No meio do Cerrado nordestino,
restos petrificados de plantas que viveram há mais de 250 milhões de
anos contam a história da região em uma época em que os continentes
estavam unidos e o mar chegava até ali
Era um domingo como outro qualquer em Nova
Iorque. Por volta das 10 h da manhã o sol já impunha respeito e várias
famílias curtiam a praia. Crianças brincavam na areia ou na água, e
adultos batiam papo e bebericavam em torno de mesas de plástico sob a
sombra das árvores. Não parava de chegar gente. Trilha sonora: o típico
brega nordestino.
À beira do lago da Hidrelétrica de Boa
Esperança, no rio Parnaíba, esta pequena cidade do interior do Maranhão
fica a mais de 500 km de distância de São Luís, na fronteira com o
Piauí. É uma espécie de oásis no Cerrado, que oferece diversão e umidade
aos nova-iorquenses e moradores de municípios vizinhos que passam por
ali nos finais de semana.
No penúltimo domingo de julho passado,
porém, estes descontraídos cidadãos interromperam por um instante o que
faziam para observar a chegada de um grupo de oito forasteiros que não
pareciam ter vindo para pegar praia. Não mesmo. Eles estavam atrás de
fósseis. Procuravam os restos de uma floresta fossilizada.
O grupo “alienígena” era formado por cinco
homens e três mulheres, todos usando chapéu, blusa de manga comprida,
calça e botina. A maioria tinha pele muito clara. O mais alto carregava
na mão um martelo e o mais magro, de cabelos longos e sotaque
estrangeiro, andava na frente perguntando sobre um tal barqueiro, que
sabia onde ficavam “as pedras que parecem madeira”.
Mas o rapaz não veio e o jeito foi esperar
por uma embarcação maior, que só poderia sair à tarde. Um mau presságio
rondava os pensamentos daquele que segurava o martelo. “O nível do rio
está muito alto. Acho que vai estar tudo debaixo d’água”, comentou.
Enquanto esperavam, os forasteiros se
aboletaram no quiosque de seu Alzair, um pescador cearense,
nova-iorquense de coração e que – como se descobriria depois – gosta
muito de ler. Ao saber das intenções deles, seu Alzair aproveitou para
tirar uma dúvida antiga que deixou o grupo embasbacado.
Ele perguntou se os tais tocos petrificados
eram de antes ou depois de o Brasil se separar da África, referindo-se
ao fenômeno geológico que ocorreu cerca de 150 milhões de anos atrás e
deu origem ao Oceano Atlântico. Antes, muito antes, responderam os
paleontólogos.
Era o quinto dia de uma expedição que reuniu
representantes da Unesp e de duas universidades federais – do Piauí
(UFPI) e do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ao todo, dois professores, três
pós-graduandos, uma aluna de graduação, mais a repórter e o fotógrafo de
Unesp Ciência.
O saldo daquele domingo foi parecido com o
dos dias anteriores, como resumiu Rodrigo Neregato, doutorando da Unesp
em Rio Claro, quando já estávamos de volta ao quiosque de seu Alzair,
tomando cerveja enquanto o sol caía: “Tá louco, nunca vi um (estudo de)
campo tão fraco”.
De fato, a maioria dos troncos fósseis
estava submersa, mas o lugar parecia promissor, a julgar pelo material
achado nas bordas do lago. Roberto Iannuzzi, professor da UFRGS (o homem
do martelo), não se abateu. “Temos de voltar com o nível da água mais
baixo.” Para Juan Carlos Cisneros, um salvadorenho radicado em Teresina,
docente da UFPI, a situação era trivial. “O paleontólogo tem de ser
muito insistente e ter um pouco de sorte.”
A vida sem flores
Há poucas florestas petrificadas no mundo. E a que existe na Bacia do Parnaíba (veja mapa na pág. 23) é uma das mais exuberantes e mais antigas do hemisfério sul. Os troncos fossilizados que este grupo de cientistas rastreia são joias que ajudam a entender uma parte ainda pouco estudada da história da vida no planeta.
Há poucas florestas petrificadas no mundo. E a que existe na Bacia do Parnaíba (veja mapa na pág. 23) é uma das mais exuberantes e mais antigas do hemisfério sul. Os troncos fossilizados que este grupo de cientistas rastreia são joias que ajudam a entender uma parte ainda pouco estudada da história da vida no planeta.
