segunda-feira, 15 de abril de 2013

BANDEIRANTES, OS BRUTOS QUE CONQUISTARAM O BRASIL

Eles eram bárbaros sanguinários. Matavam velhos e crianças e escravizavam por dinheiro. Mas sem os bandeirantes o país terminaria em São Paulo.

Bandeirantes disfarçados em missionários escravizam índios

Ilha do Bananal, atual Estado de Tocantins, ano de 1750. Um grupo de homens descalços, sujos e famintos se aproxima de uma aldeia carajá. Cautelosamente, convencem os índios a permitir que acampem na vizinhança. Aos poucos, ganham a amizade dos anfitriões. Um belo dia, entretanto, mostram a que vieram. De surpresa, durante a madrugada, invadem a aldeia.Os índios são acordados pelo barulho de tiros de mosquetão e correntes arrastando. Muitos tombam antes de perceber a traição. Mulheres e crianças gritam e são silenciadas a golpes de machete. Os sobreviventes do massacre, feridos e acorrentados, iniciam, sob chicote, uma marcha de 1 500 quilômetros até a vila de São Paulo - como escravos.

Foi assim, à força, que os bandeirantes conquistaram o Brasil. Caçadores profissionais de gente, chegaram a lugares com os quais Pedro Álvares Cabral nem sonharia. Nas andanças em busca de ouro e índios para apresar, descobriram o Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Tocantins. Percorreram e atacaram povoações espanholas nos atuais Peru, Argentina, Bolívia, Uruguai e Paraguai. Espalharam o terror entre os povos do interior do continente e expandiram as fronteiras da América portuguesa. Uma história brutal. Mas, se não fossem eles, você talvez falasse espanhol hoje. Os maiores trunfos desse avanço eram o conhecimento do sertão e uma disposição que intrigava até os inimigos. O padre jesuíta espanhol Antonio Ruiz de Montoya (1585-1652), por exemplo, escreveu que os paulistas, a pé e descalços, andavam mais de 2000 quilômetros por vales e montes “como se passeassem nas ruas de Madri”. A coragem deles também era extraordinária. Além de terras desconhecidas, sempre enfrentaram temíveis grupos indígenas dispostos à briga. E nem sempre se davam bem. Muitos morreram de fome, em terras estéreis, ou crivados de flechas.

Os grandes perdedores, no entanto, foram os índios. Nas tribos visitadas pelos bandeirantes não ficava palha sobre palha. Muitos territórios viraram desertos humanos, ocupados, depois, por súditos portugueses. Por isso, hoje quase não se vêem índios em São Paulo, Minas Gerais, na Bahia e no Nordeste em geral. No aniversário de 500 anos do Descobrimento, a SUPER traz um retrato desses homens e da aventura que desenhou, com violência, um novo mapa do Brasil.

De costas para o mar, de olho no sertão

De todos os núcleos de colonização portuguesa no Brasil do século XVI, São Paulo era o único que não ficava no litoral e não dependia do comércio com a Europa. A sobrevivência da vila, nos seus primórdios, era garantida pela esperta política de alianças do cacique tupiniquim Tibiriçá, que havia casado sua filha com o português João Ramalho. Seus guerreiros conseguiam cativos de outras tribos para as lavouras dos primeiros colonos.

Ao perceber que não conseguiria chegar pelo sul do Brasil às cobiçadas minas de ouro e prata do Peru, a Coroa portuguesa abandonou os paulistas à própria sorte. Aos bandeirantes restou a exploração do ouro vermelho, os índios. Assim começou o “negócio do sertão”, como era chamado o ofício da caça de gente, base da economia paulista até o século XVIII. A mão-de-obra escrava foi a base do desenvolvimento de prósperas plantações de trigo no século XVI ao XVII, vizinhas à cidade. Áreas rurais, como Cotia e Santana de Parnaíba, abasteciam São Vicente e Rio de Janeiro, os centros produtores de açúcar, a maior mercadoria da colônia.

“Até há pouco pensava-se que os bandeirantes capturavam índios para exportar para as plantações de cana no litoral”, disse à SUPER o historiador John Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas. “Mas hoje sabemos que a maioria dos cativos ia para as lavouras dos próprios bandeirantes”, ressalta. Enquanto houve índios, o interior de São Paulo foi o celeiro do Brasil colonial.

Se o campo era rico, o mesmo não se pode dizer da precária vila, que em 1601 tinha apenas 1500 habitantes. Em nada se comparava à solidez dos núcleos canavieiros do Nordeste, como Olinda ou Salvador. São Paulo era umas poucas casas de pau-a-pique espalhadas no meio do mato, entre ruas sujas e barrentas. Um visitante sofreria para achar um endereço. Primeiro porque as ruas não tinham nome. Depois, não conseguiria, mesmo, entender os paulistas: quase todos eles eram índios ou mestiços e falavam a “língua geral”, um dialeto tupi. Aliás, o nome completo da vila era São Paulo de Piratinininga, que quer dizer “peixe seco” no idioma indígena. O português era de uso quase exclusivo da minoria branca. Segundo o historiador Sérgio Buarque de Holanda, 83% da população paulista no século XVII era indígena. O bilingüismo só acabaria de vez em 1759, quanto a língua geral foi proibida pelas autoridades portuguesas, por decreto. Em São Paulo, rico era quem tinha talheres - só dez famílias possuíam - e camas. Isso mesmo: camas. Em 1620, um representante do rei de Portugal em visita à cidade simplesmente não tinha onde dormir. A solução foi confiscar a única cama decente da cidade, que pertencia a um cidadão chamado Gonçalo Pires.

Por cima do Tratado de Tordesilhas

A cidade de Guaíra é hoje um discreto centro produtor de soja com 30 000 habitantes, 680 quilômetros a oeste de Curitiba, no Paraná. Em 1600, no entanto, tinha importância estratégica. Chamava-se Ciudad Real del Guayra e era capital da província de Guayrá, subordinada a Assunção, capital do Vice-Reinado do Prata espanhol. O Guayrá abrangia 80% do atual território paranaense.

Localizada dentro das terras atribuídas à Espanha pelo Tratado de Tordesilhas - que em 1492 dividira os territórios espanhóis e portugueses na América - a província abrigava vilas espanholas e doze missões jesuíticas, que congregavam grande parte dos índios guaranis da região. Era uma verdadeira mina de escravos para os paulistas, já que os guaranis eram um povo agrícola que falava um idioma semelhante à lingua geral de São Paulo. Só que os padres e fazendeiros espanhóis impediam o acesso dos índios aos colonos portugueses. Por isso, os moradores de São Paulo defendiam abertamente uma invasão militar da região. Mas Portugal insistia em manter uma política de boa vizinhança com os espanhóis e respeitar a fronteira. Foram os próprios castelhanos que cutucaram a onça primeiro e vieram apresar índios perto de São Paulo. Era a desculpa que os bandeirantes esperavam. Em 1619, um exército de 2000 índios e 900 mestiços invadiu aldeias e missões no Guairá, capturando guaranis. Hordas foram enviadas acorrentadas para São Paulo. Era o começo do fim do Tratado de Tordesilhas. Nos anos seguintes o território das missões sofreu na mão dos bandeirantes. Logo as expedições militares que partiam de São Paulo passaram a atacar também as missões de Tape, conquistando a maior parte das terras que séculos depois formaria o atual Estado do Rio Grande do Sul, além das missões do Itatim, hoje no sul do Mato Grosso do Sul. Segundo o historiador John Monteiro, até 1641 os paulistas destruíram entre onze e catorze missões jesuíticas espanholas. Cada uma tinha entre 3000 e 5000 índios, o que daria entre 33000 e 55000 índios escravizados.

Nesse apresamento, os bandeirantes tiveram um auxiliar poderoso: as epidemias contraídas pelos índios dos espanhóis, uma vez aldeados nas missões. “Muitas vitórias dos bandeirantes no Guayrá podem ter ocorrido porque os guaranis já estavam enfraquecidos pelas doenças”, ressalta o arqueólogo Francisco Noelli, da Universidade Federal de Maringá, no Paraná. O avanço dos paulistas sobre o território espanhol só diminuiu depois da derrota para os guaranis na Batalha de M’bororé, em 1641 (veja acima). Depois daquela data, a caça ao índio passou a ser praticada por expedições menores. Uma vez encerrado o apresamento fácil dos bons escravos guaranis nas missões, os bandeirantes mudaram de rumo: passaram a buscar, no noroeste de São Paulo, índios mais selvagens, que não plantavam e não falavam tupi, os bravos jês. Viraram-se para o Centro-Oeste.

A corrida em busca de ouro

Sem os escravos guaranis, as plantações de São Paulo entraram em declínio. Os recursos passaram a ser canalizados para a busca de ouro e pedras preciosas, como esmeraldas, mais ao norte. As bandeiras se esticaram. Em 1648, Antonio Raposo Tavares (1598-1659) viajou 10000 quilômetros a pé e de canoa, de São Paulo ao Paraguai, e de lá até Mato Grosso, Amazonas e Pará. Andou quatro anos.

Ao mesmo tempo, as expedições de apresamento de índios tornaram-se menores, multiplicando-se as armações, as entradas familiares que reuniam uns vinte homens. Eram modestas, mas eficientes. Uma das tribos sistematicamente caçadas e escravizadas a partir de 1670, a dos goyás, acabou dando o nome ao Estado onde vivia: Goiás.

Em 1692 a persistência expansionista foi recompensada com a descoberta de jazidas em Ouro Preto, no atual Estado de Minas Gerais. Tão logo a notícia do ouro chegou a Portugal, a Coroa distribuiu os direitos de exploração a lusos e comerciantes do Rio de Janeiro, passando a perna nos bandeirantes. Para piorar, contrabandistas da Bahia também se meteram por ali. Os paulistas reagiram. Em 1709, armaram-se em bandos de índios e mamelucos e partiram para cima dos forasteiros, chamados de emboabas (“galinhas de bota”, em tupi). A Guerra dos Emboabas acabou em 1711 com a expulsão dos paulistas. Com eles fora, em 1720, criou-se a capitania de Minas Gerais. Vila Rica de Ouro Preto virou capital.

Aos bandeirates restou continuar procurando ouro. Alguns, como Bartolomeu Bueno da Silva (1672-1740), o Anhangüera, partiram atrás da mítica Serra dos Martírios, cujos montes - dizia-se - eram feitos de ouro puro. Depois de três anos vagando pelo cerrado, Anhangüera achou metal precioso nas terras dos goyás e fundou, em 1725, a cidade de Goiás. As descobertas atraíam bandeirantes como ímã, mas não só eles. Em 1719, quando a notícia da descoberta das minas de Cuiabá chegou a São Paulo, seus habitantes migraram em massa em direção às lavras do distante arraial. Surgiram, assim, as monções - as expedições fluviais. Mas chegar até o eldorado não era fácil. O extermínio dos guaranis-itatim do Mato Grosso, décadas antes, havia provocado um efeito colateral: a migração dos paiaguás para o Rio Paraguai, bem na rota das monções. Os paiaguás formavam frotas para assaltar os barcos dos paulistas. Para complicar, eles se aliaram a outra poderosa tribo, a dos guaicurus, que usavam cavalos roubados dos espanhóis. O poderio dessa aliança indígena foi suficiente para levar os castelhanos, em 1740, a fazer um tratado de paz com eles, algo inédito na América até então. Em 1727, depois do massacre de uma monção, os portugueses declararam guerra aos índios. Os conflitos terminariam em 1782, com um armistício. Os guaicurus, que atualmente se chamam kadiwéus e moram no Mato Grosso do Sul, até hoje se orgulham disso.

