[EcoDebate]
Um deserto pré-histórico deu origem à região do aquífero guarani. Os
depósitos arenosos trazidos pelos ventos formaram extenso campo de dunas
recoberto por um episódio de vulcanismo intra-continental do Planeta. A
lava solidificada originou a Serra Geral, uma capa protetora do
Aquífero Guarani.
Esse reservatório de
proporções gigantescas de água subterrânea é formado por derrames de
basalto ocorrido entre 200 e 132 milhões de anos. Ocupa uma área de 1,2
milhões de Km2, estendendo-se pelo Brasil (840.000 Km2), Paraguai
(71.700 Km2), Uruguai (58. 500 km2) e Argentina (225.500 Km2).
Etimologicamente,
o aquífero significa: aqui=água; fero=transfere; ou do grego suporte de
água. Batizado primeiramente de aquífero Botucatu (hoje o nome de um
reservatório menor, em São Paulo), o Guarani foi mapeado nos anos 70,
quando companhias petrolíferas fizeram prospecção dos terrenos em que
ele se encontra. O termo Guarani foi sugerido pelo geólogo Danilo Antón
em uma conversa informal com os colegas Jorge Montalo Xavier e Ernani
Francisco da Rosa Filho, geólogos da Universidad de la Republica do
Uruguai e Universidade Federal do Paraná, respectivamente , em 1994, e
aprovado com o respaldo dos quatro países em uma reunião em Curitiba, em
maio de 1996. O objetivo era unificar a nomenclatura das formações
geológicas que formam o aquífero, e que recebem nomes diferentes nos
quatro países e, simultaneamente, prestar uma homenagem aos índios
Guaranis que habitavam a área de sua ocorrência, na época do
descobrimento da América.
A espessura total do
Guarani varia de valores superiores a 800 metros até a ausência completa
da espessura média aquífera de 250 metros e porosidade efetiva de 15%.
Estima-se que as reservas permanentes do aquífero (água acumulada ao
longo do tempo) sejam da ordem de 45.000 km3.
O Aquífero Guarani
constitui-se em um importante reserva estratégica para o abastecimento
da população, para o desenvolvimento das atividades econômicas e do
lazer. Sua recarga natural anual (principalmente pelas chuvas) é de 160
km3/ano, sendo que desta, 40 km3/ano constitui o potencial explotável
sem riscos para o sistema aquífero. Os estados da Federação contemplados
com o aquífero são: São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás,
minas Gerais, Paraná, S. Catarina, e Rio Grande do Sul.
AQUÍFERO GUARANI – UMA BACIA GIGANTESCA
1 | Além do Guarani, sob a superfície de São Paulo, há outro reservatório, chamado Aquífero Bauru, que se formou mais tarde. Ele é muito menor, mas tem capacidade suficiente para suprir as necessidades de fazendas e pequenas cidades. | 3 | Nas margens do aquífero, a erosão expõe pedaços do arenito. São os chamados afloramentos. É por aqui que a chuva entra e também por onde a contaminação pode acontecer. |
2 | O líquido escorre muito devagar pelos poros da pedra e leva décadas para caminhar algumas centenas de metros. Enquanto desce, ele é filtrado. Quando chega aqui está limpinho. | 4 | A cada 100 metros de profundidade, a temperatura do solo sobe 3 graus Celsius. Assim, a água lá do fundo fica aquecida. Neste ponto ela está a 50 graus. |
* Figuras e Textos Extraídos da Revista Super Interessante nº 07 ano 13 |
As águas são de boa
qualidade para o abastecimento público e outros usos, sendo que em sua
porção confinada, os poços têm cerca de 1.500 metros de profundidade e
podem produzir vazões superiores a 700 m3/h.
Em 02/06/2009 a
Agência Brasil publicou que técnicos concluíram o mapeamento do Aquífero
Guarani. A ação dos agrotóxicos na lavoura e a falta de saneamento
básico em regiões metropolitanas onde se localiza o Aquífero Guarani
podem sobrecarregar o manancial que tem cerca de 7.500 poços que
abastecem centenas de cidades. Na região do centro da cidade de Ribeirão
Preto, em 30 anos o aquífero baixou 60 metros.
O artigo afirma que
esses foram alguns dos problemas constatados pelo mapeamento da área,
uma das fases do Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento
Sustentável do Sistema Aquífero guarani, que começou em 2003 e teve os
resultados apresentado em fins de maio durante a 21ª Reunião do Conselho
Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), em Brasília.
