento físico, ou porque a falta de segurança sujeita a pessoa a sofrer acidentes e a perder sua capacidade física. Em todas essas situações, não está sendo respeitado o direito à integridade física das pessoas.
Igualmente grave é o sofrimento psíquico ou moral imposto a uma pessoa. Nesses casos, geralmente, poucos percebem que está havendo uma violência e que não se está respeitando a dignidade humana, mas os efeitos da agressão podem ser até
mais graves do que aqueles provocados por uma violência física.
Considere-se, por exemplo, a situação de uma criança que é repreendida ou castigada com muito rigor ou injustamente, ou que é ridicularizada perante outras crianças ou na frente de adultos. Mais do que o sofrimento físico, ou independente dele, essa criança sentirá um grande sofrimento espiritual, que poderá durar muito tempo e até pela vida inteira.
Esse mesmo sofrimento psicológico e moral será imposto ao empregado que for tratado de modo grosseiro e desrespeitoso por seu empregador ou por seus superiores. O relacionamento respeitoso deverá ser observado entre professores e alunos, bem como entre qualquer pessoa que presta um serviço e os que recebem o serviço, pois a vítima do desrespeito estará sofrendo uma agressão moral e psicológica.
As agressões dessa espécie são mais comuns nas situações em que alguém ou tem uma posição de autoridade pública ou pode exigir a obediência de outros. O abuso da autoridade, a atitude arrogante de quem manda, a imposição de humilhação aos subordinados, tudo isso caracteriza agressão psicológica ou
. moral e, portanto, desrespeito ao direito de ser pessoa.
Esse mesmo desrespeito está presente em todas as situações sociais em que alguém é obrigado a ficar em posição humilhante ou de inferioridade moral perante outras pessoas. Isso acontece, por exemplo, quando uma pessoa é forçada a viver em tal estado de pobreza que precisa mendigar para obter alimentos e outros bens essenciais para a sobrevivência ou a vida em sociedade.
A mesma coisa se verifica quando pessoas e famílias são obrigadas, por sua pobreza, a morar em favelas ou cortiços, a se vestir com roupas esfarrapadas e a revelar, em cada situação, que são muito mais pobres do que as outras. As pessoas que sofrem essa forma de agressão podem não demonstrar revolta, mas seu sofrimento psicológico e moral existe. Elas sabem que são tratadas como inferiores e sofrem com isso.
Outras formas de ofensa ao direito de ser pessoa são os preconceitos e as discriminações sociais. Essa ofensa ocorre quando alguém é tratado como inferior ou não é admitido em algum lugar por causa de sua raça, sua cor, suas crenças, suas idéias ou sua condição social.
No Brasil, atualmente, há uma ofensa ao direito de ser pessoa que vem sendo praticada em muitos lugares, todos os dias, como se fosse coisa normal. Essa ofensa está no fato de que todas as pessoas são tratadas como suspeitas, como desonestas, como possíveis criminosas, sempre que vão fazer algumas compras e querem pagar com cheque. O comprador é obrigado a exibir documentos de identidade e a provar que não está pretendendo enganar e prejudicar o vendedor. Essa mesma prova é exigida em muitas repartições públicas, em bancos e em grandes empresas. Todos são tratados como suspeitos até que provem o contrário.
Esse procedimento é conseqüência do fato de que o Brasil teve vários governos militares, que viam em cada brasileiro um provável inimigo. Mas é uma grave ofensa ao direito de ser pessoa.
Não existe respeito à pessoa humana e ao direito de ser pessoa se não for respeitada, em todos os momentos, em todos os lugares e em todas as situações a integridade física, psíquica e moral da pessoa. E não há qualquer justificativa para que umas pessoas sejam mais respeitadas do que outras.
Fonte: Viver em Sociedade - Dalmo de Abreu Dallari.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Hino dos Partidos Socialistas

INTERNACIONAL

Música: Pierre Degeyter

Letra: Eugene Pottier



De pé ó vítimas da fome

De pé famélicos da terra
Da idéia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra
Cortai o mal bem pelo fundo
De pé, de pé, não mais senhores
Se nada somos em tal mundo
Sejamos tudo ó produtores.

Refrão:

Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Senhores patrões chefes supremos
Nada esperamos de nenhum
Sejamos nós que conquistemos
A terra mãe livre comum
Para não ter protestos vãos
Para sair deste antro estreito
Façamos com nossas mãos
Tudo o que a nós nos diz respeito.

Refrão:
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

O crime do rico a lei o cobre
O Estado esmaga o oprimido
Não há direito para o pobre
Ao rico tudo é permitido.
À opressão não mais sujeitos
Somos iguais todos os seres
Não mais deveres sem direitos
Não mais direitos sem deveres

Refrão:
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Abomináveis na grandeza
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha.
Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu
Querendo que ele o restitua
O povo quer só o que é seu.