Tropa de choque no Nordeste

O bispo de Olinda, dom Francisco de Lima, ficou horrorizado quando recebeu, em 1694, a visita do paulista Domingos Jorge Velho. Diria depois que “era o maior selvagem com quem já havia topado” e que foi preciso um intérprete, pois o brutamontes só falava tupi. O bandeirante havia sido contratado pelo governador de Pernambuco para acabar com o pesadelo dos senhores de engenho nordestinos: o Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, oeste de Alagoas. Palmares era um conjunto de aldeias fortificadas que abrigava escravos fugidos - mas também índios, muçulmanos, brancos marginalizados e judeus. Desde 1654, seus guerreiros resistiam aos holandeses e às expedições militares mandadas contra eles. Mas não resistiriam aos índios e mestiços guerreiros do “selvagem” Jorge Velho - que, aliás, falava e escrevia em português. O bispo exagerou no desdém.

Como Domingos Jorge Velho, outros bandeirantes embarcaram para o Nordeste entre 1657 e 1720 atendendo a chamados de administradores regionais. O objetivo era combater grupos indígenas que não aceitavam a ocupação de suas terras pelos criadores de gado. As guerras contra os índios eram consideradas “justas” e os cativos eram declarados escravos. Criou-se assim o “sertanismo de contrato”, com bandeirantes convertidos em mercenários, recebendo os índios que capturassem como pagamento. O resultado foi a eliminação de vários grupos nordestinos, como os anayos, os maracás e os janduins. Muitos paulistas receberam terras e viraram criadores de gado na região do Rio São Francisco.

Com o fim da expansão mineradora e das guerras contra os índios no Nordeste, o ímpeto bandeirante arrefeceu. Em São Paulo, o declínio demográfico dos escravos e a dificuldade crescente de repor a mão-de-obra das fazendas do interior acabou pondo a economia paulista em xeque. Na primeira metade do século XVIII, sem índios e sem poder comprar escravos africanos, que custavam o dobro, as lavouras do interior paulista se estagnaram. Com isso, o “negócio do sertão” perdeu o motor. Os bandeirantes, que se lançaram como gafanhotos sobre o sertão por 200 anos, haviam descoberto um novo país. Mas acabaram tão pobres quanto antes.

Algo mais

A origem do termo "bandeira" tem várias explicações. A mais aceita afirma que as grandes expedições que assaltaram as missões jesuíticas no sul do país, no século XVII, eram formadas por diversas companhias, identificadas, cada uma, por bandeiras. Com o tempo, esse passou a ser o nome genérico das incursões de apresamento de índios dos paulistas.

Tocaia na madrugada

Para atacar aldeias indígenas, os bandeirantes organizavam bandos armados.

1. O chefe da expedição era um sertanista branco experiente, em geral aparentado com os demais expedicionários. Muitas vezes era o próprio empresário. Cabia a ele conseguir financiamento e reunir seus escravos, agregados e parentes para a incursão.
2. Os filhos costumavam se engajar nas expedições desde os 13 ou 14 anos. Ao se casar, recebiam armas, correntes e índios emprestados de pais e parentes, para montar sua própria expedição e, assim, arrebanhar seu primeiro patrimônio - escravos índios. As bandeiras eram um negócio familiar. Uma expedição pequena, uma "armação", reunia uns vinte homens.
3. Índios, geralmente escravos guaranis, eram a infantaria. Andavam nus ou vestidos com trapos. Serviam como guias, batedores, caçadores e cozinheiros. Sem eles não havia bandeira.
4. O arco e flecha era uma das armas mais usadas, tanto por brancos como por índios. Suas vantagens eram a leveza, o silêncio e a velocidade. Um índio disparava até sete flechas no mesmo intervalo de tempo em que se carregava de munição um arcabuz.
5. O alfanje, uma espécie de sabre curto, era a arma branca mais comum. Servia para combates corpo a corpo.
6. O gibão, também chamado de coura, era feito de couro de anta, mais grosso, para resistir a flechadas.
7. O mosquetão era um trambolho que precisava ser carregado por dois. De tão pesado, precisava ser apoiado num tripé. Media 1,75 metro de comprimento.
8. A gualteira era uma espécie de chapéu de pele de anta. Protegia a cabeça como um capacete.

A aldeia urbana

Conheça São Paulo em 1601.

Um arraial entre rios Um dos limites urbanos era o Córrego Anhangabaú, hoje centro da cidade. Um muro de taipa protegia a cidade de ataques de tribos inimigas. Do outro lado do rio era tudo mata. A riqueza estava no campo. Perto da vila estendiam-se fazendas de trigo, que era exportado para o litoral, e plantações de marmelo. O doce, muitas vezes vendido com o peso adulterado, deu origem ao termo “marmelada”.

As ruas não tinham placas. Os endereços eram indicados com referências do tipo “ao lado da cadeia”, ou “vizinho ao padre”. Havia cerca de 150 casas. As ruas eram desertas. A população passava a maior parte do tempo em fazendas ou no sertão, atrás de índios. Fundado em 1554 pelos jesuítas, o Colégio de São Paulo foi o primeiro edifício da cidade.

Galpão, doce galpão

A grossura das paredes de taipa dava às casas o aspecto de fortaleza. Por dentro, eram galpões com depósito, oficina e cozinha. Não havia banheiro. As necessidades eram feitas no quintal. A mobília se resumia a tamboretes e baús. Não existiam quartos nem camas, mas havia redes em todos os cantos da casa. Como nas aldeias indígenas, cada morador tinha uma fogueira ao lado da sua rede. São Paulo tinha muita floresta em volta e o clima era mais frio. Armas havia em abundância: escopetas, espingardas, bacamartes, arcos, flechas, espadas e alfanjes. E correntes para amarrar escravos.

Gente estranha

As mulheres paulistas eram conhecidas como "tapadas", por andarem sempre cobertas por panos escuros, da cabeça aos pés. A maioria falava mal o português.

Escravas índias, a maior parte guaranis, auxiliavam nas tarefas domésticas e na roça. Era perigoso uma mulher andar sozinha. Bandos de índios armados, a mando de famílias rivais, atracavam-se em pleno centro da vila.

Os poucos brancos tinham aspecto ameaçador. Andavam armados de punhais e arco e flecha.

A Batalha de M’bororé

Derrota freou expansão escravagista

A maior derrota bandeirante aconteceu em 1641 no Rio M’bororé, afluente do Rio Uruguai. Um batalhão de guaranis e guaranis-itatim da Missão de São Francisco Xavier, hoje na província de Misiones, Argentina, enfrentou e venceu uma frota de 130 canoas, com 350 bandeirantes e 1200 índios. Os paulistas foram surpreendidos por 70 canoas armadas com arcabuzes e arcos. A luta durou seis dias. Foi o fim das expedições paulistas às missões espanholas.

Um barco com a imagem de S. Francisco Xavier e um canhão vinham à frente das canoas.

Os guaranis das missões usavam armas de fogo. Nesta batalha, contaram com 57 arcabuzes.

Um padre comandava o ataque

Os paulistas que escaparam da morte no rio foram massacrados pelos guaranis-itatim na margem.

Século XVII: a invasão do sul

Durante trinta anos, os bandeirantes saquearam as missões espanholas.
Missões do Itatim 1630-1650
Missões do Guayrá 1619-1641
Missões do Tape 1630-1640

Se virando à paulista

Comer numa bandeira já era, por si, uma aventura. A primeira refeição do dia podia ser um macaco moqueado com uma pasta amarela e mofada de mandioca-brava, a chamada farinha de guerra.O grude era preparado meses antes, em São Paulo, e resistia a sol, chuva e baratas. Haja estômago. Mas isso só se você fosse índio. Para os brancos o rancho era um pouco melhor: farinha de milho, feijão e toucinho, o famoso “virado à paulista”, servido frio, mesmo. A dieta era complementada com a coleta de frutos, já que não dava para levar muita comida na bagagem nem das roças plantadas no caminho.“Muitas expedições eram marcadas para épocas que coincidissem com a colheita de frutas silvestres, como o pinhão”, contou à SUPER a historiadora Maria da Glória Kok, da Universidade de São Paulo. Quando a fome apertava e não havia caça nem pesca, entravam no cardápio até larvas, formigas, cobras, sapos e lagartos. E às vezes nem isso havia. Em 1722, quarenta membros da expedição de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhangüera, morreram de inanição em uma chapada goiana.

Caçada humana - As táticas de guerra dos paulistas.

1. Antes da partida das bandeiras, escravos iam na frente e plantavam roças de milho e mandioca em pontos estratégicos - muitas viraram cidades, como a atual Batatais (SP). A viagem era marcada em função da colheita.
2. As expedições menores, as armações, saíam em fila de madrugada. Os homens andavam até 10 quilômetros por dia. Não tinham volta marcada: o importante era aprisionar quantos índios pudessem.
3. Achada a aldeia a ser atacada, os paulistas amolavam facas, machetes e alfanjes. Bagagem, doentes e feridos eram deixados no acampamento.
4. Os ataques exploravam a surpresa. Para inibir resistências valia aterrorizar, matando crianças e queimando gente viva. Depois era feita a carga, com o maior número possível de índios amarrados e acorrentados.
5. Se o ataque fosse bem-sucedido, as “peças”, como se chamavam os cativos, eram remetidas para São Paulo, para serem vendidas. Parte dos homens continuava atrás de mais índios para escravizar.

Século XVIII: a conquista do Centro-Oeste

Os bandeirantes desbravaram Minas, Mato Grosso, Goiás e guerrearam os índios do Nordeste.
Guerras no Nordeste (1690-1760)
Rota das monções (1710-1780)
Expedições de apresamento e mineração Descoberta de ouro

Cidades fantasmas

O arqueólogo Paulo Zanettini ficou espantado quando trombou com um muro de pedra de 300 metros de extensão no meio do mato, na Serra da Borda, atual município de Pontes e Lacerda, no oeste de Mato Grosso. “Achei que estivesse em uma ruína inca”, lembra-se. Mas o que Zanettini encontrou foi um capítulo esquecido da história das bandeiras. Aquele enorme muro pertencia a um arraial de mineração de ouro do século XVIII. Em 1988, Zanettini identificou vestígios de três cidades de pedra na região: São Vicente, Vila Bela e São Francisco Xavier da Chapada. Na última, há restos de taipa, indício da presença bandeirante - já que essa técnica de construção era marca registrada dos paulistas. As cidades fantasmas foram provavelmente construídas por exploradores que, para fugir do recolhimento de impostos nas minas de Cuiabá, migraram para o oeste a partir de 1720. Arraiais semelhantes foram identificados também no alto Rio Tocantins, em Goiás. “O tamanho deles dá uma idéia do que esses homens fizeram na busca do ouro”, disse o arqueólogo à SUPER. Sua ganância era tanta que o mineral em todos esses arraiais acabou em menos de vinte anos. As cidades foram engolidas pelo mato.

Quem perdeu o Brasil

Nações indígenas foram desalojadas ou extintas pelas bandeiras. Veja as terras invadidas e as migrações forçadas de alguns grupos.

Panará

Antes chamados caiapós do sul, saíram de Minas e foram parar no norte de Mato Grosso. São 161 indivíduos.

Xerente

São parte do grupo akwe que se dividiu durante os ataques dos bandeirantes a Goiás. Moram em Tocantins e são 1500 indivíduos.

Carajá

Quase dizimados durante o século XVIII, são hoje um grupo de 2000 indivíduos.

Goyá

A tribo que batiza o Estado de Goiás foi completamente extinta (não restou sequer uma imagem). Ninguém sabe como eram, que língua falavam nem como viviam.

Guarani

Foram as primeiras vítimas das bandeiras. Segundo o historiador paraguaio Bartolomeu Meliá, eram mais de 800 000 em 1600. Hoje são 30000 em todo o país.

Caiapó

Antigos habitantes do Tocantins, emigraram para o Pará e Mato Grosso. Só fariam contato pacífico com os brancos a partir de 1950. São 4 000 indivíduos hoje.