Estamos falando de um tempo em que nenhuma planta
era capaz de dar flor. Os únicos seres vivos que voavam eram os insetos,
alguns deles gigantes. Entre os vertebrados, só havia anfíbios ou
répteis. E ainda levaria muito, mas muito tempo, até nascer o primeiro
dinossauro. A cabeça desses pesquisadores está na era Paleozoica, mais
especificamente no período Permiano, que na régua do tempo geológico vai
de 300 milhões a 250 milhões de anos atrás.
Florestas fossilizadas são raras porque, para que um vegetal se
petrifique em vez de apodrecer, são necessárias condições ambientais
particulares. “Os caules têm de ser impregnados por um mineral,
geralmente sílica, dissolvido no meio aquático”, explica Iannuzzi. A
origem da sílica costuma ser as cinzas de erupções vulcânicas.
Neste caso, o vulcão devia estar a muitos quilômetros de distância.
Talvez no que hoje é a África, muito mais próxima naquela época, já que
os continentes ainda não haviam se separado (veja mapa na pág 23). “Não
temos evidências de atividade vulcânica na Bacia do Parnaíba, então
imaginamos que as cinzas se depositaram em algum lugar e depois foram
carregadas até aqui pela água”, diz o paleontólogo da UFGRS.
Impregnados pela sílica cuspida por algum vulcão paleozoico, estes
tocos de madeira com peso e consistência de pedra ajudam a imaginar o
que foi a vegetação daquele lugar no Permiano, muito diferente do
Cerrado atual, bastante verdejante em julho, quase sempre de média
estatura, com troncos ásperos e retorcidos.
Naquela era remota, as donas da paisagem eram as samambaias de grande
porte, com até 15 metros de altura. Um pouco menos abundantes eram as
árvores coníferas, ancestrais longínquos dos pinheiros atuais. As
cavalinhas, “um tipo de bambuzinho que existe até hoje, só que gigante”,
eram mais raras, descreve Neregato, que as estuda em seu doutorado.
Para cada um dos grupos anteriores também há um doutorado em
andamento. As coníferas são o assunto de Francine Kurzawe, na UFRGS, que
fazia parte da expedição. Já as samambaias ficam por conta de Tatiane
Marinho, na Unesp em Rio Claro, que não viajou porque tinha de entregar a
tese por aqueles dias.
Engana-se quem estiver imaginando a floresta fóssil como um bosque
petrificado na posição vertical. O que pesquisadores encontram ao longo
da viagem são tocos dispersos no solo, muitas vezes com uma das pontas
ainda oculta sob a terra.
Muita coisa aconteceu depois do dia remoto em que estas plantas
tombaram no chão. Em algum momento foram soterradas por sedimentos até
que, muito tempo depois, a erosão as trouxe de volta à superfície. Nesse
lento processo, os troncos rolaram. Hoje dificilmente são achados em
“posição de vida”. Mas, como são pesados, não devem estar muito longe do
local onde já fincaram raízes.
Fósseis de plantas podem não parecer um assunto tão palpitante para o
leigo quanto é a fauna pré-histórica extinta. Isso de certa forma ajuda
a entender por que os paleontólogos especializados em botânica – os
paleobotânicos, minoria na paleontologia – raramente conseguem disfarçar
uma ponta de ressentimento quando têm de explicar que não são caçadores
de dinossauros, de mamutes, nem de preguiças gigantes. No entanto, dada
a oportunidade de defender sua especialidade profissional, eles
oferecem bons argumentos.
“As plantas refletem as condições climáticas”, afirma Iannuzzi. “Além
de explicar a evolução da vida vegetal no planeta, uma das principais
contribuições da paleobotânica é compreender como a paisagem e o clima
mudaram ao longo do tempo. Assim conseguimos saber, por exemplo, que
parte da Europa já esteve congelada, e entender por que o Saara, hoje um
deserto, um dia deu lugar a uma floresta.”
Apesar de mais midiáticos, os animais vertebrados são muito mais
frágeis, acrescenta o paleobotânico. Sob condições adversas, eles morrem
ou migram. As plantas podem até sucumbir, mas deixam sementes capazes
de passar longos períodos em estado dormente. Só uma grande catástrofe –
e olhe lá – pode impedir que elas germinem um dia.
Na incursão de julho, o principal objetivo foi identificar novos
sítios de ocorrência das madeiras petrificadas. O grupo começou a
estudar a Bacia do Parnaíba há alguns anos, por isso os três doutorados
em fase adiantada, que se basearam em material coletado no Monumento
Natural das Árvores Fossilizadas do Estado do Tocantins (veja quadro na
pág. 24). O que dá para dizer até agora é que estas plantas viveram numa
grande planície por onde passava uma malha de rios estreitos e rasos,
com clima quente e seco, alternado por estações úmidas, possivelmente
palco de grandes enxurradas (veja infográfico na pág. 23).