Refrão:
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Nós fomos de fumo embriagados
Paz entre nós guerra aos senhores
Façamos greve de soldados
Somos irmãos trabalhadores.
Se a raça vil cheia de galas
Nos quer à força canibais
Logo verá que nossas balas
São para os nossos generais

Refrão:
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Pois somos do povo os ativos
Trabalhador forte e fecundo
Pertence a terra aos produtivos
Ó parasita deixa o mundo.
Ó parasita que te nutres
Do nosso sangue a gotejar
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o sol de fulgurar

Refrão:
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional



Clip

Fator de Mobilização - Política

Fator de Mobilização

Aula 1 - Política

Aula 1 - Criação de um Partido Político

Zé Maria - Partido Socialista dos Trabalhadsores Unificados (PSTU)

Plínio de Arruda Sampaio - Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)

Marina Silva - Partido Verde (PV)

José Serra - Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)

Dilma Rousseff - Partido dos Trabalhadores (PT)

Cordel

Direito à Vida


DIREITO À VIDA
A vida é necessária para que uma pessoa exista. Todos os bens de uma pessoa, o dinheiro e as coisas que ela acumulou, seu prestígio político, seu poder militar, o cargo que ela ocupa, sua importância na sociedade, até mesmo seus direitos, tudo isso deixa de ser importante quando acaba a vida. Tudo o que uma pessoa tem perde o valor, deixa de ter sentido, quando ela perde a vida. Por isso pode-se dizer que a vida é o bem principal. de qualquer pessoa, é o primeiro valor moral de todos os seres humanos. .
Não são os homens que criam a vida. No máximo os homens são capazes de perceber que em determinadas condições, quando se juntam certos elementos, a vida começa a existir. Os cientistas podem até juntar num vidrinho, numa proveta, os elementos que geram a vida, mas não conseguem criar esses elementos. Na verdade, nenhum homem conseguiu inventar ou criar a vida, dominar o começo da vida.
E como não é capaz de criar a vida de um ser humano, nenhum homem deve ter o direito de matar outro ser humano, de fazer acabar a vida de outro homem. A vida não é dada pelos homens, pela sociedade ou pelo governo, e quem não é capaz de dar a vida não deve ter o direito de tirá-la.
É preciso lembrar que a vida é um bem de todas as pessoas, de todas as idades e de todas as partes do mundo. Nenhuma vida humana é diferente de outra, nenhuma vale mais nem vale menos do que outra. E nenhum bem humano é superior à vida. Por esses motivos não é justo matar uma pessoa ou muitas pessoas para que alguns homens fiquem mais ricos ou mais poderosos, para satisfazer as ambições ou a intolerância de alguns, nem para que uma parte da humanidade viva com mais conforto ou imponha ao resto do mundo seu sistema de vida. .
Quando uma pessoa mata outra por ódio, por vingança ou para obter algum proveito, está cometendo um ato imoral, está ofendendo o bem maior, a vida, que a nenhum outro se iguala.
Quando uma pessoa ou um grupo de pessoas mata alguém, porque-a vítima era criminoso ou marginal, está cometendo um crime, além disso, um grave erro. O homicídio não resolve problemas individuais ou sociais, mas, longe disso, é fonte de problemas. Aquele que matou deverá responder por seu ato homicida e será punido por ele, pois só o Estado tem o direito e o dever de julgar e punir os criminosos, dentro da lei e com justiça, retirando o criminoso do meio da sociedade para ensiná-lo a respeitar os valores humanos e sociais.
Além desses aspectos, é preciso ter em conta que a repetição de crimes contra a vida pode gerar a idéia de que a vida não é um bem muito importante, e com isso todas as vidas passam a ser menos respeitadas.
A guerra é outra forma extremamente imoral de atentado contra a vida humana. Na origem das guerras está, geralmente, a ambição econômica dos que desejam vender armamentos ou conquistar territórios, a ambição de mando ou a vaidade dos que pretendem poder político ou, então, está a intolerância de homens que querem impor aos outros sua vontade, seus valores, seu sistema político e econômico.
A guerra é imoral porque sacrifica vidas humanas com o objetivo de satisfazer interesses mesquinhos. Além disso tudo, a guerra é imoral porque consome, no comércio da morte, quantias elevadíssimas que deveriam ser utilizadas para a promoção da vida.
Outra prática imoral e que atenta contra a vida é o genocídio, muito em uso atualmente. Entende-se por genocídio a matança de grupos populacionais com características diferenciadas, por meios diretos ou indiretos. O genocídio pode ser motivado por ódio racial ou por interesses políticos ou econômicos.
Um caso escandaloso de genocídio é o que está acontecendo agora com os índios brasileiros. Sendo um grupo minoritário e pobre na sociedade brasileira, os índios estão sendo expulsos de suas terras com a desculpa de que estas são necessárias para o desenvolvimento econômico.
O que realmente acontece é que há poucos anos se descobriu que, se os ladrões aventureiros tivessem a ajuda de pessoas ligadas ao governo, seria muito fácil tomar as terras que há séculos são ocupadas pelos índios. Ao mesmo tempo, por meio de estudos realizados com o uso de satélites equipados com aparelhos de grande alcance, foi revelado que existem muitas riquezas minerais no solo e no subsolo dos territórios indígenas.
Começou aí a matança dos índios para que as terras hoje ocupadas por eles sejam dadas de presente aos aventureiros. Assim está ocorrendo a morte de uma raça. Isso é um genocídio, pois é o assassinato de um grupo racial.
Muitos outros atentados contra a vida humana estão ocorrendo todos os dias, quase sempre pela ambição sem limites de alguns homens, que provocam a morte de outros com o objetivo de ganhar dinheiro. A poluição provocada por muitas indústrias e pelo uso de venenos e substâncias tóxicas na agricultura é bem um exemplo de agressão à vida.
Assim também a situação de pobreza em que são obrigadas a viver milhões de pessoas é um atentado contra a vida. A morte não ocorre de um momento para outro mas essas pessoas estão morrendo rapidamente, um pouco por dia, por falta de alimentos, de assistência médica e de condições mínimas para a conservação da vida.
O mesmo acontece com os trabalhadores que são obrigados a trabalhar em condições perigosas ou muitos prejudiciais à saúde. Sua vida não está sendo respeitada, pois mediante o pagamento de um salário o empregador fica com o direito de exigir que eles arrisquem a vida constantemente ou vivam num ambiente de trabalho que apressará sua morte.
O respeito à vida de uma pessoa não significa apenas não matar essa pessoa com violência, mas também dar a ela a garantia de que todas as suas necessidades fundamentais serão atendidas. Toda pessoa tem necessidades materiais, as necessidades do corpo, que se não forem plenamente atendidas levarão à morte ou a uma vida incompleta, que não se realiza totalmente e que já é um começo de morte. Assim, também, as pessoas têm necessidades espirituais, como a necessidade de amor, de beleza, de liberdade, de gozar do respeito dos semelhantes, de ter suas crenças, de sonhar, de ter esperança.
Todos os seres humanos têm o direito de que respeitem sua vida. E só existe respeito quando a vida, além de ser mantida, pode ser vivida com dignidade.