Xavante

Originalmente parte do grupo akwe, fugiram de Goiás para o Araguaia e depois para o Mato Grosso, onde estão até hoje. São 7 100.

Guaicuru

Terror da região do Pantanal e Chaco paraguaio de 1720 a 1780, fizeram acordos de paz com os portugueses e os espanhóis. Hoje há 1 200 deles, que se chamam kadiwéus e moram no Mato Grosso do Sul.

Holocausto brasileiro

O Brasil é uma invenção recente. Quando Cabral chegou, havia inúmeras nações indígenas, divididas entre si em pequenas tribos, que viviam em guerra umas com as outras. A conquista se fez aos pedacinhos. Para transformar tanta terra em um país só, foi feita uma vasta limpeza étnica. Estima-se que em 1500 havia 5 milhões de índios no Brasil. Hoje eles são 300 000 (0,2% da população) e ocupam 12% do território brasileiro. O lingüista Aryon Dall’Igna Rodrigues, da Universidade de Brasília, calcula que existiam 1 200 línguas. Hoje há 180. No Centro-Sul e Nordeste do país, o genocídio foi executado, na maior parte, pelos bandeirantes. Eles extingiram vários grupos, como os goyás, os janduins, os guarulhos, os araés, os guaranis-itatim e outros cujo nome nem se sabe. Mas sua intervenção nem sempre era direta. Como num jogo de bilhar, os grupos que fugiam dos ataques paulistas invadiam as terras dos outros, iniciando novos ataques e revides sangrentos. Ao migrar, forçavam outros grupos a se deslocar, até novo território. Foi o caso dos akwes, de Goiás, que a partir de 1720 se dividiram em dois. Parte deles fugiu para a região do Araguaia, território tradicional dos carajás. O conflito empurrou os migrantes mais para o oeste, até o atual cerrado mato-grossense, onde estão até hoje. São os atuais xavantes. Os que ficaram em Goiás hoje estão em Tocantins. São os xerentes.

Os bandeirantes souberam manipular os ódios intertribais. Poupavam tribos com as quais mantinham comércio, como os guaianás, e compravam escravos de outras, como os caiapós do sul. Estes últimos passaram de fornecedores a mercadoria, e fugiram de seu antigo território, a região do Triângulo Mineiro. Foram parar no norte de Mato Grosso, onde só seriam encontrados de novo em 1967. Descobriu-se, só então, que a tribo se autodenominava panará.

Ocas de branco

Quem vê um bandeirante numa pintura oficial imagina que eles moravam em vastas casas senhoriais. Nada disso. As residências paulistas eram verdadeiras ocas com paredes de taipa. “Havia uma mistura das influências européia e indígena”, disse à SUPER a arqueóloga Margarida Andreatta, da Universidade de Mogi das Cruzes. Escavando uma casa de 1650 no hoje movimentado bairro do Tatuapé (“caminho do tatu”, em tupi), na zona leste da capital paulista, Andreatta descobriu fragmentos de cerâmica indígena misturados à louça portuguesa. Achou também um polvarinho, um recipiente de madeira usado para guardar pólvora. Como as malocas familiares tupis, as casas tinham redes espalhadas por todos os cantos. Também foi encontrado carvão de vários restos de fogueira, o que sugere que cada habitante tinha um fogo-de-chão ao lado da rede, para cozinhar e se aquecer nos dias frios.

Texto de André Toral e Giuliana Bastos publicado na revista "Super Interessante" edição 151 de abril de 2000. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa

Os vikings e a chegada ao Novo Mundo


Colombo ficou com a fama de ter descoberto a América, mas outros europeus estiveram no continente 500 anos antes dele

Marcelo Ferroni




Quem descobriu a América? Todo estudante sabe a resposta de cor: o navegante genovês Cristóvão Colombo desembarcou em uma ilhota da América Central no dia 12 de outubro de 1492. Desde então, europeus de várias latitudes atravessaram o Atlântico, invadiram o continente, mataram-se uns aos outros e aos moradores originais, tomaram conta e moldaram à sua vontade o que viram. Mas os livros de História muitas vezes se esquecem de mencionar que, antes de Colombo, outros europeus se aventuraram pelo Atlântico atrás de terras desconhecidas. Por volta do ano 1000, os vikings estiveram na costa canadense e chegaram a levantar assentamentos.

Não há dúvidas sobre isso. Ruínas descobertas na década de 60 por um casal de arqueólogos noruegueses, Helge e Anne Ingstad, comprovaram a presença de representantes dos vikings, conhecidos no restante da Europa como um povo bárbaro que aterrorizou a po pulação do que hoje é a Grã-Bretanha, França, Alemanha e norte da Espanha. As andanças dos vikings pelo Atlântico Norte não devem ser esquecidas, mas não tiram de Colombo o título de descobridor europeu do Novo Mundo.

"O que se considera em História não é só o descobrimento, mas a colonização", afirma Leandro Karnal, professor de História da América da Universidade Estadual de Campinas. "É a colonização que produz História, trágica ou não."


A odisséia viking já era conhecida dos europeus por duas sagas ou lendas antigas dos povos escandinavos compostas nos séculos 13 e 14. Elas narram a história de dois navegadores nórdicos, Eric, o Ruivo, e seu filho Leif Ericsson, e a chegada à Groenlândia e à América. Eric, o Ruivo, não era o que se poderia chamar um cidadão benquisto, mesmo entre os belicosos povos vikings. Foi expulso da Noruega e, em seguida, da Islândia, entre os anos de 985 e 986 por causa dos massacres que costumava promover. Degredado com seu bando, o navegador tomou o rumo oeste e acabou batendo na ponta mais ao sul da Groenlândia. Foi dali que saiu a expedição que chegaria à América 15 anos depois.


A segunda parte da travessia, contam as sagas, foi realizada por Leif, o segundo dos três filhos de Eric. Ele aventurou-se mais ao sul, seguindo a corrente do Labrador até chegar ao que é hoje a Terra Nova, no Canadá. A costa recém-descoberta foi batizada de Vinland. No dialeto viking, a palavra pode ter sido sugerida pelas videiras selvagens e solos férteis que então existiam na região. "Não se sabe se Vinland era o mesmo sítio descoberto pelo casal de arqueólogos na costa canadense", conta o histori ador Leandro Karnal. Mas a colonização do continente não foi adiante. Acredita-se que Leif manteve durante três anos uma comunidade chamada Leifsbudir. Depois disso, um mercador islandês chamado Thorfinn Karlsefni esteve na Groenlândia, casou-se com a cunhada viúva de Leif e obteve permissão para continuar viagem até o Canadá com outros colonos. Isso ocorreu por volta de 1010. A comunidade sobreviveu com seus novos habitantes por mais dois anos.

Inferno na terra
Antigo assentamento viking em L'Anse-aux-Meadows

Depois disso, não se sabe mais nada. Mas imagina-se que o contato dos nórdicos com os habitantes locais tenha sido, digamos, longe de harmonioso. Quando os vikings pisaram no Novo Mundo, encontraram tribos que já habitavam a região e, como eles, dotada s de uma cultura naturalmente agressiva. Ao contrário do que ocorreu durante a colonização espanhola, foi a vez das tribos americanas mostrarem sua força.

Se não há provas materiais desse confronto, existem os relatos nas sagas vikings. Para começar, os colonizadores chamavam seus novos vizinhos de skraelingar, no dialeto viking uma palavra com muitos significados, quase todos pejorativos. Para alguns historiadores, quer dizer estrangeiro; para outros, pessoas miseráveis ou doentias.

Pois esses "estrangeiros doentios" devem ter acabado com o paraíso viking naquele pedaço de terra. "Não sabemos como os povos locais se autodenominavam", diz John Hale, arqueólogo da Universidade de Louisville especialista em vikings. "Mas sua cultura em alguns aspectos parece ser ancestral à dos modernos inuits (habitantes do norte do Canadá) e dos esquimós." Seja como for, parece claro que houve combates entre europeus e índios. "Afinal, os vikings brigavam com todo o mundo", comenta Karnal. "É verossímil que isso tenha acontecido, ainda mais considerando como eles chamavam os índios."

Baseado nas sagas nórdicas, Hale levanta a hipótese de que tenha havido brigas violentas entre os próprios colonos, potencializadas pelo isolamento de Vinland do resto do mundo viking. Naquela época, a expansão dos nórdicos na Europa começava a perder força. "A explosão populacional na Escandinávia, que gerou a colonização de partes da Rússia, Finlândia, França e Ilhas Britânicas, não era mais a mesma", conta Hale.

Segundo o historiador, depois do ano 1000, os colonos da Islândia e da Groenlândia não produziram mais as imensas famílias que obrigaram a ida a outros continentes e originaram a iniciativa de colonização da América.


Dúvidas históricas
A história contada acima é o que se acredita tenha acontecido. Mas há muitas interpretações sobre os fatos. O professor Alan Macpherson, da Universidade Memorial da Terra Nova, no Canadá, conta, por exemplo, que as mesmas sagas que falam da aventura de Leif, referem-se também a uma viagem à América anterior àquela protagonizada pelo filho do degredado. Leif pode ter sido precedido por Bjarni Herjolfsson, um mercador que navegava entre a Islândia e a Noruega. "A viagem de Bjarni, em 986, foi um feito m uito maior que a de Leif, mas tem sido denegrida ou ignorada com freqüência", contou Macpherson a Galileu. O professor também não concorda com a denominação de vikings para os que chegaram à América. Para ele, os vikings não eram um grupo étnico. "Ele s eram identificados entre os nórdicos como os saqueadores marítimos que atacavam as partes mais civilizadas e cristãs da Europa."

Para os historiadores, a travessia por mares gelados é mais importante que a colonização em si. É considerada um marco de navegação, em uma região perigosa como o Atlântico Norte. Mas o arqueólogo Peter Pope, também da Universidade da Terra Nova , diz que os nórdicos cruzaram o oceano diversas vezes. Considerando a tecnologia de embarcações da época, acredita ele que o feito não era extraordinário. Para Macpherson, "Leif Ericsson estava retraçando a viagem de Bjarni Herjolfsson de 986".

Seja como for, os historiadores concordam que a colonização não mudou a história da América. A glória da descoberta ainda é de Cristóvão Colombo. Depois de uma viagem atribulada que durou dois meses e à beira de um motim, o navegador genovês e seus mar inheiros finalmente avistaram terra. Que pedaço de terra era aquele e qual a primeira ilha avistada pelos europeus, ainda é tema de grande disputa.

Acredita-se que Colombo tenha pisado primeiro na ilha de São Salvador, ou Watling. Em seguida, as embarcações Santa Maria, Pinta e Niña seguiram caminho, em busca do que os navegantes imaginavam ser a ilha de Cipango (atual Japão). Colombo acreditava ter chegado ao Oriente pelo oeste, dando a volta ao mundo. Não sabia que tinha descoberto um novo continente.


O
valor da concha


Se Cristóvão Colombo tivesse outros interesses além da busca de riquezas e, ao chegar ao Novo Mundo, resolvesse coletar uma simples conchinha depois de ter se ajoelhado, beijado o solo e feito suas preces, a primeira ilha em que o navegador genovês pisou poderia ser conhecida hoje.

A idéia partiu de um artigo do paleontólogo e escritor Stephen Jay Gould, descrita em um de seus livros, Leonardo's Mountain of Clams and the Diet of Worms (Harmony Books, 1998, sem edição em português). Ao relatar a chegada dos europeus e a incerteza em descobrir o local exato do primeiro desembarque, Gould parece se deliciar com a descrição de um tipo de concha de um molusco da espécie Cerion, tão comum nas Bahamas que Colombo provavelmente teria se ajoelhado sobre uma ao fazer suas preces. As conchas variam de ilha para ilha na região, o que poderia indicar o local correto de sua origem e denunciar a chegada dos europeus.