Estresse ambiental
“O fato de haver uma planta dominante na paisagem – no caso, as samambaias –, por si só é indicativo de estresse ambiental”, diz Rosemarie Rohn, da Unesp em Rio Claro, por telefone. Ela é orientadora de Neregato e Tatiane, mas não pôde fazer parte da expedição. Rosemarie conta com orgulho sobre as folhas coletadas por sua aluna (um golpe de sorte, pois encontrar caules é a regra) que corrobora a ideia de um clima inóspito. “As folhas parecem uma bolsinha, a parte reprodutiva está totalmente protegida”, diz. “Isso é sinal de estresse, provavelmente de pouca água.”
“O fato de haver uma planta dominante na paisagem – no caso, as samambaias –, por si só é indicativo de estresse ambiental”, diz Rosemarie Rohn, da Unesp em Rio Claro, por telefone. Ela é orientadora de Neregato e Tatiane, mas não pôde fazer parte da expedição. Rosemarie conta com orgulho sobre as folhas coletadas por sua aluna (um golpe de sorte, pois encontrar caules é a regra) que corrobora a ideia de um clima inóspito. “As folhas parecem uma bolsinha, a parte reprodutiva está totalmente protegida”, diz. “Isso é sinal de estresse, provavelmente de pouca água.”
Nesta planície fluvial de clima aparentemente tropical havia espaço
também para pequenas praias de água salgada. Línguas de mar adentravam o
continente pelo oeste, vindas do Oceano Pantalassa, que deu origem ao
Pacífico – a Cordilheira dos Andes ainda não existia. Um dos pontos de
parada da viagem foi uma dessas paleopraias, onde hoje fica uma pedreira
da qual se extrai calcário, no município de Pastos Bons (MA).
Não há a menor chance de achar troncos petrificados na pedreira, mas
para os pesquisadores é uma oportunidade de entender melhor o
paleoambiente, investigando as paredes arrebentadas pela ação das
britadeiras. “Está vendo isso?”, aponta Iannuzzi. “São ondinhas
fossilizadas.” Mais adiante ele mostra uma greta de ressecamento
(rachadura do solo) também fossilizada, aprisionada no sedimento, e
compara com uma atual que se formava a poucos metros de distância. O
barranco rochoso é largamente fotografado pela equipe.
Impressiona a quantidade de informações que os paleontólogos
conseguem deduzir a partir da observação de barrancos, que eles chamam
de afloramentos. Tanto que durante a viagem eles paravam várias vezes na
estrada para analisar evidências de dunas e de outros tipos de
formações geológicas. Alguns centímetros de sedimentos podem significar a
passagem de milhões de anos. “As camadas de sedimento são como as
páginas de um grande livro que conta a história da Terra”, compara Juan
Carlos Cisneros, da UFPI.
Ainda na antiga praia que virou pedreira, enquanto a maior parte do
grupo se entretinha nos barrancos, Cisneros e sua aluna de iniciação
científica Domingas Maria da Conceição tomaram outro rumo. Começaram a
revolver fragmentos de rocha e a martelá-los de vez em quando, em busca
de fósseis de animais. “O objetivo desta viagem são as madeiras, mas já
que estou aqui não posso perder a oportunidade”, justifica-se o
salvadorenho, interessado em vertebrados.
A floresta petrificada é uma das pontas de um projeto maior, iniciado
no fim do ano passado com financiamento do CNPq, que inclui também a
procura por vertebrados do Permiano na Bacia do Parnaíba. E essa
pedreira em particular tem valor histórico, além de científico. Décadas
atrás, ali foram encontrados os fósseis daquele que é considerado o
maior anfíbio que já existiu.
Anfíbio gigante
Nos anos 1940, o geólogo Llewellyn Ivor Price (que apesar do nome era brasileiro) foi enviado ao interior do Maranhão pelo governo federal para prospectar carvão e petróleo. O que acabou encontrando, porém, foram partes do crânio e do fêmur do anfíbio batizado com o nome de Prionosuchus plummeri. “É um parente distante dos sapos, só que mais parecido com um jacaré ou gavial. Um animal de hábitos aquáticos”, descreve Cisneros.