Vulnerabilidade do Aquífero Guarani quanto à contaminação
O Aquífero Guarani
sendo constituído por arenitos relativamente permeáveis, devido à sua
origem fundamentalmente eólica, apresenta na sua zona de recarga a maior
vulnerabilidade à contaminação. A vulnerabilidade do guarani diminui à
medida que a formação que a formação se aprofunda e adquire condições de
confinamento, subjacente aos basaltos da Formação Serra Geral.
Um dos principais
problemas existentes com relação à exploração das águas do Guarani é o
risco de deterioração do aquífero, em decorrência do aumento dos volumes
explotados e do crescimento das fontes de poluição pontuais e difusas.
Diretrizes de utilização sustentável e proteção do Aquífero Guarani
foram traçadas e tem como premissas o conhecimento de suas reservas, o
diagnóstico e a manutenção da qualidade de suas águas, a caracterização e
orientação sobre seu consumo atual e futuro.
No Sistema Aquífero
Guarani – SAG – é considerado um aspecto importante o cálculo de
reservas e a disponibilidade hídrica do sistema. O volume de água
contida no SAG é atualmente estimado em 33.000 km3 de Reserva Drenável e
51 km3 de Reserva Compressível, totalizando 33.051 km3.
Pesquisas asseguram
que para cenários futuros devem ser utilizados valores consolidados que
busquem a sustentabilidade. Serão necessários a quantificação de
recarga, a quantificação da interconexão entre aquíferos e quantificação
da interconexão água superficial e subterrânea (rede integrada
pluviométrica, fluviométrica e hidrogeológica). Maiores aquíferos do
mundo
Aqüífero | Área (km2) | Transnacionalidade | Ranking Área |
Arenito Núbia | 2 milhões | Líbia,Egito,Chade,Sudão | 1º |
Grande Bacia Artesiana | 1,7 milhão | Austrália | 2º |
Guarani | 1,2 milhão | Argentina,Brasil,Uruguai,Paraguai | 3º |
Bacia Murray | 287 mil | Austrália | 4º |
KalaharijKaroo | 135 mil | Namíbia,Botswana,África do Sul | 5º |
Digitalwaterway Vechte | 7,5 mil | Alemanha, Holanda | 6º |
Praded | 3,3 mil | República Tcheca, Polônia | 7º |
SlovakKarst- Aggtelek | Não informada | República Eslováquia, Hungria | ? |
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Esgotamento dos lençóis freáticos.
Alguns exemplos de
superexploração dos recursos naturais no mundo estão relacionados a
seguir, e serve de alerta para a gestão de Aquíferos.
- O aquífero de Ogallala, no Arizona, nos Estados Unidos, pode desaparecer: já perdeu o equivalente a 18 vezes o volume do rio Colorado por causa da irrigação de áreas extensas na agricultura da região das Brandes Planícies.
- Na Líbia, a exploração dos lençóis subterrâneos para irrigar as plantações já secou muito dos poços de onde se extrai água.
- Na Tailândia, a retirada da água subterrânea faz algumas áreas da capital, Bangcoc, afundarem (recalcarem) 14 centímetros por ano. É que as rochas do subsolo que servem de sustentação diminuem de tamanho quando ficam secas, e o solo cede. Para piorar, como a região é de litoral, o espaço deixado pela água doce retirada é preenchido por água salgada, inutilizando os lençóis subterrâneos para o consumo.
- Na Indonésia, a exploração desenfreada dos aqüíferos fez o mar avançar cerca de 15 quilômetros para o interior.
Água no Senado
No último dia 28, foi
instalada a Subcomissão Permanente de Água da Comissão de Meio Ambiente
no Senado Federal. Presidida pela senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), tem
como objetivo aumentar as discussões acerca da proteção de rios e
aquíferos nacionais. “O tema água vem ganhando cada vez mais importância
no cenário mundial e o Brasil precisa participar intensivamente das
discussões em torno do tema”, destacou Marisa. “Temos certeza de que
vamos fazer um bom trabalho para a eliminação de problemas que temos em
relação à questão da água”, afirma a senadora. Os senadores devem
escolher um redator para dar continuidade aos trabalhos, que já se
iniciaram em discussões anteriores à instalação da subcomissão. O ponto
de partida para a proposta foi o relatório de Istambul, em março. Os
primeiros temas a serem tratados deverão ser a regulamentação dos rios
transfronteiriços e do Aquífero Guarani.
Esperamos que a
Subcomissão Permanente de Água possa contribuir sobremaneira com o
intuito de tornar o uso do Aquífero Guarani de forma sustentável.
Fonte:
Agência Brasil
Carol Salsa,
colaboradora e articulista do EcoDebate é engenheira civil, pós-graduada
em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela
UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da
FEAM.