Aceita-se que o primeiro ponto de desembarque seja a ilha de Watling, nas Bahamas, hoje chamada São Salvador. Mas a primazia de outros pedaços de terra, como as ilhas Cat e Mayaguana, ainda é defendida por alguns historiadores.


Massacre total
A história continua. Depois de mais três viagens ao novo continente (1493-1496, 1498-1500 e 1502-1504), o navegante genovês caiu em desgraça. O continente que ele descobriu recebeu o nome de América em homenagem a outro navegador, Américo Vespúcio. Mesmo assim, a sua viagem de 1492 abriu caminho para a futura exploração e colonização européia.

"Os espanhóis alteraram a história da América, e essa alteração foi contínua", relata Karnal. "Se outros navegadores estiveram antes por aqui, isso não mudou nada." O que veio depois já podia ser previsto pelos primeiros contatos. Ao contrário dos nativos do norte, que aparentemente souberam se defender muito bem dos estranhos invasores europeus, os habitantes das Bahamas eram tribos pacatas que não eram páreo para os agressivos colonizadores espanhóis. "O genocídio nas ilhas da América Central é o ú nico com ISO 9000", ironiza Karnal. "Nenhum outro conseguiu a eliminação total de um povo como ocorreu nas ilhas. E isso dificulta a compreensão do que houve quando Colombo desembarcou pela primeira vez."


A
s comemorações do milênio

Reconquista
O Icelander, réplica de embarcação que levou os vikings à América
Mil anos depois, os povos do continente celebram a chegada dos vikings ao Novo Mundo. Nos Estados Unidos, alguns dos principais museus de história natural do país, como o Smithsonian, em Washington, e o Museu Americano de História Natural, em Nova York , montaram a exposição "Vikings, a Saga do Atlântico Norte", com peças e mapas vikings. No Canadá, é celebrado o que se chamou de "Círculo Completo": o reencontro, na Terra Nova, de descendentes dos primeiros Homo sapiens que migraram há milhares de anos da África e acabaram povoando a Ásia, a Europa e o Novo Mundo. Mas a comemoração mais vistosa foi montada na Islândia. Uma réplica de uma embarcação usada pelos vikings, chamada Icelander (foto acima), atravessou o Mar do Norte e refez o trajeto de Leif Ericsson. A viagem foi iniciada em 17 de junho e durou dez dias.



Anote
Para navegar
Exposição viking

Para ler
Vikings - The North Atlantic Saga, de William Fitzhugh (editor). Smithsonian Institution Press. 2000


Ilustração: Pepe Casals
Ilustrações: mapas, Ronaldo L. Teixeira
Foto: Colombo, Zena

Mapas de Povoamento das Américas

Seguem alguns mapas que nos ajudam a visualizar as rotas migratórias humanas para as Américas.

Prováveis rotas de povoamento das Américas. (Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLeIM10JN-xhqJ0fHNDGas31b-jfuhQcMqsKNioKZY_lLhxpoLZeUe-99F90StVyFKKNl0e-p30a6FIzqofFqOl9DRkjmGMo0HROSKQIjQEe3U3Ipxw4Uaq1JPckyOCl1JONHW08kFIfY/s1600/mapa.jpg)


Grupos étnicos que povoaram as Américas. (Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia67bxf20XiWWlLl-9pvKOP-s6TV1c32UXO-BWNfujtGUKDeepklrMxFkb-KCG-hKlW3oKj0-fizWDXabN5Y7HAN3Np8dv4FdtmrR3HxgxLhl1kbfatWPtWMYz03eyyPf0DY_VCzcXqqeV/s1600/povoamento_ame.jpg)

Mapa com dados acerca dos mais antigos fósseis humanos já encontrados no mundo. (Fonte: http://www.flickr.com/photos/bldgblog/2398034248/sizes/o/)
E, por último, um interessante mapa da migração humana feito pela national geographic disponível para download aqui.
Fonte: http://unbamericaindigena.blogspot.com.br/2011/09/mapas-de-povoamento-das-americas.html

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Tecnologia transforma gases tóxicos de aterro sanitário em energia elétrica

Maquetes


Maquetes

Maquete... Aterro Sanitário
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Usina  Hidrelétrica    Henrry  Borden  (Cubatão) 
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Maquete  Hidrelétrica   Simulada
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Picina   de  Bolhas

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Primeiros Povos da América



Texto 1 - Primeiros Povos da América

Por Felipe Araújo

Na opinião de muitos historiadores, o surgimento dos seres-humanos deu-se na África. Somente após muitos anos eles se deslocaram para outras regiões do planeta, até chegarem ao continente americano. Existem diversas opiniões sobre a maneira como estes povos chegaram na América, a mais aceita é de que teriam vindo do Norte da Ásia pelo Estreito de Bering, trecho que faz a separação entre Rússia e Estados Unidos (Alaska). Naquela época, o mar encontrava-se mais baixo devido à glaciação, isso fez com que uma passagem de gelo natural fosse formada entre os continentes americano e asiático e por ela os povos antigos passaram a chegaram à América.Por outro lado, existe a hipótese de que os primeiros povos da América teriam chegado no continente ao atravessar ooceano Pacífico. Eles teriam vindo da Ásia e da Oceania. Calcula-se que os primeiros homens a migrarem para a América teriam feito a travessia há cerca de 20 a 70 mil anos e que utilizaram diversos caminhos. Os homens que chegaram ao Brasil formaram agrupamentos de caçadores, coletores, tinham domínio do fogo e construíam instrumentos de pedra. Provavelmente estariam localizados no Piauí, mas não existem muitas fontes seguras quanto a isso.Peter Wilhelm Lund, naturalista dinamarquês, encontrou fósseis de 30 crianças e adultos da pré-história em Lagoa Santa, Minas Gerais. Segundo cálculos, estes fósseis teriam 12 mil anos. Até o ano de 1970 haviam sido encontrados aproximadamente 250 fósseis de seres humanos, o mais famoso foi um crânio batizado como “crânio de Luzia”, com data de aproximadamente 11 mil anos atrás. Estes descobrimentos em Lagoa Santa foram de suma importância para a compreensão do aparecimento do homem na América e rendem estudos até hoje.Pesquisando a morfologia do crânio de Luzia, Walter Alves Neves, do Instituto de Biociências da USP, descobriu traços parecidos com os dos atuais aborígenes australianos e dos negros africanos. Com o apoio de outros pesquisador, o argentino Héctor Pucciarelli (Museo de Ciencias Naturales de la Universidad de La Plata), Neves elaborou uma teoria de que os povos que chegaram à América seriam de grupos distintos. Os primeiros chegaram há 14 mil anos e tinham a aparência de Luzia. Já os segundos teriam sido os mongolóides (11 mil anos atrás) e deles descenderam todas as tribos de índios da América.Apesar de todas as teorias, o mais provável é que as Américas tenham sido povoadas por homens de diferentes origens. Com o passar dos anos, eles formaram um mosaico com uma infinidade de povos e línguas.Fontes:COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e geral. São Paulo: Editora Saraiva, 2005.http://pt.wikipedia.org/wiki/Povos_ameríndioshttp://www.viewzone.com/paleonuke.htmlFonte: http://www.infoescola.com

Texto 2 - A Povoação das Américas - História da Povoação das Américas

Sobre os estudos que envolvem o povoamento das Américas é importante ressaltar algumas considerações: 



a) A preocupação sobre os habitantes das Américas pré-colombianas só começaram da aceitação pelos europeus que os indígenas possuíam alma e, portanto, eram considerados seres humanos. Isso ocorreu por volta de 1540 após a publicação de uma bula papal, a qual confirmava esta afirmativa, baseada no argumento que um dos apóstolos esteve na América anteriormente. 



Esta bula resolvia questões surgidas pelo contato com os ameríndios os quais desconheciam a existência de Jesus Cristo, contrariando a ordem deste aos apóstolos, de espalhar os ensinamentos do Novo Evangelho a todos os povos, conseqüentemente, colocando em perigo toda a doutrina cristã. 


a) A preocupação sobre os habitantes das Américas pré-colombianas só começaram da aceitação pelos europeus que os indígenas possuíam alma e, portanto, eram considerados seres humanos. Isso ocorreu por volta de 1540 após a publicação de uma bula papal, a qual confirmava esta afirmativa, baseada no argumento que um dos apóstolos esteve na América anteriormente. 

Esta bula resolvia questões surgidas pelo contato com os ameríndios os quais desconheciam a existência de Jesus Cristo, contrariando a ordem deste aos apóstolos, de espalhar os ensinamentos do Novo Evangelho a todos os povos, conseqüentemente, colocando em perigo toda a doutrina cristã. 

A solução foi encontrar algo que comprovasse a estada de um apóstolo na América repassando os ensinamentos de Cristo. Comparando a semelhança do nome do principal deus de algumas tribos indígenas (ZUMÉ), chegaram a conclusão que o apóstolo em questão, seria o São Tomé, não só pelo nome, mas também pelo fato deste, ter sido o único apóstolo a duvidar da ressurreição de Jesus e por isso, recebeu como punição ensinar a “boa nova” aos povos mais longínquos e “primitivos”. Isso também demonstrava a facilidade de aceitação dos ensinamentos cristãos aos indígenas da época. 

b) Os estudos feitos sobre o povoamento americano fundamentam-se, principalmente, de achados arqueológicos. Sob esta ótica, salienta-se que a Arqueologia é uma ciência de raras certezas, mas não gosta de especulações e que, além dos restos arqueológicos, suas conclusões também se baseiam em observações comparativas comportamentais e culturais de “povos vivos”, os quais conservam características ainda “primitivas”. Outro ponto importante a ressaltar é que descobertas arqueológicas futuras, podem forçar a novas reconsiderações consideradas corretas até o presentemomento, através de novas inovações tecnológicas e/ou novas pesquisas e achados nesta área de interesse. 

c) As técnicas de datação mais utilizadas pelos pesquisadores e disponíveis atualmente são: 

CARBONO-14: A utilização desta técnica é mais ou menos precisa na análise de materiais com até 50 milênios (com margem de erro abrangendo menos de 20 ou mais que 5000 anos). O carbono-14 é um elemento presente em todos os organismos vivos, se desintegrando em uma taxa constante após a morte. Esta taxa corresponde que, a cada 5730 anos a quantidade dos átomos radioativos de carbono cai pela metade, fenômeno conhecido como meia-vida. Um aparelho chamado acelerador espectrômetro de massa, conta os átomos de carbono-14 da matéria orgânica analisada, determinando assim sua idade. 

URANO-TÓRIO: É empregado no estudo de objetos com milhões de anos. Funciona pelo mesmo princípio do método carbono-14, mas toma por base as meias-vidas do urânio 238 e do tório 230, mais longas. 

TERMOLUMINESCÊNCIA: Esta técnica é confiável no exame de achados com poucos milhares de anos. Não se detém na radioatividade dos materiais, mas em uma emissão de luz. Assim, o fóssil é aquecido e libera, em forma de luz, energias que capturou e reteve em sua estrutura cristalina. Considerando o ambiente em que o material foi encontrado e a quantidade de energia existente nas diversas épocas, é estabelecida sua idade. 

TESTES DE DNA: Através do mapeamento genético, já é possível determinar parentescos e outras características. Para os próximos anos será a grande ferramenta para a solução de variadas questões. 

d) Há algumas semelhanças físicas e culturais em todos os habitantes pré-colombianos. Dentre as semelhanças físicas pode-se ressaltar: todos possuem pele de tez bronzeada ou acobreada; todos possuem cabelos pretos e muito lisos; todos possuem olhos castanhos ou pretos, geralmente de forma amendoada. As semelhanças culturais serão analisadas detalhadamente na apresentação dotrabalho, porém destaca-se algumas: a rápida difusão do horizonte cultural paleoíndio de pontas de projétil, como peça diagnóstico; a religião politeísta; o uso da cerâmica; padrão de subsistência de caçadores-coletores; o ferro não era trabalhado, com exceção dos Esquimós, que o importavam da Sibéria por volta de 1000 d.C.; e nas sociedades construtoras: a liteira como símbolo de status social, cabeças humanas como troféus; o significado ritual dos felinos, como o homem-leopardo ou jaguar e o homem-pássaro e ainda, a serpente aparecendo em diversas manifestações artísticas. 

e) O Novo Mundo é um excelente laboratório de pesquisa para o estudo do homem, tanto antropologicamente, quanto no relacionamento adaptativo dele com o ambiente natural. 