Nos anos 1940, o geólogo Llewellyn Ivor Price (que apesar do nome era brasileiro) foi enviado ao interior do Maranhão pelo governo federal para prospectar carvão e petróleo. O que acabou encontrando, porém, foram partes do crânio e do fêmur do anfíbio batizado com o nome de Prionosuchus plummeri. “É um parente distante dos sapos, só que mais parecido com um jacaré ou gavial. Um animal de hábitos aquáticos”, descreve Cisneros.
Considerado o pai da paleontologia de vertebrados no Brasil, Price
publicou a descoberta em 1948 e só conseguiria retornar ao local mais de
30 anos depois. Foi quando encontrou outras partes de um bicho da mesma
espécie. Juntando as peças, estima-se o comprimento da criatura em pelo
menos 6 metros. “Mas estas estimativas são sempre imprecisas quando não
se tem o esqueleto completo”, afirma o paleontólogo da UFPI, que está
disposto a encontrar outras partes do anfíbio e completar o
quebra-cabeça. Além de procurar indícios de vertebrados terrestres, que
são seu maior interesse.
Martelando rochas na pedreira, o que Cisneros acabou encontrando
foram pequenos fragmentos de peixes que um dia passaram por aquela
antiga praia. Os peixes, porém, são a especialidade de Martha Richter,
uma brasileira que trabalha como curadora de paleontologia de
vertebrados no Museu de História Natural de Londres.
Colaboradora do projeto, ela esteve na região em fevereiro passado.
“Encontramos restos de uma fauna de peixes razoavelmente diversificada,
incluindo pequenos tubarões, que chegavam pelas línguas oceânicas”,
conta Martha por telefone, desde Londres. Para ela, um dos aspectos mais
importantes deste projeto será reunir todos os dados relativos à fauna e
à flora permiana em sequência cronológica. “O grande desafio é saber o
que precedeu o quê”, diz.
O Permiano durou 50 milhões de anos, o que é muito tempo até para
quem está acostumado a trabalhar na escala geológica. Os pesquisadores
ainda não sabem ao certo, mas supõem que a floresta fossilizada tenha
estado em pé entre o início e a metade desse período (ou seja, entre 300
milhões e 275 milhões de anos atrás).
Sobre os animais, menos estudados, pouco é possível dizer. O que dá
para afirmar com relativa segurança é que no decorrer desses milhões de
anos o clima da Bacia do Parnaíba foi ficando cada vez mais quente e
árido. E aquela planície onde antes reinaram as samambaias se
transformou num enorme deserto. Prova disso são os espessos blocos de
arenito no topo de morros – dunas petrificadas – que avistávamos da
estrada.
Fim trágico
O fim do Permiano – há 250 milhões de anos – é marcado por uma grande tragédia: uma extinção em massa muito mais devastadora do que aquela que extinguiu os dinossauros no fim do período Cretáceo, 65 milhões de anos atrás. A extinção do Permiano foi a maior catástrofe global de todos os tempos. Varreu do mapa mais de 90% das espécies de seres vivos. Os trilobitas, por exemplo, invertebrados marinhos de corpo achatado, estão entre os que sucumbiram.
O fim do Permiano – há 250 milhões de anos – é marcado por uma grande tragédia: uma extinção em massa muito mais devastadora do que aquela que extinguiu os dinossauros no fim do período Cretáceo, 65 milhões de anos atrás. A extinção do Permiano foi a maior catástrofe global de todos os tempos. Varreu do mapa mais de 90% das espécies de seres vivos. Os trilobitas, por exemplo, invertebrados marinhos de corpo achatado, estão entre os que sucumbiram.
Diferentemente do cataclismo que acabou com a vida dos dinossauros,
deflagrado por um asteroide que colidiu com a Terra, a grande extinção
em massa do Permiano teve origem em gigantescas e prolongadas erupções
vulcânicas na Sibéria – fenômeno conhecido como Armadilhas Siberianas.
A quantidade de cinza expelida na atmosfera foi tão brutal que o
planeta primeiro esfriou, para depois arder em decorrência do efeito
estufa. Acredita-se que a temperatura tenha se elevado em até 10 °C.
O cenário de destruição durou muito tempo, acredita-se que pelo menos
80 mil anos. Grandes desertos se espalharam pela Terra no período
Triássico, que se seguiu ao Permiano. Levaria muito tempo até que a
biodiversidade se recompusesse.