Fonte: Dalmo de Abreu Dallari - Viver em Sociedade

VIVER EM SOCIEDADE


VIVER EM SOCIEDADE
A sociedade humana é um conjunto de pessoas ligadas pela necessidade de se ajudarem umas. às outras, a fim de que possam garantir a continuidade da vida e satisfazer seus interesses e desejos. Sem a vida em sociedade, as pessoas não conseguiriam sobreviver, pois o ser humano, durante muito tempo, necessita de outros para conseguir alimentação e abrigo. E no mundo moderno, com a grande maioria das pessoas morando nas cidades, com hábitos que tornam necessários muitos bens produzidos pela indústria, não há quem não necessite dos outros muitas vezes por dia. . Mas as necessidades dos seres humanos não são apenas de ordem material, como os alimentos, a roupa, a moradia, os meios de transporte e os cuidados de saúde. Elas são também de ordem espiritual e psicológica. Toda pessoa humana necessita de afeto, precisa amar e sentir-se amada, quer sempre que alguém lhe dê atenção e que todos a respeitem. Além. disso, todo ser humano tem suas crenças, tem sua fé em alguma coisa, que é a base de suas esperanças. Os seres humanos não vivem juntos, não vivem em sociedade, apenas porque escolhem esse modo de vida, mas porque a vida em sociedade é uma necessidade da natureza humana. Assim, por exemplo, se dependesse apenas da vontade, seria possível uma pessoa muito rica isolar-se em algum lugar, onde tivesse armazenado grande quantidade de alimentos. Mas essa pessoa estaria, em pouco tempo, sentindo falta de companhia, sofrendo a tristeza da solidão, precisando de alguém com quem falar e trocar idéias, necessitada de dar e receber afeto. E muito provavelmente ficaria louca se continuasse sozinha por muito tempo. Mas, justamente porque vivendo em sociedade é que a pessoa humana pode satisfazer suas necessidades, é preciso que a sociedade seja organizada de tal modo que sirva, realmente, para esse fim. E não basta que a vida social permita apenas a satisfação de algumas necessidades da pessoa humana ou de todas as necessidades de apenas algumas pessoas. A sociedade organizada com justiça é aquela em que se procura fazer com que todas as pessoas possam satisfazer todas as suas necessidades, é aquela em que todos, desde o momento em que nascem, têm as mesmas oportunidades, aquela em que os benefícios e encargos são repartidos igualmente entre todos. Para que essa repartição se faça com justiça, é preciso que todos procurem conhecer seus direitos e exijam que eles sejam respeitados, como também devem conhecer e cumprir seus deveres e suas responsabilidades sociais. Fonte: Dalmo de Abreu Dallari - Viver em Sociedade