Sob o ponto de vista geográfico, a América é uma área compacta e mais integrada que o Velho Mundo. As barreiras naturais são menos marcadas por todo o continente, facilitando a transponibilidade e as áreas transicionais são menos abruptas, além de ambas as costas fornecerem um habitat excelente para moluscos, peixes e cretáceos, principalmente na costa canadense. 

O continente possui uma “espinha dorsal” hemisférica que percorre o Norte e o Sul, inclusive ela podendo ter propiciado uma canalização dos movimentos migratórios da fauna e do homem. No lado oeste, as cordilheiras são jovens sendo: as Montanhas Rochosas na América do Norte convertendo-se em Sierras Madres no México e América Central, as quais se unem com os Andes da América do Sul. No lado leste, as cordilheiras são mais antigas e mais baixas e suaves seguindo toda a costa atlântica de norte a sul. No centro, tanto para o norte, quanto para o sul do Equador estão gigantescas planícies drenadas por enormes bacias fluviais. A planície costeira do Pacífico, confinada com a cordilheira de montanhas é estreita em toda a sua extensão, desaparecendo em certos trechos. 

É o único trecho do planeta que possui todos os tipos climáticos; isto porque, seccionado ao meio pelo Equador, fornece similaridade de clima e vegetação em ambos os hemisférios, com pequenas variações produzidas pela altitude e pluviosidade, por exemplo. Este ambiente natural influenciou, também, o desenvolvimento cultural do homem pré-histórico. No sentido das adaptações de subsistência, o ameríndio pôde espalhar-se por longa áreas, sem mudanças radicais no seu “modus-vivendi”. Quanto à cultura, o ambiente similar facilitou a interação em algumas regiões, estimulou desenvolvimentos paralelos em outras e somente em poucas, deixou em isolamento. 

Quando as geleiras recuaram pela última vez para o norte, mudanças climáticas e ecológicas alteraram a ordem imposta anteriormente, causando, inclusive, a extinção de várias espécies da fauna, as quais faziam parte da principal dieta dos grupos, modificando os padrões de subsistência, povoamento e tecnologia, ocorrendo assim, uma diversidade variável na cultura americana que obrigou os americanos a inovações adaptativas. 

Embora essas mudanças não tenham ocorrido em todo o continente, persistindo em algumas áreas os antigos modelos de caça e coleta, dois tipos adicionais apareceram como resposta as transformações: a exploração de moluscos ao longo das costas, surgindo a cultura dos sambaquis e a coleta de sementes em regiões áridas. 

2. A chegada do homem nas Américas 

Até os dias atuais as polêmicas sobre a ORIGEM, COMO, POR QUAL ROTA e principalmente QUANDO o homem teria chegado na América, ensejam acirrados debates dentro da comunidade científica. 

Existem várias teorias ou hipóteses, muitas sem nenhuma comprovação e até absurdas; outras sendo seriamente analisadas, como as descobertas de Raimundo Nonato, no Piauí; outras ainda quase derrubadas, a teoria de Clóvis; e outras praticamente aceitas, no caso da rota ter sido pelo Estreito de Bering. 

O fato é que ainda não se chegou a conclusão alguma e as questões expostas acima, revelam-se de ímpar importância, pois, além do reconhecimento internacional do cientista, caso ele chegue as soluções dos problemas levantados, o esclarecimento deles poderão iluminar os estudos das origens e do passado do Novo Mundo, aprofundando a capacidade de compreensão do desenvolvimento cultural humano do presente e do futuro, como também das crescentes crises sociais e ecológicas, não só da América, mas em todo o globo terrestre. 
Diante de tantas probabilidades e em vista da importância, exporemos a seguir as teoria ou hipóteses existentes. 

3. Teorias relacionas à origem 

a) A teoria de Florentino Ameghino, famoso paleontólogo, é que o homem americano teria se desenvolvido na América, calcado em inúmeras descobertas de ossos humanos, nas margens do Rio Frias, próximo a Buenos Aires, Argentina. Além, também, de carvão vegetal em abundância, terra tostada, ossos de animais pré-históricos que ostentavam estrias, sulcos e entalhaduras feitas pela ação humana. Encontrou também, pontas de flechas e facas de pedras, ossos pontiagudos e diversas ferramentas para afiar. Esses achados provariam a coabitação humana com os animais antediluvianos. Essa teoria, atualmente, é amplamente rejeitada, pois até o momento, não foram descobertos fósseis de antropóides superiores no continente, como também, em relação aos ossos humanos encontrados na época da formulação da teoria não se conhecia a técnica de datação pelo carbono-14. 

b) Outra teoria é a de Alis Hardilick ou teoria mongólica – o homem americano migrou para a América há cerca de 15.000 anos, através do Estreito de Bering. Esta teoria é negada por Paul Rivet, quando diz que o homem não é só de origem mongólica, mas oriundo da Polinésia e Austrália, isto é, o ameríndio possui origem múltipla, migrando através da Beríngia, como também das Ilhas do Pacífico, originando todos os povos americanos. Por sua vez, Salvador Canals Frau contesta a teoria de Paul Rivet, quando diz não existir esta passagem e sim ondas sucessivas de imigrações, devido ao fato da Sibéria e Alasca, ainda hoje, ser habitada pelos Esquimós. 

c) Um trabalho científico de dois geneticistas brasileiros, Sérgio Danilo Pena e Fabrício Santos, publicado na Revista Science em março de 1999, confirma o parentesco genético entre tribos de seis países americanos (Brasil, Peru, Argentina, Colômbia, México e Estados Unidos) e um pequeno povoado nas Montanhas Altai, localizado entre a Sibéria, Rússia e Mongólia. Este trabalho foi apresentado como prova irrefutável da origem asiática dos ameríndios, os quais penetraram pelo Estreito de Bering, comprovando a teoria de Alis Hardilick. 

d) Em 1972, o arqueólogo Knut Fladmark, da Universidade Simon Fraser em Vancouver, Canadá, afirmou que os primeiros americanos eram pescadores de embarcações precárias, originários da Polinésia, Ásia ou Austrália, vindos via Oceano Pacífico, através de uma longa cadeia de ilhas hoje desaparecidas. Para sustentar esta teoria, em setembro de 1998, descobriu-se no sul do Peru, dois acampamentos de povos marítimos desconhecidos: Quebrada Jaguay com 11.100 anos e seus moradores comiam mariscos e peixes; e os de Quebrada Tacahuay, mais ao sul de idade datada de 10.700 anos, os quais alimentavam-se de peixes e pássaros marinhos como os cormorões.
A provável face de Luzia. A surpresa são os traços negróides 

e) O arqueólogo Walter Neves da Universidade de São Paulo e seu parceiro de pesquisa, Héctor Pucciarelli formularam uma hipótese, a qual milhares de anos antes da escravidão negra, já poderia haver africanos na América. Baseou-se na análise de detalhes anatômicos de centenas de ossos de índios no Brasil, Chile e Colômbia. As medidas quase sempre coincidem com as de atuais povos do Extremo Oriente. No entanto, os crânios mais antigos, apresentam traços africanos, parecidos com os aborígenes da Austrália. Um deles, o de uma mulher encontrada em Lagoa Santa, Minas Gerais, com 11.500 anos de idade, segundo datação realizada em 1998 é o crânio mais velho das Américas, cognominada de Luzia, que fazia parte do grupo dos “homens de Lagoa Santa”, os quais se alimentavam de mais vegetais, através da coleta, do que da caça. A medição dos ossos de Luzia revelaram um queixo proeminente, um crânio estreito e longo e faces estreitas e curtas. Assim, sugere que, antes da chegada dos ancestrais asiáticos dos ameríndios, houve uma primeira leva de imigrantes que deixou a África há 120.000 anos.
Um grupo teria ido para a Oceania há 40.000 anos e outro grupo teria entrado na América pela Sibéria em data desconhecida. Mais tarde, os asiáticos teriam exterminado os africanos, sobrando só os ossos, devido a disputa pela caça e territórios. Para reforçar essa hipótese, pesquisadores ingleses da Universidade de Manchester fizeram vários exames tomográficos do crânio de Luzia, sendo o resultado desses exames reprocessados por um computador da University College London, Inglaterra, obtendo uma imagem tridimensional e produzindo um crânio idêntico ao encontrado. Esse modelo foi encaminhado ao professor Richard Neave, especialista em reconstituições faciais, da Universidade de Manchester que coincidiram com o modelo negróide defendido pelo arqueólogo brasileiro. Luzia, portanto, seria uma mulher de feições negróides, com nariz largo, olhos arredondados, queixos e lábios salientes, muito diferente dos povos de origem asiática, presentes quando da chegada do homem europeu. Para reforçar ainda mais essa teoria, as configurações cranianas de Luzia foram encontradas em fósseis de mais ou menos 9.000 anos perto da cidade colombiana de Tequendama e na Terra do Fogo, do outro lado do Estreito de Magalhães, territorialmente localizado no fim da América do Sul. Portanto, atualmente, a hipótese de Walter Neves e Héctor Pucciarelli, acrescenta mais uma celeuma na conturbada história do povoamento americano.
A provável face do Homem de Kennewick 

f) Em 1996, nos arredores de Kennewick, no Estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos, foi encontrado, por dois estudantes, um esqueleto de um homem de meia-idade. A análise química revelou que o fóssil data de 9.300 anos e pode ser a prova material da presença nas primeiras levas dos ancestrais americanos oriundos da Europa ou do Oriente Médio. Esta hipótese foi reforçada pelo geneticista Douglas Wallace, da Universidade Emory, Geórgia, Estados Unidos, que detectou em grupos isolados de índios norte-americanos, um tipo de DNA, encontrado na Finlândia, Itália e Israel, mas inexistente no leste da Ásia. A análise genética do fóssil pode resolver a questão, mas encontra-se obstaculizada pela justiça norte-americana, por ser o objeto de um processo, o qual os índios da região reivindicam a posse dos ossos, alegando pertencer a seus ancestrais. 

4. Teorias relacionadas à antigüidade 

Pegada fossilizada de uma criança em Monte Verde, Chile. 
a) Teoria de Clóvis: os primeiros habitantes teriam chegado ao continente há 12.000 anos depois de cruzar a Beríngia. Essa teoria apoia-se nos vestígios do sítio arqueológico de Clóvis ou Folsom, Novo México, Estados Unidos, com 11.200 anos, exatamente o tempo necessário para que os caçadores fizessem a viagem do Alasca até o Novo México – 7.000 km em 800 anos. Essa teoria, atualmente, não se sustenta devido a descoberta de dois novos achados. Em 1976, lenhadores desenterraram presas de um mastodonte em Monte Verde, sul do Chile, onde o arqueólogo Tom Dillehay desde então, vem trabalhando e encontrando um tesouro arqueológico inestimável de um grupo com horizonte cultural paleoíndio, que vai desde ferramentas de pedras até uma pegada de um menino, de 13 cm de comprimento, gravada em argila. Se o grupo de Monte Verde, viveu na região há 12.500 anos, conforme o reconhecimento em março de 1998 da Sociedade Americana de Arqueologia e estava a 15.000 km de Bering, seus antepassados teriam gasto cerca de 15.000 anos para percorrer a distância que separa o Alasca do sul do Chile. Portanto, leva-se a conclusão que o homem penetrou na América, no mínimo, há pelo menos 27.500 anos. Outra descoberta mais recente foi anunciada por arqueólogos do Museu de História Natural de Santa Bárbara, Califórnia, Estados Unidos; John Johnson e Lisa Urone atestaram a existência de dois ossos da coxa de uma mulher batizada de Arlington, encontrada na Califórnia e datada de 13.000 anos. 

b) A Lingüística é uma ciência que auxilia, extremamente, o estudo dos movimentos pré-históricos da população e a lingüista Johanna Nichols, da Universidade de Bekerley, Estados Unidos, identificou 143 troncos lingüísticos entre o Alasca e a Patagônia. Os idiomas são tão diferentes entre si quanto o polonês é do japonês e do árabe. Apoiada neste estudo, ela conclui que para se atingir o atual estado de diversidade das línguas indígenas americanas, mesmo considerando a ocorrência de múltiplas migrações em épocas diferentes, seriam precisos 35.000 anos, haja vista que para duas línguas originárias de um ancestral comum perderem completamente a semelhança, demora cerca de 6.000 anos. 

c) Ainda em relação à antigüidade do ameríndio, há muitas descobertas arqueológicas ainda em discussão quanto a autenticidade e possibilidade, que questionam a entrada no período de 12.000 anos passados. 