Segundo os pesquisadores brasileiros, a Bacia do Parnaíba parece ter
começado a virar deserto bem antes disso. Provavelmente foi um fenômeno
local, que talvez tenha se emendado com o processo de desertificação
global. É difícil saber, mas talvez este projeto ajude a fornecer alguma
pista nesse sentido.
“A Bacia do Parnaíba ainda é muito pouco explorada”, afirma Martha
Richter. “É importante que comece a ser estudada sistematicamente,
porque é um lugar muito interessante para entender as mudanças
climáticas ao longo do Permiano, inclusive a grande extinção em massa.”
Segundo ela, para encontrar respostas definitivas para questões tão
complexas para a paleontologia “é preciso coletar fósseis em várias
partes do mundo e tentar correlacioná-los numa linha de tempo”. É por
isso que os recentes estudos nessa região do Cerrado nordestino já
atraem a atenção de paleontólogos estrangeiros dedicados à pesquisa do
Permiano. O projeto brasileiro conta com colaboradores da Argentina, da
África do Sul, da Alemanha e dos Estados Unidos.
Na Alemanha, pesquisadores do Museu de História Natural de Chemnitz
têm interesse especial no Brasil porque a floresta fóssil daqui se
parece com a que existe naquele país. Um convênio entre a Unesp e o
museu alemão vem permitindo que pós-graduandos brasileiros passem um
tempo lá. Tatiane Marinho, doutoranda em Rio Claro, ficou dois meses em
Chemnitz em 2008. Seu colega Rodrigo Neregato tem viagem planejada
ainda para este ano.
A Bacia do Parnaíba não era muito estudada até recentemente mais por
dificuldades de acesso e infraestrutura do que por desinteresse dos
cientistas. “Nunca houve paleontólogos residentes na região”, justifica
Cisneros, que se tornou o primeiro após ser contratado pela UFPI há
cerca de um ano. “É um lugar distante dos grandes centros de pesquisa,
de logística complicada para estudos de campo”, complementa. Agora,
tendo o pesquisador como base de apoio local, os projetos ganham novo
ritmo.
Em duas confortáveis caminhonetes com motoristas cedidos pela UFPI, a
equipe rodou quase 2 mil quilômetros ao longo de dez dias. “Essa
infraestrutura facilita muito nosso trabalho”, reconhece Iannuzzi. “É o
tipo de viagem que não se pode fazer num carro só, até por questões de
segurança, como deu para perceber”, diz ele, referindo-se ao imprevisto
ocorrido logo no primeiro dia da expedição.
Após atravessar com dificuldade um caminho de pedras graúdas e
pontudas para chegar até um lugar onde havia madeiras fósseis, um dos
pneus de uma caminhonete estourou assim que alcançou o asfalto. Na
tentativa de trocá-lo, veio a surpresa desagradável. O macaco não
aguentava o peso do veículo, acabou entortando e não prestou mais. O
borracheiro mais perto ficava a uns 20 km de distância.
***
QUADRO: Contrabando levou à criação de monumento
Durante vários anos, as madeiras
petrificadas da Bacia do Parnaíba foram contrabandeadas para a Europa, o
Japão e os Estados Unidos. Depois de fatiadas e polidas, eram vendidas
como tampos de mesa, molduras para relógios de parede, porta-copos,
entre outros objetos utilitários ou ornamentais.
O material era explorado pela mineradora
Pedra de Fogo, no município de Filadélfia, ao norte do Tocantins, numa
área que abrange três fazendas de propriedade particular. A polícia
entrou no caso em 2000. Ainda naquele ano, o governo do Estado
transformou a área em Unidade de Conservação, o chamado Monumento
Natural das Árvores Fossilizadas do Estado do Tocantins (MNAFTO).
Na Justiça, o caso envolvendo a mineradora
se arrastaria ainda por vários anos. Em 2010, cerca de 90 toneladas de
madeiras fossilizadas foram apreendidas no depósito da mineradora Pedra
de Fogo, em Goiânia. As fotos desse lugar, com troncos gigantes, ainda
estão no site da empresa, aparentemente abandonado: www.pedradefogo.com.br.
A pedido da reportagem, a expedição visitou
uma das fazendas localizadas dentro do MNAFTO, onde, por determinação da
Secretaria de Meio Ambiente do Tocantins, a coleta de material está
proibida, inclusive para finalidades científicas. O que se vê são apenas
troncos pequenos e relativamente escassos. “A área está bem degradada. O
melhor já foi levado”, comenta Roberto Iannuzzi, da UFGRS.
Fonte: http://scienceblogs.com.br/