A arqueóloga Maria da Conceição Beltrão afirma, após escavações no sertão baiano, Brasil, que entre 20 e 30 milênios atrás, o homem já habitava o lugar, apoiada nos ossos de animais que exibem marcas de ação humana.
Pintura rupestre em Central, Bahia de prováveis calendários pré-históricos
Pintura rupestre em São Raimundo Nonato, Piauí de um veado 
Niéde Guidon em 1971, na serra da Capivara, Piauí anunciou a descoberta de vestígios de carvão de uma suposta fogueira datada de 40.000 anos, sendo assim, os primeiros grupos teriam, há pelo menos 70.000 anos, adentrado a América pelo Estreito de Bering. Essa teoria tem sido pesquisada seriamente pela comunidade científica de arqueologia, recebendo adesões de importantes arqueólogos. 

A existência de um grande número de sítios arqueológicos que contém uma indústria lítica de pré-pontas de projétil, como talhadores pesados de grandes dimensões, raspadores, raspadores-planos, facas e batedores, muitas vezes em notável abundância, por exemplo no Chile, Argentina e Uruguai; em outros como El Jobo e Cumare, Venezuela, os artefatos ocorrem em altos e distantes terraços fluviais; em Farmigton, na Califórnia, eles estão soterrados abaixo de 5 metros de aluvião. No abrigo-sob-rocha de Levi no Texas, eles estão estratigraficamente abaixo das pontas de projétil mais antigas. Restos de animais que faziam parte da dieta, estão associados com estes artefatos em variada áreas. As datações destes sítios chegam a ultrapassar 24.000 anos. Porém, apesar de dois principais fatores atestarem sua credibilidade, como a existência de uma ponte terrestre anterior a 37.000 anos, a qual foi cruzada pelo caribu e mamute peludo e provavelmente o homem os seguiu; e a magnitude de datas procedentes do norte a sul, visto que a expansão geográfica foi muito lenta e a população inicial muito pequena; estes achados não são considerados como feitos pelo homem. Diversas são as razões para o questionamento: pedras rudemente lascadas podem ter sido feitas por ação natural; alegam que em muitos sítios, a datação pelo carbono-14 e os restos culturais não foi correta; a antigüidade do contexto geológico ou os artefatos são intrusivos e de origem mais recente; e, principalmente, a inexistência de fósseis humanos mais antigos, especialmente localizados na região da América do Norte ou até mesmo em outra região qualquer. 
5. Reflexões sobre as teorias apresentadas 
A hipótese de que o homem evoluiu no Velho Mundo e migrou para a América a pé, partindo da Sibéria pelo Estreito de Bering é uma das hipóteses mais prováveis e mais aceitas pela maioria dos cientistas. Para isso ter acontecido é importante explanar algumas considerações: 

a) Teria que existir uma conexão terrestre entre a Sibéria e o Alasca, a Beríngia, ocorrida no Pico Glacial e mantida assim por longo intervalo. Isso acontecia, quando o nível do mar baixava cerca de 200 a 160 metros do nível atual. 

b) Deveria haver, também, um afastamento do lençol de gelo, formando um corredor verde, a qual a vida poderia ser mantida tornando acessível o percurso entre o Nordeste da Sibéria e o Vale Yucon, ao longo da vertente oriental das Montanhas Rochosas Canadenses e Americanas, caso contrário a migração nesta área seria impossível . Durante cerca de 10.000 anos esta passagem ficou interrompida, pois a glaciação atuou como barreira, impedindo novos movimentos migratórios. 

Estas duas condições ocorreram simultaneamente em algumas ocasiões: 

O último Pico Glacial data mais ou menos entre 28.000 e 10.000 anos atrás, quando depois a ponte ficou submersa novamente, fato que perdura até hoje. 

O penúltimo Pico Glacial aconteceu entre cerca de 50.000 a 40.000 anos e foi usada por muitas espécies de grandes mamíferos do Velho Mundo. 

Houve ainda uma passagem anterior mais antiga com cerca de 150.000 anos atrás. Observa-se, neste período, a existência do Homo sapiens neanderthalensis na Ásia. 

Esta possibilidade da entrada do homem na América por motivos glaciais e da origem mongólica, é uma concepção dos cientistas a partir do século XIX, por argumentos dedutivos em vista de a Ásia ser a região mais próxima da América. Um argumento favorável que se apresenta para fortalecer esta hipótese, são as características biológicas do ameríndio, conforme houve inclusive, algumas provas apresentadas no tópico anterior. 

As evidências arqueológicas nos sítios, no entanto, desconhecem traços característicos e especializados de adaptações ao frio nos primeiros imigrantes. Portanto, a hipótese estaria mais próxima do caráter biológico do que arqueológico e, por isso, muitos se afastaram da possibilidade de que o homem seria oriundo da Ásia, levando ao pensamento de teorias distintas e diversificadas. 

Sobre a teoria da origem da Polinésia ou da Austrália, pode-se levantar que tanto os australianos, quanto os polinésios possuem cabelos ondeados ou anelados, características biológicas ausentes na população americana quando da chegada do europeu à América. Porém, avançados estudos genéticos cada vez mais procuram esclarecer estas dúvidas definitivamente 

As teorias quanto à antigüidade são as que mais geram polêmicas. Conquanto haja discordâncias, é unânime a crença de que os primeiros imigrantes eram compostos de pequenos bandos de famílias aparentadas e sobreviviam da caça e da coleta. Os instrumentos para a subsistência não eram especializados e estes, serviam tanto para cortar, raspar e bater. 

No período de 10.000 anos em diante, segundo informações arqueológicas provenientes de sítios por todo o continente, é incontestável um grande contingente populacional e muito bem adaptado as adversidades ambientais. Estes grupos fariam parte do horizonte cultural paleoíndio, com artefatos sem similaridade no Velho Mundo e perfeitamente adaptado a fauna e flora americana. Isto leva a seguinte reflexão: se o homem pré-histórico americano chegou no último Pico Glacial, em pequenos bandos e levando em consideração que as migrações são extremamente lentas, devido ao fato de que para percorrer algumas centenas de quilômetros eles têm que se adaptar e superar inúmeros obstáculos ambientais para sobreviver, levando para isso, em média, cerca de 1.000 anos, e se também, não há horizonte paleoíndio na Ásia, como, em poucos milênios, a cultura de caçadores e coletores especializados se difundiu tão rapidamente por toda a América? Para uma cultura se espalhar rapidamente são necessários receptores que a aceitem e adaptem-na à região habitada e em grandes grupos. Isso não leva a suposição que muito antes de 15.000 anos, os ameríndios já habitavam essas paragens? E que já não haveria uma cultura pré-pontas de projétil? 

Perguntas como essas ainda não foram comprovadamente respondidas. O certo é que há 13.000 anos o homem estava presente na América, com provas irrefutáveis desta afirmação. Porém, como pode-se observar nas teorias e descobertas mais recentes discutidas anteriormente, tudo leva a crer que, muito antes disto houve ondas migratórias distintas e sucessivas, sendo mais provável em torno de quatro. Entretanto, não há evidências materiais e inquestionáveis, como por exemplo, fósseis humanos anteriores a 40.000 anos, o que afirmaria essa presença anterior. Assim, as provas apresentadas continuam a escapar ao reconhecimento e as amostras de carbono-14, favorecendo fortemente a hipótese da entrada do homem ameríndio no último Pico Glacial. 

Pouca consideração recebe os argumentos, que, arqueologicamente, as pesquisas foram mínimas ou que, em muitos lugares mais prováveis a encontrar essas respostas, a urbanização atual destruiu vários sítios ou impossibilita novas escavações; ou ainda, e isso é importante ressaltar, o fato de não ter sido descoberto nada mais comprovador não significa que não existam estas evidências, apenas elas ainda não foram encontradas. 

Enfim, enquanto provas incontestáveis, sob todos os aspectos, não surgirem, os mistérios e as inconclusões continuarão. 
6. Conceitos gerais 
Bandos: pequenos grupos, menos de uma centena de pessoas, que se caracterizam pela exogamia local e são conhecidos por sua limitada concepção de parentesco. São caçadores e coletores que mudam periodicamente de residência, à medida que os recursos naturais são exauridos ou em reação às mudanças climáticas. Eles não possuem líderes formais nem tampouco diferenças na posição político-econômica. A subsistência depende, normalmente, da propriedade comunal. A única diferença determina-se pela idade e pelo sexo. 

Tribos: sociedades maiores que os bandos, multicomunitárias, porém sem exceder alguns milhares de indivíduos. Encontram-se entre os agricultores com povoamento relativo ou completamente sedentário. Quando vivem em aldeias, os habitantes estão mais compactados ou quando estão mais dispersos, a designação é vizinhança. As comunidades individuais estão interligadas em uma sociedade maior, normalmente por descendência ou clãs ou por associações voluntárias. Seus membros estão ligados por laços matrimoniais, parentescos, pactos de paz e/ou participantes da mesma cultura. Em alguns grupos há hierarquias internas de membros. Realizam cerimônias periódicas para renovarem seus laços e vínculos religiosos e políticos. As tribos mais organizadas podem ter uma aldeia sede e uma hierarquia de chefes tribais. Mesmo nestes casos, carece de uma base para a economia e o exercício do poder, haja vista as instituições econômicas das tribos serem muito simples. O comércio pode ser extenso, mas sem habitantes especializados neste setor e em tempo integral. 

Chefias: a partir das chefias surge a hierarquização para integrar as sociedades multicomunitárias. Acredita-se que os membros das chefias descendem de um único ancestral e que a classificação hierárquica se basearia no princípio da primogenitura. A sociedade é baseada no parentesco e a pessoa do chefe é quase sacrossanta, porque desempenha, inclusive, funções sacerdotais; o contato com o chefe é limitado cheio de protocolos e todas as crises de crescimento, casamento e morte são acompanhadas de um complicado ritual público – as regras suntuárias. Todos os membros ocupam uma posição única na escala hierárquica, determinada pelo grau de distância ou proximidade do chefe, resultando nisso uma sociedade estratificada. A base econômica do poder do chefe consiste no papel de redistribuir os bens. A produção das matérias- primas e alimentos, bem como a especialização em produtos artesanais são altamente desenvolvidos.
O chefe utiliza os excedentes entregues para a manutenção de sua corte ou para a distribuição aos seus súditos em caso de fome. Também solicita trabalhos para a manutenção ou construção dos bens públicos, templos ou sua casa ou ainda da sua corte. Devido as obrigações de parentescos as relações são recíprocas, especialmente dos alimentos. O mercado inexiste ou é fracamente desenvolvido e a especialização artesanal em tempo integral está ligada à corte. As chefias são sociedades maiores que as tribos, com milhares de indivíduos e podem incluir aldeias ou vizinhanças inteiras baseadas no parentesco. O que distingue claramente uma tribo de uma chefia é que esta, possui um centro ou capital, onde estão situados os templos, os edifícios administrativos, a residência do chefe, sendo que toda sua linhagem direta residirá na capital, as casas de seus servidores, os artesãos e os sacerdotes. Em caso de guerra, toda a população poderá também residir neste centro, chegando a uma população extraordinariamente grande. As chefias muito pequenas gozam de uma posição desprivilegiada em relação as grandes chefias, cujos chefes são dotados de uma grande força carismática e uma incomum habilidade. 

Estados antigos: regras suntuárias, sistemas de hierarquização e a dicotomia entre o centro e as povoações dependentes e o poder concentrado em um único líder como distribuidor de dádivas e bens gerais baseados na reciprocidade, estão presentes nesta sociedade. A posição do líder, senhor ou rei, é limitada a uma linhagem reinante, de descendência divina. A sociedade não está baseada somente em relações de parentesco, mas também por agricultores ou locatários, embora a propriedade territorial pertença ao rei. As relações entre eles envolvem direitos, obrigações, deveres e privilégios mútuos através de um contrato legal. O rei possui um exército permanente, uma força policial e um sistema judicial, administrando seus bens por uma burocracia de funcionários nomeados. As contribuições são reconhecidas como rendas ou taxas e apesar do rei poder ordenar serviços e coletar excedentes de seus súditos, tais coisas são consideradas obrigações de parentes. Apesar da reciprocidade, o balanço de pagamentos é muito maior para o rei.
Este estabelece leis e também pode exercer funções sacerdotais, embora a maior parte é exercida pelos sacerdotes nos templos. Há uma distinção entre Estados urbanos e não-urbanos. Os Estados urbanos são caracterizados por povoamentos denominados vilas ou cidades, com vastas concentrações residenciais e diferenciações sociais e econômicas maiores que nos Estados não-urbanos; possuem um grande número de especialistas artesanais e artífices sem vinculação real, produzindo bens para uma economia de mercado. Estes Estados, urbanos ou não, só evoluíram graças a ambientes muito especiais, os quais possibilitaram um sistema de lavoura altamente produtiva que foi capaz de sustentar um aumento de população. Os Estados não-urbanos são amplos grupos de residência da realeza, burocratas, sacerdotes, artífices reais e soldados; comparados em função ou estrutura aos centros da chefia, a diferença reside em suas dimensões e complexidade interna. No coração destes centros urbanos ou não, estão os edifícios do governo, os templos e os mercados. Os Estados antigos podiam chegar a muitos milhares de pessoas, cerca de 50 milhões de habitantes, como por exemplo o Império Romano. 

Cacicados (Chefdoms): organizações de várias tribos, com hierarquização sujeita a chefes com poder coercitivo, imposições de tributos ou extrações regulares, sobretudo de aldeias densamente povoadas e fortificadas e elites capazes de mobilizar a força de trabalho para grandes empreendimentos coletivos. A economia é baseada na exploração intensiva de recursos artesanais e de matérias-primas. 

Difusão: processo pelo qual uma inovação cultural se propaga, desde a sua fonte a outras áreas, cujas inovações são aceitas como costumes integrando-se num sistema cultural, pelo fato de terem sido bem adaptadas, outros grupos residentes no mesmo meio social e geográfico acabam por adotá-las também. Normalmente, ocorrem de forma muito rápida, face a proximidade de contato e seu sucesso às necessidades de sobrevivência. 

Caçadores-coletores: refere-se a grupos de indivíduos de caçadores-coletores generalizados, os quais se adaptam de forma flexível às extensões florestadas em ambos os continentes e baseando-se em uma grande variedade de alimentos selvagens, como também de pequena caça; desta forma favorecendo-se por uma dieta balanceada e quantidade segura. 

Caçadores especializados: formados por grupos maiores, os quais baseavam sua subsistência na caça de grandes animais, com horizonte cultural paleoíndio. 

Horizonte pré-pontas de projétil: grupos anteriores a 12000 anos, os quais possuíam artefatos de pedra rusticamente lascados, embora bastante diversificados. Viviam da caça e coleta. 

Horizonte cultural paleoíndio: Período que abrange de 12000 a 8000 anos. Grupos existentes por todo o continente extremamente adaptados ao ambiente. Possuíam artefatos e instrumentos mais caracterizados e que permitiam uma maior eficiência na sobrevivência. 

Pescadores-coletores: grupos que habitavam o litoral e viviam da coleta e pescarias pequenas e ocasionais. Não possuíam artefatos especializados para a pesca. Comiam pouco, mas constantemente.
O Tambor. Sambaqui em Cabo Frio-RJ. Ele tem 4m de altura e 75m na largura maior 


Coletores marinhos (Sambaquis): aparecem por volta de 6000 – 5000 anos a.C. praticamente em toda a costa americana e muito bem sucedidos. São os grupos formadores dos Sambaquis. Eram razoavelmente sedentários e com noção de territorialidade, os quais dominavam uma certa região. Seus instrumentos eram mais especializados, os quais permitiam uma pesca mais produtiva. No período de 4000 a 2000 anos já possuíam arte de pedra polida e também neste momento, começam a desaparecer. Sambaqui, nome tupi, deriva das expressões sambá ou tambá (concha) e qui ou quire (dormir, fazer). Seu significado amplo pode ser traduzido como cemitério. A maioria deles estão situados em ambientes de clima úmido, litorâneos ou margeando os rios. Trata-se de um tipo de colina formada por depósitos de areia, conchas, cascas de ostras e moluscos, além de restos de fogueiras, ossadas humanas e de animais, artefatos de pedras, ossos e dentes. São acampamentos de coletores marinhos, semi-permanentes, os quais produziram, por várias gerações, uma montanha de calcário que podiam alcançar centenas de metros de comprimento e até 40 metros de altura. 

Pontas de projétil: peça diagnóstico da cultura de um caçador especializado paleoíndio.
Ponta Clóvis. As duas faces da ponta e no centro, a ponta vista de lateralmente 

Pontas Lhano ou Clóvis: um dos principais artefatos paleoíndio, caracterizado por uma estria ou canaleta criada pela remoção de uma lasca da superfície mais baixa, em uma ou ambas as faces para poder escorrer o sangue da presa mais facilmente. Na variante Folsom somente os bordos permanecem intactos. O tamanho varia de 7 a 12 cm de comprimento, embora apareça pontas de até 4 cm. Sua largura é de aproximadamente 1/3 a 1/4 do comprimento, produzindo um contorno alongado, paralelo a lados convexos e uma base côncava. Tem variante também em forma de “rabo-de-peixe”. 

Pontas lanceoladas: também do horizonte cultural paleoíndio, porém, elas são menos uniformes e possuem duas variedades típicas: uma delas possui lados paralelos e uma base reta ou um pedúnculo incipiente; a outra é de forma oval, estreita e alongada, adelgaçando-se em ambos os extremos. A variação do tamanho é comparável a Clóvis. 

Período formativo: período em que as civilizações do Novo Mundo, na Mesoamérica e Andes Centrais, alcançaram seu desenvolvimento independentemente ou com um mínimo de comunicação. Durante este período, iniciaram os mais significativos traços, inclusive a manufatura da cerâmica e somente poucas plantas domesticadas passavam de uma a outra região. 

Período de transição: período em que ocorre o recuo das geleiras ao norte, provocando mudanças nas condições ecológicas que acarretaram a extinção de muitas espécies pleistocênicas. Estas transformações refletiram na cultura, criando novas forma de subsistência, de padrão de povoamento e tecnologia. Constata-se também, que foi neste período que o mar subiu ao nível encontrado hoje. 

Arcaico recente: período que abrange os anos de 2000 a 1000 a.C., cujos habitantes situados na área dos Grandes Lagos eram os únicos a manufaturar instrumentos de cobre como também de pedra. O cobre era extraído das minas com o auxílio de um instrumento de pedra e trabalhado por martelagem para a produção de variados artefatos como: lanças encabadas ou pontas de projétil, arpões, enxós, lâminas de machado, facas, formões, espátulas, sovelas, agulhas, anzóis, picões e contas. 

Cultura do deserto: padrão de vida com subsistência mais especializada e enfatizando plantas selvagens. Em algumas regiões, batatas, bolotas e pinhões, sementes de grama, raízes e amoras comestíveis forneciam uma colheita anual abundante, embora os recursos fossem menores e mais dispersos. Apesar da presença abundante de pontas de projétil, a caça não era vista como uma atividade importante, pois os traços típicos deste modo de vida eram os cestos para coleta e moedores para remover cascas duras e pulverizar as sementes em farinha. 

7. O horizonte cultural paleoíndio e sua difusão pelo continente americano 

O horizonte cultural paleoíndio, tendo como peça diagnóstico as "pontas-de-projétil", desenvolveu-se por volta de 12000 a 8000 anos, alcançando todo o continente e inúmeros grupos primitivos. Estes grupos eram formados desde 15 até 100 indivíduos, altamente adaptados ao ambiente e como base de subsistência, principalmente, a caça aos grandes animais, como o mamute, mastodonte e a preguiça-gigante, entre outros; além da coleta generalizada. 

Os grupos desta cultura procuravam como principal nicho adaptativo as luxuriantes pastagens e os vales florestados dos campos norte-americanos, com verões brandos e invernos suaves, e a paisagem entrecortada de riachos, lagos e pântanos. 

Para a grande caça, desenvolveram diversos artefatos, dentre eles as pontas-de-projétil (pontas Clóvis ou lanceoladas) uma arma que associada ao propulsor de dardos, quadruplicava a potência e precisão nos lançamentos, aumentando o alcance e a penetração do dardo, tornando a caça mais eficiente. Os lugares em que isso ocorria são denominados de “sítios de matança”, local onde ossos de mamute, bisão, mastodonte e outros estão misturados com os instrumentos usados para remover as peles e desmembrar as carcaças. 

Essa eficiência permitiu um aumento na densidade populacional, visto que ao matar um grande animal, a carne do mesmo não era totalmente aproveitada e portanto não eram necessárias atitudes para o controle da população, deixando-a se multiplicar naturalmente. 

Outro ponto a ressaltar é a probabilidade destes caçadores terem contribuído para a extinção dos animais já mencionados. 

Nos sítios de acampamento, encontram-se instrumentos de pedra de tipos bem definidos, como batedores, alisadores, rapadores, facas, buris, pontas de projétil e também, sovelas de osso, agulhas e espátulas. 

Esta intensa diversificação é atestada e corroborada no descobrimento de vários sítios arqueológicos que se estende de norte a sul da América, sendo o artefato mais comum as pontas lanceolada. Outra evidência desta cultura são as pinturas rupestres muito bem representadas, indicando um alto grau de desenvolvimento. 

Com este grande sucesso adaptativo a cultura difundiu-se rapidamente em um intervalo de cerca de 2500 anos na maioria dos espaços geográficos do Novo Mundo. Esta difusão implica em uma questão: como um pequeno bando pode povoar uma extensa região em tão pouco tempo, mesmo levando em consideração sua eficiência? Como resposta a esta indagação, pode-se admitir uma cultura anterior – pré-pontas de projétil – a qual explicaria esta rápida difusão. Uma cultura formada por caçadores e coletores de pequenos animais e plantas silvestres, com uma indústria lítica bem rudimentar, porém bastante diversificada, mas rusticamente lascada e, por isso, contestada ao ponto de alegarem ser obra de ação natural, teria habitado o continente anteriormente há 12000 anos. E, por conseguinte, adotado de imediato a cultura paleoíndia. 

Os sítios paleoíndios são mais facilmente reconhecidos do que os do horizonte “pré-pontas de projétil”, em face dos primeiros terem sido submetidos a um menor distúrbio geológico e também de seus instrumentos serem melhor caracterizados. 

Apesar desta intensa e extensa difusão, há locais que o modelo mais antigo de caça e coleta pouco se alterou, provavelmente de habitat onde os grandes mamíferos eram raros ou inexistentes. 

A única região com pouca produção da cultura pré-pontas de projétil ou paleoíndia é a região da Amazônia, devido a dois fatores: a ausência de pedras disponíveis limitou o inventário de artefatos; e os artefatos perecíveis não se conservam em ambiente de clima úmido tropical. Porém, é importante salientar que muito embora exista uma pequena existência destes objetos, isto não descarta a hipótese de que essa área tenha sido evitada pelos antigos grupos de caçadores e coletores. 

8. As alterações climáticas e as mudanças adaptativas da cultura 

A diversidade cultural que ocorreu nas terras do Novo Mundo, deve-se ao fato de que as variedades climáticas e ambientais obrigaram os grupos a adotarem comportamentos culturais de acordo com às regiões as quais estavam inseridos. 

No universo cultural dos caçadores e coletores o ambiente determinou algumas variações adaptativas quanto aos instrumentos e alimentos. A necessidade de utilização de instrumentos para a caça levou-os a utilizarem a madeira e o marfim na fabricação de armas. Para a coleta de vegetais, como ainda não tinham o conhecimento do metal, utilizavam peles de animais na fabricação de seus recipientes. 

As peças de cerâmica não estavam em evidência, visto que sendo de natureza frágil não suportavam as constantes andanças. 

O que tornava um grupo diferente do outro era o meio natural e os recursos ambientais presentes, pois os instrumentos tanto de caça como de coleta dependiam do material que estivesse mais acessível. Por conseguinte, a qualidade e a quantidade de vestimentas, a existência ou não de habitações mais duradouras e o tempo de permanência dos grupos, variavam de acordo com o meio. 

Do grupo de caçadores do Ártico foi exigido uma capacidade de adaptação ao frio e técnicas específicas para a obtenção de alimento. Os esquimós agasalhavam-se com as peles e as habitações fixas, sólidas e com uma estrutura interna bem elaborada, protegendo-os do frio e das grandes tempestades de neve. Para a locomoção, os barcos feitos com pele eram utilizados em tempo de verão e trenós puxados por cães nos períodos de inverno. A alimentação era baseada em mamíferos marinhos pescados com arpões de ossos ou marfim. 

Os caçadores das florestas do norte eram bandos concentrados na região do Canadá e estavam adaptados à floresta boreal de concentração populacional baixa e dieta alimentar pobre. A tecnologia de subsistência assemelhava-se aos dos esquimós. A caça era a base de subsistência e sua técnicas consistiam em armadilhas e a tocaia auxiliada por arcos e flechas. A pedra polida e a pedra lascada eram usadas como instrumentos cortantes. Na divisão social os bandos dividiam-se em dois grupos, uns caçando no interior das florestas e outros migrando para a tundra guiados por um chefe nas operações de caça. 

Os coletores de alimentos do oeste abrangiam parte do ocidente dos Estados Unidos (Califórnia, altiplano, Grande Bacia e Sudoeste). Nessa área, a sobrevivência calcava-se na alimentação de plantas nativas e sementes. O comportamento cultural caracterizava-se pela quantidade alimentar existente no meio. Por exemplo, no centro da Califórnia, a existência abundante de sementes, bolotas e gramíneas permitiu a sedentarização, estabeleceu um sistema social que envolvia os indivíduos em uma maior fraternidade. Por outro lado, onde os alimentos eram mais escassos, os bandos passaram a adotar mais o nomadismo, a fim de buscar lugares que oferecessem suprimentos alimentares suficientes a sobrevivência. 

No geral, os grupos coletores usavam a pedra lascada e polida e artefatos de pedra mó para amassar e triturar as sementes, armazenando-as para períodos posteriores. 

Os coletores chilenos de mariscos habitavam um ambiente relativamente pobre em recursos naturais e a quantidade de suprimentos (os mariscos) variavam constantemente. Os bandos eram de pequeno porte e nômades. 

Os caçadores pampianos e patagônios viviam em constantes migrações e eram formados por uma quantidade de pessoas que variavam entre 40 a 120. Caçavam guanaco e a ema com auxílio do arco e da flecha e ainda boleadeiras. Usavam como instrumento cortante a pedra lascada e suas roupas, recipientes e abrigos eram fabricados com pele destes animais. 

O grupo de caçadores e coletores da savana tropical, também chamados de agricultores incipientes, eram aqueles que viviam na região do Grande Chaco. Os recursos em pouca quantidade (com exceção do Grande Chaco) tornou esse grupo ocupante de áreas próximas às ribeiras, porém de breve duração, chegando a dispersar para os campos quando aconteciam os períodos de chuvas. Ao se tornarem cultivadores incipientes, eles incorporaram a agricultura em sua cultura, mas sem alterar seu modo de vida. Sua dieta incluía mariscos, moluscos e peixes, muito embora não dominassem a indústria náutica e não utilizassem os rios como sistema de transporte. 

Nas regiões dos Andes Centrais e Mesoamérica, o clima, o relevo e os aspectos biológicos proporcionaram a transformação de bandos coletores e caçadores (nômades) em povos sedentários. Isso só aconteceu devido às condições pouco favoráveis, as quais levaram-nos a desenvolver técnicas agrícolas mais elaboradas como a irrigação, o terraceamento e as curvas de níveis. Os abrigos eram mais duradouros, as ferramentas melhores trabalhadas e que serviram como primeiro passo no surgimento de civilizações urbanizadas e mais desenvolvidas culturalmente. 

Em contrapartida, os bandos que permaneceram em condições nômades continuaram a subsistir na base da coleta e caça selvagens, sem o desenvolvimento de instrumentos mais trabalhados para essas práticas. Isso implicou numa cultura pouco desenvolvida tecnologicamente e na distinção mais acentuada em relação ao grupo anteriormente explanado. 

Portanto, as variações climáticas e ambientais são fatores que não podem ser esquecidos quando se falar em diversidade cultural. Isso porque a sobrevivência em uma determinada região tem estreita ligação com a pré-disposição do indivíduo adaptar-se às condições oferecidas pelo meio. 

9. A agricultura e suas conseqüências culturais 

A agricultura passou a fazer parte do habitante americano de forma bastante incipiente a partir das alterações climáticas ocorridas, quando as geleiras recuaram pela última vez, entre cerca de 8000 a 5000 anos. 

Por esta época, a caça dos grandes animais passou a tornar-se cada vez mais rara. Como não existiam animais domesticados que pudessem garantir a sobrevivência grupal, foi necessário reagir ao ambiente surgindo novas formas de subsistência, de padrões de povoamento e de tecnologia. 

Com a substituição das florestas em lugar dos campos e as regiões melhor drenadas tornando-se cada vez mais áridas, o homem aprendeu, pela observância direta da natureza, a selecionar a coleta e propiciar uma melhor produtividade, através da domesticação das plantas, fazendo delas a fonte principal de alimentos. Este processo levou milhares de anos, estabelecendo-se como agricultura propriamente dita, a partir de cerca de 2000 a.C. 

A maior parte dos cultivos do Novo Mundo são diferentes dos originários do Velho Mundo. Ainda não se sabe se a domesticação foi o resultado independente de um seqüência de incidentes ou se foi difundida de um único centro mundial, adaptada às condições ambientais. 

A flora americana possui uma enorme diversidade. Alimentos como o milho, feijão, batata, abacates, amendoins, abóboras, batata-doce, castanhas, mandiocas, tomates, pimentões, chocolate e também plantas como a borracha, o fumo, quinina e coca são exclusivas da América e que fazem parte, atualmente, da dieta universal. 

Inicialmente, os grupos primitivos limpavam os terrenos ao redor da planta selecionada, evitando que ervas daninhas prejudicassem a produtividade. Aos poucos foi se p ercebendo a importância da irrigação e de outras técnicas agrícolas, como o terraceamento e as curvas de nível. Posteriormente, a planta selvagem já não mais sobrevivia sem a interferência humana, tornando-se assim o princípio da agricultura. 

Nessa época, os bandos eram semi-nômades e, somente aos poucos, foi se sedentarizando conforme os avanços iam progredindo a fim de estabelecer um aumento na produtividade das plantas, tornando-a capaz de ser fonte alimentícia segura e eficiente para a sobrevivência. 

A cultura material se modificou para adaptar-se a essa nova atividade. Foram desenvolvidos cestas para a conservação dos alimentos, moedores, lâminas de machado entalhados, almofarizes e mãos de pilão entre outros. 

Devido ao longo período de domesticação, os efeitos dessa nova fonte alimentar no tamanho da população e a organização sociopolítica foram brandos. Acredita-se que a partir da irrigação esta cultura atingiu uma significativa expansão. 

A agricultura intensiva na Mesoamérica e na área Andina, necessitou de séculos para desenvolver-se e o cultivo incipiente nos planaltos mexicanos surge no período de 7000 a 4000 anos a.C. e, segundo alguns especialistas, o aspecto fundamental foi a grande quantidade de terras não cultiváveis, bem como a pressão populacional sobre os recursos agrícolas finitos. Quanto a área Andina, há dúvidas se os passos iniciais se desenvolveram independentemente dos verificados na Mesoamérica ou se foram estimulados pelo contato com estes. 

A origem do milho, que se tornou o alimento básico do Novo Mundo, tem sido discutida há muito tempo. A informação mais completa vem do Vale de Teotihuacán, iniciando por volta de 5000 anos a.C. Um grande número de variedades foram produzidas, diferindo não apenas em tamanhos, cor e propriedades de subsistência, mas também em viabilidade sob diversas condições de umidade, solo e duração de crescimento. O feijão surge, primeiramente nos Andes, e a associação dele com o milho, propiciou uma das conquistas mais importantes ao crescimento populacional e desenvolvimento cultural, devido às circunstâncias bioquímicas. O milho possui um alto valor protéico e energético, mas é deficiente em lisina, uma substância essencial ao Homo sapiens para realizar um eficiente metabolismo das proteínas. O feijão é rico em lisina, suprindo essa deficiência. 

A mandioca é tida como raiz cultivável em solos pobres, ocasionadas pelas chuvas fortes e constantes. Ela surge nas terras baixas tropicais úmidas da América Central e Sul, onde o feijão e o milho eram menos produtivos. Ela é particularmente interessante, porque as espécies diferem em relação ao acúmulo de ácido hidrociânico concentrado nos tubérculos. 

O algodão e a corcubitácea são os vestígios de domesticação de plantas mais antigas, embora não sejam comestíveis. 

Enfim, vale salientar que o desenvolvimento tecnológico da agricultura através da irrigação, terraceamento, rotação de cultura e curvas de nível, está diretamente relacionado à urbanização e a transformação das sociedades construtoras. 
10. Ritos agrícolas 
As mudanças ocasionadas no Período Transicional, implicaram em transformações na dieta alimentar dos grupos primitivos do Novo Mundo. A agricultura incipiente começou a fazer parte do processo comportamental, interferindo no tamanho da população e na organização social e política, mesmo que de forma pouco acentuada. 

A agricultura, como um processo tecnológico, foi internalizada a partir de um longo aprendizado e mesmo sendo uma fonte segura na obtenção de alimentos, ela é suscetível aos fenômenos climatológicos, às pragas e outros fatores. Em conseqüência disso, os ritos religiosos existentes anteriores a agricultura foram sendo adaptados de acordo com as necessidades agrícolas. Exemplo claro pode ser percebido em regiões de baixa pluviosidade, onde os ritos agrícolas foram adotados no sentido de obtenção de chuvas e melhoria de produtividade. Esses cultos relacionavam-se com os ancestrais, vistos como seres fazedores de chuva e produtividade.